O segundo colapso de Manaus na pandemia da covid-19

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Cidade duramente afetada pela pandemia do novo coronavírus entre março e junho de 2020, quando corpos chegaram a ser enterrados em valas coletivas, Manaus volta a enfrentar em 2021 uma nova onda de casos e mortes pela covid-19 que tem levado os sistemas hospitalar e funerário da cidade novamente ao colapso.

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A situação é dramática também em outras cidades do Amazonas — municípios como Iranduba e Parintins decretaram lockdowns e toque de recolher.

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O número de internações pela doença aumentou tanto no estado que os hospitais de Manaus sofrem inclusive com falta de oxigênio para os pacientes. Câmaras frigoríficas voltaram a ser usadas na capital para armazenar corpos nos hospitais.

O recrudescimento da doença acontece após o período de festas de final de ano. No final de dezembro, o governador Wilson Lima (PSC) anunciou o fechamento do comércio não essencial por 15 dias. Centenas de pessoas foram às ruas para protestar contra a decisão. No dia seguinte, em 27 de dezembro, o governador recuou e liberou o funcionamento das lojas.

“Hoje nós estamos pagando o preço de muitos eventos clandestinos, de aglomerações e festas de fim de ano”, afirmou o governador, na segunda-feira (11). Segundo ele, com a segunda onda, “as pessoas estão começando a entender a gravidade da pandemia”.

A explosão de casos e mortes é apontada também pela Secretaria Municipal de Saúde de Manaus como consequência da falta de adoção de regras mais rígidas de distanciamento social na cidade.

“Infelizmente, o relaxamento das medidas de biossegurança, o processo eleitoral e as festas de fim de ano criaram esse cenário”, afirmou a secretária de Saúde de Manaus, Shadia Fraxe, ao jornal O Globo, em 6 de janeiro. Sua posição é corroborada pelo secretário estadual de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, para quem a população relaxou e voltou a se aglomerar em bares e praias.

As atividades não essenciais só foram suspensas por decreto do governo estadual em 4 de janeiro, após decisão da Justiça. A medida é válida por um período de 15 dias. Devido à gravidade da situação, o governador Wilson Lima prorrogou na quinta-feira (7) o estado de calamidade pública no Amazonas por mais seis meses. Ele também anunciou a reabertura de um hospital de campanha, sem citar data.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, visitou Manaus na segunda-feira (11) para anunciar ajuda ao estado. Ele ouviu um pedido do governador para priorizar o Amazonas na vacinação, mas disse que todos os estados vão receber o imunizante ao mesmo tempo.

Para evitar cenas como as do início da pandemia, com enterros em covas coletivas, a Prefeitura de Manaus anunciou a intenção de construir 22 mil lóculos, estruturas verticais conhecidas como gavetas, no cemitério Parque Tarumã, o maior cemitério público da capital.

O Ministério da Saúde anunciou recursos para a contratação de mais de 1.400 profissionais de saúde para reforçar o atendimento. Também foi criada uma força-tarefa para garantir mais oxigênio para os hospitais. Houve ainda a abertura de ao menos dez leitos de UTI e 118 leitos clínicos no Hospital Universitário Getúlio Vargas, da Universidade Federal do Amazonas.

“A vacina vai começar no Dia D, na Hora H no Brasil (…) No primeiro dia que chegar a vacina, com a autorização feita da Anvisa, a partir do terceiro dia ou quarto dia estará nos estados e municípios, para iniciar a vacinação do Brasil. A prioridade está dada, é o Brasil todo”

Novas internações

Nos nove primeiros dias de 2021, Manaus registrou mais internações por covid-19 do que em todo o mês de dezembro. Até sábado (9) — quando registrou o recorde de novas internações num único dia (235) desde o início da pandemia — foram 1.524 novas hospitalizações. O valor supera o número de dezembro: 1.371.

Recorde de sepultamentos

No domingo (10), 144 pessoas foram sepultadas nos cemitérios públicos e privados de Manaus, das quais 62 morreram em decorrência da covid-19. É o maior número de enterros na cidade desde o início da pandemia e o quinto dia consecutivo com mais de 100 sepultamentos. Até então, a maior marca era a de 140 em 26 de abril, durante a primeira onda da doença na capital. Do início de dezembro ao início de janeiro, o número de enterros cresceu 193%. Como comparação, apenas 31 sepultamentos foram realizados em 6 de janeiro em Manaus.

Fila de espera em UTIs

Com os hospitais lotados, há fila de espera para vagas de internação. Na segunda-feira (11), 362 pacientes aguardavam por um leito — desses, 46 estavam em situação grave e precisavam ser transferidos para UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), mas não havia vagas. Há registros de pacientes sendo atendidos no chão dos hospitais e de familiares se mobilizando para alugar respiradores devido à falta do equipamento.

O debate sobre a imunidade

O caso de Manaus já havia levado pesquisadores a considerar a hipótese de que a cidade havia atingido a imunidade de rebanho, situação em que o vírus começa a ter dificuldade de ser transmitido porque a maioria das pessoas já se infectou anteriormente e criou proteção natural contra a doença. Isso explicaria a primeira explosão de covid-19 no estado, seguida de uma queda nos casos e mortes.

O pico da pandemia em Manaus ocorreu entre maio e junho. Na época, era registrada uma média (em relação aos sete dias anteriores) de cerca de 650 novos casos por dia. Em julho, esse número já havia caído pela metade.

Amparados por um estudo publicado na revista Science em junho, especialistas cogitaram, na época, que a imunidade de rebanho poderia ser adquirida caso algo entre 20% e 40% da população já tivesse se contaminado. Em junho, estimava-se que cerca de 46% dos moradores da cidade haviam sido infectados — o que seria suficiente para frear a doença.

Mas o que se viu foi que o vírus continuou — e ainda continua — circulando. Em outubro e novembro, o número de casos voltou a subir, e uma nova onda surgiu a partir de dezembro.

Pesquisadores brasileiros publicaram em 8 de dezembro, também na Science, um estudo estimando que 76% dos habitantes de Manaus haviam sido infectados pelo novo coronavírus entre março e outubro. Até então, cientistas consideravam que a imunidade de rebanho poderia ser alcançada com algo entre 60% e 70% de infectados na população.

Para os autores da pesquisa sobre Manaus, porém, esse efeito só ocorreria se mais de 90% das pessoas ficassem doentes. Isso significaria muito mais mortes e pessoas com sequelas.

Há pesquisadores que consideram o número de 76% superestimado e que metade da população ainda não deve ter se infectado. A nova onda estaria ocorrendo, principalmente, entre pessoas com renda mais elevada que, durante a primeira onda, haviam conseguido se manter protegidas, em casa.

Outros pesquisadores cogitam que esteja havendo casos de reinfecção: como a imunidade de quem já ficou doente dura de quatro a seis meses apenas, as pessoas poderiam pegar a doença novamente. Casos de reinfecção, porém, são de difícil confirmação.

O que se sabe sobre o vírus?

O QUE É A COVID-19?

A covid-19 é uma doença infecciosa causada por um novo vírus da família dos coronavírus. Essa nova doença tem origem ainda incerta, mas o mais provável é que o vírus tenha vindo de animais vendidos no mercado central de Wuhan, metrópole chinesa onde o agente infeccioso foi descoberto, em dezembro de 2019.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS?

Além dos sintomas típicos da gripe – como febre, tosse, dor muscular e cansaço –, o coronavírus pode afetar o sistema respiratório da vítima, causando pneumonia e podendo matar. Alguns pacientes relatam perda de olfato e paladar. As pessoas mais suscetíveis às consequências graves do vírus são idosos e pessoas com condições pré-existentes.

COMO É A TRANSMISSÃO?

O novo coronavírus é transmitido pelo contato com secreções de pessoas contaminadas: gotículas de saliva expelidas na fala, espirro, tosse, ou com o aperto de mão ou toque em locais contaminados seguidos de contato com boca, nariz e olhos. Em julho de 2020, a Organização Mundial de Saúde reconheceu que o contágio também pode ocorrer por meio de aerossóis, partículas que podem ficar suspensas no ar por longos períodos de tempo.

COMO É POSSÍVEL SE PREVENIR?

Para reduzir os riscos de contágio e de transmissão, o Ministério da Saúde recomenda medidas como evitar contato próximo com doentes, cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir, evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca e manter os ambientes bem ventilados. Lavar frequente e adequadamente as mãos é uma das principais recomendações, uma vez que expor o vírus ao sabão o destrói com eficácia. Devido ao avanço da pandemia, governos e especialistas têm recomendado (e, em alguns países, imposto) a adoção do distanciamento social, um esforço coletivo em reduzir o contato entre as pessoas para conter a transmissão dos vírus, e o uso de máscaras e protetores faciais. Aglomerações e reuniões em lugares fechados devem ser evitadas.

EXISTE TRATAMENTO?

Até 31 de dezembro de 2020, não existia um tratamento específico para o vírus. A recomendação é que as pessoas infectadas fiquem isoladas por 14 dias, em repouso e se hidratando, e que permaneçam em observação. Elas podem usar analgésicos, sob orientação médica, para aliviar os sintomas. Também podem monitorar a oxigenação do sangue por meio de oxímetros vendidos em farmácias — se o nível estiver abaixo de 96%, devem procurar serviço médico. Além disso, é recomendável que todas as pessoas com quem o infectado entrou em contato nas duas semanas anteriores ao diagnóstico façam quarentena. O único medicamento que comprovadamente reduz a mortalidade pela covid-19 é o corticóide dexametasona, usado apenas em pacientes em estado grave que estão recebendo ventilação mecânica. Em dezembro de 2020, as primeiras vacinas contra a covid-19 concluíram seus testes. Até 31 de dezembro de 2020, mais de 40 países haviam começado a imunizar parcelas da população.

QUAL A LETALIDADE DO VÍRUS?

A letalidade da covid-19 está estimada em torno de 3% e 4%. Essa estimativa é baseada apenas em casos confirmados da doença, ainda que somente uma pequena parte da população seja submetida a testes para detectar o vírus, e que haja uma fração dos infectados que não apresentam sintomas e, por isso, tendem a não buscar a testagem. A taxa estimada para a covid-19 representa um nível menor de letalidade do que a de outras doenças, como, por exemplo, a Sars (síndrome respiratória aguda grave, que se alastrou entre os anos 2002 e 2004). No entanto, causa grande preocupação a rapidez da transmissão do novo tipo de coronavírus e a alta letalidade dele em pessoas do chamado “grupo de risco”, acima dos 60 anos e/ou com condições respiratórias, cardiovasculares ou imunológicas pré-existentes.

Fonte: Nexo Jornal

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