Onde está você no jogo da inovação no varejo farmacêutico?


Tive nos últimos meses o privilégio de refletir sobre o verdadeiro lugar da inovação no varejo farmacêutico, a partir de momentos profundamente marcantes que vivi nesse período. E o que mais questiono é o quanto estamos preparados para as transformações que já estão em curso.
Participei de uma capacitação com especialistas em tendências emergentes e inteligência artificial, e também de uma imersão na China – onde a inovação não é promessa futura, mas uma realidade presente em todas as esferas do cotidiano. Ambas as experiências, embora completamente distintas, apontaram para o mesmo caminho. O mundo está mudando em uma velocidade exponencial e quem não estiver pronto para agir ficará para trás.
Durante o treinamento, uma provocação despertou mais minha atenção. “E se…?” “E se o concorrente do futuro não for uma farmácia, mas um aplicativo que assegura a entrega em minutos? E se o consumidor mudar sua conduta da noite para o dia, deixando de recorrer ao atendimento presencial? E se a automação e a IA substituírem boa parte do contato humano na abordagem ao paciente e na prescrição?
Esses questionamentos não foram lançados ao acaso. Foram pensados para nos tirar da zona de conforto, nos forçar a olhar para frente e entender que o futuro já está sendo construído com ou sem a nossa participação. E o mais surpreendente é que nós, da Febrafar, temos respondido a essas perguntas.
Essas respostas, é claro, não são definitivas. Mas temos clareza dos caminhos, estruturas em construção e ferramentas em desenvolvimento. Isso já nos coloca à frente.
A China já respira inovação no varejo farmacêutico
A viagem à China foi transformadora e escancarou o poder da inovação no varejo farmacêutico. Constatamos como a tecnologia está plenamente integrada à rotina de uma população de 1,5 bilhão de pessoas. Comprar alimentos, buscar atendimento médico, receber medicamentos em casa, participar de lives de vendas, se submeter a consultas por inteligência artificial e interagir com robôs já estão incorporados ao dia a dia do consumidor local.
Mais do que a tecnologia em si, o que mais me impressionou foi o modelo mental. A inovação é aceita com naturalidade. Há uma disposição em adotar novas soluções, sem o apego ao que é tradicional. Esse ambiente possibilita que as mudanças aconteçam de forma acelerada e irreversível.
Ondas de transformação
Essas transformações não estão restritas à China e funcionam como ondas, que começam em regiões específicas, se multiplicam e atravessam fronteiras. Não se discute “se elas acontecerão”. É preciso apenas saber “quando chegarão”.
E quando a inovação desembarcar de vez no Brasil, o setor que não estiver preparado será engolido. A farmácia que não estiver atualizada, digitalizada e conectada com as novas demandas do consumidor perderá espaço. E isso vale especialmente para o PDV independente, que já enfrenta uma competição feroz com grandes redes e plataformas digitais.
Estamos no pódio. E você?
Durante o treinamento, foi utilizada uma metáfora muito simbólica. “Se a inovação fosse uma corrida, onde você estaria?” Na minha visão, a Febrafar não está no ponto zero. Estamos no pódio não porque temos todas as soluções, mas por já termos iniciado essa jornada de modo estruturado e consistente.
Nossas redes associadas estão passando por capacitações periódicas, nossos sistemas vêm sendo aprimorados e as estratégias de digitalização e uso dos dados estão em pleno desenvolvimento. O apoio à inovação não é mais discurso. É prática.
Entretanto, é importante reconhecer que nem todos no varejo estão nesse mesmo patamar. Há farmácias que ainda estão presas ao modelo analógico, que não investem em tecnologia e não acompanham o novo perfil de consumo. Essas, infelizmente, ainda estão nos primeiros metros da corrida e correm risco real de não chegar à linha de chegada.
Não basta reagir. É hora de agir
Para a farmácia independente, o desafio está posto. A alternativa está entre se limitar a reagir ás mudanças ou se preparar para o novo com postura proativa? As oportunidades estão aí. A tecnologia está acessível. O conhecimento está disponível, assim como o apoio da Febrafar e de outras instituições sérias. Mas é preciso abrir a mente, desafiar os modelos atuais, testar novas abordagens, aprender rápido e estar disposto a evoluir sempre.
Estamos vivendo uma transformação de época. Uma era em que a interação entre homem e máquina se intensifica, os dados se tornam ativos estratégicos, e a velocidade de adaptação define os vencedores.
Como sempre digo: “O importante não é saber exatamente o que vai acontecer. É estar preparado para qualquer situação que possa ocorrer”.
Essa é a mentalidade que precisamos cultivar. Não se trata de prever o futuro com precisão, mas de construir competências, estruturas e uma cultura de inovação que nos permita navegar com segurança pelas incertezas.
A corrida já começou e tenho convicção de que estamos bem posicionados. Mas o jogo está longe de terminar. Ainda há muitas voltas pela frente. Quem vai cruzar a linha de chegada não necessariamente começou mais rápido, mas certamente se adaptou melhor ao percurso.