Os mundos paralelos no varejo farmacêutico
Em meio à concorrência acirrada, muitas farmácias estão operando
com sérias dificuldades financeiras e tentando se reinventar
por Ana Claudia Nagao em


O varejo farmacêutico vive momentos de concorrência acirrada, com gestores operando sob sérias dificuldades financeiras, tentando se reinventar e fazendo malabarismos para sair do sufoco e honrar os compromissos.
“O fato é que passamos algumas décadas discutindo o segredo do crescimento das grandes redes, como se o market share fosse o único indicador importante para o crescimento dos negócios”, avalia Gilson Coelho, especialista em educação corporativa para o setor. Segundo ele, a participação de mercado é um dado relevante, mas deve-se tomar muito cuidado para não cometer injustiças, principalmente com as empresas menores.
Varejo farmacêutico: grandes no divã e os pequenos na batalha
Segundo Coelho, pouco se fala do crescimento das grandes redes e da conquista de market share por meio de fusões e aquisições e expansão de lojas com recursos de investidores. “O que é muito comum no mercado são as críticas às empresas menores, por serem desatualizadas, por não estarem em dia com a tecnologia e com as modernas ferramentas de gestão”, ressalta.
Na prática, as empresas menores não apenas precisam, mas já aprenderam a lidar com a adversidade e com a escassez de recursos, tendo que abrir lojas com capital próprio. “É nesse cenário desafiador que eu vejo resiliência, a constante batalha de quem já está acostumado a superar dificuldades, matando um leão por dia”, avalia o consultor. “Mas de uma questão ninguém pode discordar. O momento atual é preocupante porque a situação se agravou para empresas de todos os tamanhos”, acrescenta.
Nos Estados Unidos, a Walgreens perdeu bilhões em valor de mercado e anunciou o fechamento de centenas de lojas. A Rite Aid, outra gigante norte-americana, entrou com pedido de falência em 2023. Ao redor do mundo, grandes redes farmacêuticas enfrentam desafios semelhantes, com queda nas margens operacionais, mix amplo mas pouco explorado, retração nas vendas e estruturas que não se adaptam com a agilidade exigida pelo novo consumidor. Sempre que as condições de mercado são desfavoráveis, o caos se manifesta.
A fortaleza dos improváveis
Muitas farmácias independentes e pequenas redes detêm estruturas mais enxutas,comagilidade operacional e potencial de resultados com consistência e simplicidade estratégica. “Esse resultado acontece quando a loja é administrada como uma unidade de negócio, que faz uso da tecnologia necessária e que domina os fundamentos do setor”, afirma Coelho.
Segundo ele, esse nicho de farmácias está mais próximo do mundo real. “Elas precisam garimpar cada centavo faturado, se esforçar para entender e atender às necessidades dos consumidores, enfrentar as gigantes e, ao mesmo tempo, se reinventar para continuar com as portas abertas”, acrescenta.
Quando bem orientadas, essas farmácias ajustam o rumo com agilidade, domínio do negócio e eficiência operacional. “Os gestores têm liberdade para decidir e implementar melhorias sem passar por comitês, acionistas ou estruturas burocráticas”, finaliza.