A primeira osteointegração em paciente amputado no Brasil foi realizada na quinta (7), no Recife. Na cirurgia, é realizada a integração de um implante metálico feito de titânio ao osso da pessoa para que, depois, seja possível, ela receber a prótese externa.
Um dos responsáveis pelo procedimento foi o médico ortopedista e oncologista Marcelo Souza, que atua no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) e contou com apoio do médico holandês Hendrik Van de Meent, especialista neste tipo de cirurgia.
O g1 reuniu algumas perguntas sobre o tema:
Por que procurar alternativa à prótese convencional?
O que é a osteointegração?
Quem pode receber o implante?
Como é o processo de adaptação?
O procedimento já pode ser realizado em grande escala?
Por que procurar alternativa à prótese convencional?
Quando uma pessoa passa por uma amputação na perna, coxa ou braço, ela precisa receber uma exoprótese, ou seja, uma prótese externa que se encaixa sobre o restante do membro ou do ‘coto’, como é mais conhecido.
‘Como essas partes móveis não foram feitas para suportar este tipo de carga, desencadeiam-se uma série de problemas. Estatisticamente, 40% de toda a população mundial amputada não consegue se adaptar a essa prótese convencional’, explicou Souza.
Além do Brasil, o procedimento é realizado em cerca de 13 países do mundo, como Suécia, Alemanha, Austrália, Holanda, Estados Unidos e Inglaterra.
O que é a osteointegração?
O conceito de osteointegração começou na odontologia, com os implantes dentários. O médico Rickard Branemark aproveitou e aplicou na ortopedia em pacientes amputados.
Com a experiência de observar a dificuldade de adaptação a próteses convencionais, o médico utilizou de procedimentos que já são realizados em outros países para desenvolver o implante. Uma das características inéditas do implante é a dispensa de um encaixe sobre o membro.
“O implante de osteointegração é realizado dentro do osso ou do que sobrou dele, fixando-se biologicamente a uma parte exteriorizada. […] Um engate rápido se fixa na parte exteriorizada do implante e a pessoa consegue sair andando ou mexendo o braço”, explica Marcelo Souza.
Quem pode receber o implante?
Segundo o Souza, pacientes amputados por causa de tumores ósseos e por trauma, como acidente de moto, de carro, podem receber o implante. “Até se for um paciente diabético, mas controlado e não tiver grandes complicações” afirmou.
Como é o processo de adaptação?
Após se recuperar da cirurgia, é preciso passar por um processo de fisioterapia e reabilitação. A primeira paciente do país, Maria Leidjane Pereira da Silva, ainda vai levar um tempo até que consiga caminhar sem precisar de muletas.
“Tudo na vida tem uma curva de adaptação, de reabilitação, uma curva de aprendizagem. Maria Leidjane agora vai ter assistência fisioterápica do nosso parceiro, Dr. Tiago Bessa, fisioterapeuta e protesista, vai dar o segmento ao processo de adaptação e nós como cirurgiões vamos dar o acompanhamento”, disse o cirurgião.
O procedimento já pode ser realizado em grande escala?
De acordo com o médico, “teoricamente sim”. O implante que é feito na Holanda custa 20 mil euros. O modelo nacional foi idealizado por Souza junto com o protesista Tiago Bessa, responsável pela reabilitação e protetização.
Os dois conseguiram o apoio da empresa de próteses ortopédicas Impol e , após quatro anos de tramitação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o implante foi aprovado no fim de 2021.
Apesar de garantir que é mais barato que o modelo internacional, o médico não revelou o valor. Além da produção nacional, os especialistas ainda vão precisar passar por capacitação para começar a realizar o procedimento.
“Nós vamos formar centros de osteointegração pelo Brasil afora, treinar os colegas e a coisa vai começar, com tecnologia puramente nacional, somando experiência obtida lá fora”, declarou Souza.
Fonte: G1.Globo