Receituário patrocinado tem prescrições já impressas
por Ana Claudia Nagao em
Circula pelo município de Taquara, no Vale do Paranhana, um receituário impresso e patrocinado com medicamentos usados no chamado “tratamento precoce” da covid-19. No papel, consta a prescrição de sete remédios com a recomendação de dia a ser tomado a partir do sintoma da doença causada pelo coronavírus. Entre eles, estão a hidroxicloroquina e a ivermectina, que não têm eficácia comprovada, segundo especialistas, e podem oferecer riscos de efeitos colaterais.
O receituário é creditado a um conselho local de médicos e apresenta o apoio de uma loja de construções, a FH Comassetto, e de um consultório odontológico, o Born & Volkart. As duas empresas disseram a GZH que doaram valores para uma campanha de conscientização da covid-19 e não tinham conhecimento de que seria confeccionado um receituário.
A receita virou alvo de investigação pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers). Para Marcelo D?avila, coordenador das delegacias seccionais do Cremers, pode haver “uma série de irregularidades do ponto de vista ético, além de uma série de ilegalidades”.
O Cremers também afirma que “não é regular que receituário médico tenha patrocínio de empresas”. Segundo D?avila, isso pode configurar uma “prática mercantilista da profissão”.
A prefeitura de Taquara confirmou ter conhecimento da existência de tal receituário. Informou que alguns médicos “ganharam de forma gratuita alguns receituários prontos”, mas negou que tenha participado da confecção do documento.
Questionada se o grupo que confeccionou o receituário é ligado à administração municipal, a prefeitura respondeu que o “Conselho Médico Pró-Vida de Taquara – nome distinto do que aparece no documento – é grupo autônomo que atua de forma consultiva e voluntária, sem nenhum vínculo nem interferência nos trabalhos da Administração Municipal”.
Entretanto, em 10 de março, a prefeita da cidade, Sirlei Silveira (PSB), fez vídeo ao lado de três médicos apresentados como membros deste conselho. Richard Santos Pereira, Mauro Werb Junior e Marcelo Conrad. Na ocasião, a prefeita confirmou que os médicos eram os participantes do conselho que agora aparece nos receituários impressos.
Apesar de o Executivo afirmar que o grupo é composto por infectologistas, os três médicos não se apresentam como especialistas da área. Richard Pereira é anestesiologista, Mauro Werb Junior possui uma clínica que trata varizes e Marcelo Conrad é clínico geral.
A reportagem ligou para a secretária de Mauro, que informou que o médico não responderia e passou o contato de Richard, adiantando que “este está mais por dentro do receituário”. Richard não atendeu as ligações, nem respondeu as mensagens no WhatsApp, apesar de tê-las visualizado. Depois, o contato constou como indisponível. GZH não conseguiu contato com Conrad até o fechamento desta edição.
Fonte: Jornal Zero Hora – RS
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