Supermercados miram R$ 220 bi de receita das farmácias
Produtividade do varejo farmacêutico atrai interesse das grandes redes alimentícias com venda de medicamentos
por Gabriel Noronha em


Uma importante fatia da receita do varejo farmacêutico pode ser colocada em jogo com a aprovação do PL 2.158/2023, que propõe a venda de medicamentos em supermercados.
A estimativa é que grandes nomes do varejo alimentício, como a rede Assaí e o Grupo Mateus, liderem a disputa por esse mercado que movimentou R$ 220 bilhões em 2024.
A proposta tramita no Senado com o apoio da indústria e de instituições como a Abras e o Sindusfarma, apesar da oposição de membros do varejo como a Abrafarma e o CFF.
Receita das farmácias ganha força com produtividade por metro quadrado
Um dos principais atrativos do setor farmacêutico nesse momento é sua maior produtividade média por metro quadrado em relação aos supermercados. Um relatório do BTG Pactual constatou essa vantagem ao cruzar dados de entidades setoriais e confirmar que esse índice é de R$ 68 mil e R$ 42 mil, respectivamente.
“Essa diferença sugere que entrar no varejo farmacêutico pode representar uma oportunidade para os supermercados aumentarem sua eficiência e até mesmo capturarem margens maiores”, explicam os analistas Luiz Guanais, Yan Cesquim e Pedro Lima.
Supermercados apostam na integração entre os setores
Dados da Abras revelam que uma parte considerável das drogarias (23%) já atua em áreas anexas aos mercados, especialmente em parceria com o grupo Carrefour. Isso significa, na visão da entidade, que existe um espaço de quase 80% para a ampliação dessas parcerias com a aprovação da medida.
Ainda segundo a associação, as 30 maiores redes alimentícias contam hoje com 4,4 mil lojas. Se 80% dessas lojas adicionarem farmácias completas, a capacidade do setor poderia aumentar 3,7%. “Se essa taxa fosse aplicada às 300 maiores redes, o crescimento poderia chegar a 8%”, afirma o BTG.
Indústria farmacêutica aprova a ideia
A venda de medicamentos em supermercados, discutida há mais de 20 anos e pauta de diversos projetos de lei, tem apoio da indústria farmacêutica, embora o setor revele preocupações com a fiscalização.
Após entidades do varejo farmacêutico se posicionarem enfaticamente contra esse modelo, com claros riscos à saúde pública, a proposta original foi modificada, com operações sob as mesmas exigências técnicas impostas às drogarias convencionais e profissionais disponíveis durante todo o expediente.
Essa alteração e a importância dada às questões sanitárias foram fundamentais para garantir o apoio de entidades do setor, como o Sindusfarma: “Sempre tivemos uma posição muito clara em relação à segurança sanitária na dispensação de medicamentos. A partir do momento em que o substitutivo do senador Efraim coloca a segurança em primeiro lugar, nós apoiamos integralmente”, afirma Nelson Mussolini, presidente executivo da entidade.
O texto sofreu alterações para superar críticas e desconfianças do setor, que temiam fatores como um aumento na automedicação e fragilidade nos processos de fiscalização.
“A pessoa vai poder entrar e sair com aquilo que o médico prescreveu. Então, pode facilitar a vida do paciente, daquele que está precisando comprar o seu medicamento dentro daquilo que regulamenta a legislação. É um assunto que se discute há mais de 20 anos. Acho que o projeto se tornou maduro”, afirma o executivo.
O cenário é diferente no varejo farmacêutico, onde representantes e entidades temem que a aprovação dessa medida represente uma ameaça direta à saúde das farmácias independentes. A Abrafarma, por exemplo, critica os trechos que abordam a proibição da telemedicina e das marcas próprias e as classifica como “desproporcionais e prejudiciais à população”.
“Nosso compromisso é com o direito à saúde, à proteção do consumidor e à eficiência nos serviços farmacêuticos”, afirmou Sergio Mena Barreto, CEO da Abrafarma.