O estudo realizado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) que aponta a eficácia da vacina tríplice viral contra a Covid-19 foi publicado na plataforma medRxiv. O site que distribui artigos científicos é controlado pela Universidade de Yale, dos Estados Unidos.
O Estado de Santa Catarina chegou a considerar uma vacinação em massa em março de 2021 com a tríplice viral, mas recuou. Mesmo com o reconhecimento internacional do estudo, o governo estadual não tem planos de incluir a vacina na campanha de vacinação contra o coronavírus.
O estudo, que teve sua primeira fase concluída em fevereiro de 2021, demonstrou que a vacina, oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) desde 1992, tem eficácia contra a Covid-19.
A vacina MMR, mais conhecida como tríplice viral, é uma velha conhecida que age especificamente contra sarampo, caxumba e rubéola. A pesquisa foi feita com 424 trabalhadores da saúde entre agosto de 2020 e março deste ano.
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Ela aponta que o imunizante não previne a infecção pelo SARS-CoV-2 (coronavírus), porém, com uma dose, ela reduz em 48% o risco de o paciente ter sintomas e 76% o risco de necessitar de tratamento específico para esta doença – antibioticoterapia para infecção pulmonar, corticoterapia para hiperinflamação e anticoagulação para fenômenos tromboembólicos – ou hospitalização.
Já com duas doses, os números sobem para 51% e 78%, respectivamente.
O estudo conclui que, ‘com o resultado, podemos propor que a vacina MMR seria útil em várias populações do mundo que não têm acesso à vacina para a Covid-19 e em uma nova epidemia ou pandemia como medida de emergência, até tratamentos específicos ou vacinas para cada caso estiverem disponíveis para a população em geral’.
O artigo também aponta que, apesar de os resultados serem interessantes, estudos maiores são necessários para confirmar os impactos da vacina.
O coordenador do estudo, professor Edison Natal Fedrizzi, informa que o artigo também foi enviado para uma revista internacional, onde será analisado por outros pesquisadores antes de ser publicado definitivamente.
O estudo dispõe de explicações dos motivos da eficácia da vacina contra a Covid-19. De acordo com Fedrizzi, ao longo dos anos, vários estudos têm demonstrado que esse tipo de imunizante, que usa microrganismos vivos e atenuados, apresenta uma excelente resposta imunológica a vários outros agentes, a chamada imunidade heteróloga.
Já as vacinas específicas contra Covid-19 atuam na produção de anticorpos, moléculas que agem diretamente contra o coronavírus.
‘As vacinas específicas para a Covid-19 provavelmente darão um tempo de proteção maior, por causa da produção dos anticorpos específicos contra a Covid. As vacinas inespecíficas, como estamos analisando com a tríplice viral, têm a finalidade de estimular a imunidade inicial, inata, para a proteção contra outras infecções por um período de 6 a 12 meses, dependendo do estímulo antigênico realizado’, explicou Fedrizzi.
No início do ano, o Estado contava com poucas quantidades de imunizantes específicos contra a Covid-19 e enfrentava um grande aumento no número de casos e mortes pela doença.
O estudo, ainda em fase preliminar, chegou a representar uma certa esperança para conter a pandemia naquele momento, e Santa Catarina considerou a aplicação em massa.
No entanto, ainda no mês de março, o Estado descartou esta possibilidade. Agora, com o artigo publicado e reconhecido, o cenário segue o mesmo.
Santa Catarina já aplica imunizantes específicos contra a Covid-19 em adolescentes de 12 a 17 anos, e não possui nenhum plano que inclua a utilização da tríplice viral, confirmou a Dive/SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica).
‘Todas as vacinas no Plano Nacional de Imunização apresentam indicação para as doenças contidas na vacina. Este é o primeiro momento da medicina moderna que se aventou a imunidade heteróloga, por causa da pandemia. Para que a MMR pudesse estar disponível para população geral para diminuir a gravidade da Covid-19, precisa de uma lei normatizando a nova indicação. Como já estão disponíveis as vacinas específicas para Covid-19, não acho que venham tomar esta decisão’, salienta o coordenador do estudo, Edison Natal Fedrizzi.
Santa Catarina já demonstrou interesse em vacinar as crianças abaixo de 12 anos, público que não possui liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Ministério da Saúde até o momento.
Mesmo assim, também não é o caso de se pensar em utilizar a MMR, ressaltou o governo estadual. Edison Fedrizzi pontua, ainda, que não há estudos que demonstrem a eficácia da tríplice viral contra Covid-19 em crianças.
O estudo realizado na UFSC faz parte de um edital de 2020 lançado pela Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) que aprovou, ao todo, cinco pesquisas para reduzir o impacto da pandemia.
Além da Fapesc, o estudo também conta com apoio do Laboratório FioCruz – Bio-Manguinhos, Secretaria Estadual de Saúde (SES – LACEN) e SMS (Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis).
A Fapesc investiu aproximadamente R$ 2,2 milhões em ações contra Covid-19 em Santa Catarina, incluindo pesquisas e desenvolvimento de produtos para combater a pandemia e seus efeitos.
O estudo da tríplice viral é um dos cinco projetos aprovados no edital 06/2020 e recebeu cerca de R$ 100 mil para o desenvolvimento.
Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/estudo-relaciona-vacina-triplice-viral-a-casos-menos-graves-de-covid/