Varejo farmacêutico fecha ano de contrastes
Grandes redes e associativismo avançam, mas independentes encaram desafios para sobreviver
por César Ferro em
O fim de 2025 se aproxima com a balança bem desigual no varejo farmacêutico. Os últimos 12 meses demonstraram que o fosso entre as grandes redes de farmácias e os PDVs independentes aumentou, mas também evidenciaram que o associativismo se consolida como uma alternativa relevante para a sobrevida de empreendedores.
O Panorama Farmacêutico reuniu uma análise de algumas das principais notícias que movimentaram o mercado neste ano e avalia como elas exemplificam as estratégias das companhias corporativas e associações.
Mortalidade das empresas ganha evidência
O fechamento de farmácias foi um dos principais desafios para o varejo em 2025. Em fevereiro, a Close-Up International divulgou um levantamento indicando que 10,9% das lojas abertas entre outubro de 2022 e o mesmo mês de 2024 encerraram as atividades, totalizando 11.839 pontos de venda (PDVs).
O recuo foi encabeçado pelas farmácias independentes e redes de menor porte, que descontinuaram 11.198 unidades. O volume representa impressionantes 94% do total de fechamento.
O relatório anual da IQVIA, divulgado em julho, também acendeu o alerta quanto às possíveis consequências da onda de fechamentos de farmácias no Brasil. Com o movimento, o mercado passou a temer um aumento no número de desertos farmacêuticos no país.
O termo, mais frequentemente utilizado nos Estados Unidos, designa regiões em que a população precisa se deslocar ao menos 1,6 quilômetro para encontrar um PDV. O estudo corrobora a preocupação ao revelar que o número de farmácias em funcionamento no país caiu de 2023 para 2024, saindo de 100.899 para 100.363.
Segundo os dados da Close-Up International, que correspondem aos últimos 12 meses até agosto de 2025, o índice de fechamento de farmácias chegou ao seu maior nível e pela primeira vez representou mais de 10% do total de lojas com operações iniciadas nos últimos três anos. A explicação, novamente, passa pelos estabelecimentos de pequeno porte.
Dos 10.766 pontos de venda que descontinuaram operações em 12 meses, 94% pertenciam ao varejo independente e às pequenas e médias redes, o que ajuda a explicar o saldo de fechamentos maior que o de aberturas pelo segundo ano consecutivo.
Mas o fechamento de farmácias não foi o único fantasma de 2025. O setor precisou lidar com a possível entrada do Mercado Livre no ramo.
Após a companhia negar ter omitido informações ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre sua atuação no varejo farmacêutico online e em serviços de telemedicina, o setor reagiu. Em resposta às alegações da plataforma de comércio eletrônico para a imprensa em outubro, a Abrafarma reiterou sua posição contrária à venda de medicamentos pelo sistema de marketplace.
“A Abrafarma reforça que os marketplaces ainda necessitam de regulação e fiscalização mais rigorosas para comercializar produtos sensíveis e essenciais à saúde pública. A segurança do consumidor está em jogo”, defendeu o CEO da entidade, Sergio Mena Barreto.
Setor cresceu mais de 10%
Mas o varejo farmacêutico também teve o que comemorar no ano. O crescimento do setor passou de 10%, com avanços acima da média em várias regiões.
O estudo evidenciou o bom momento dos estados do Norte, que registraram um crescimento de 14%. No Nordeste a alta foi de 11,7%, acompanhado pelo Centro-Oeste que avançou 10,9%. Sudeste e Sul ficaram um pouco abaixo da média geral.
Grandes redes buscam inovação
Como resposta às dificuldades apresentadas pelo ano, as grandes redes de farmácia buscaram a inovação. O movimento deu certo, afinal, em seu jantar de fim de ano, a Abrafarma celebrou um faturamento superior a R$ 110 bilhões pela primeira vez.
RD Saúde celebrou marcos em 2025
Não faltaram motivos para comemorar na RD Saúde. Em junho, o grupo responsável pelas bandeiras Droga Raia e Drogasil chegou à marca de 400 salas de vacinação, serviço oferecido pelas redes desde 2017.
Dois meses depois, o motivo de festa era outro: a companhia consolidava seu plano de expansão com a loja 2.000 da Drogasil. A unidade, localizada na Zona Sul de São Paulo (SP), se tornou um símbolo de avanço baseado em desenvolvimento interno e tecnologia.
A empresa também divulgou projetos inovadores, como o medidor de glicemia da marca própriaCaretech – em parceria com a Roche -, e a intenção de lançar uma marca própria de MIPs e uma ‘farmácia de luxo’ para 2026.
DPSP apostou em expansão e serviços
Outro importante grupo do setor, o DPSP, escolheu como pilares estratégicos a expansão e os serviços farmacêuticos. Em outubro, varejista que comanda as marcas Drogarias Pacheco e São Paulo anunciou o plano de abrir 400 novas lojas até 2028. O movimento tem como objetivo reforçar a presença regional das redes e intensificar a relação com os consumidores.
Já na seara dos serviços, a companhia implementou exames de termografia das mamas em outubro e o eletrocardiograma em novembro. A ideia é ampliar o acesso à saúde, por meio da capilaridade e da não exigência de pedido médico ou agendamento.
Automatização e conversão na Pague Menos
O segredo da Pague Menos passa pela adoção de novas tecnologias e pelo fortalecimento de sua principal bandeira. Para ampliar suas vendas, a rede de farmácias adotou a automatização da plataforma Suri Shop, integrada ao WhatsApp Pay – o que possibilitou um avanço de 15%.
Em paralelo, a varejista acelerou a conversão das lojas da Extrafarma, companhia comprada pelo grupo em 2022. A bandeira não será mais utilizada em seis estados, mas continuará ativa em outros cinco.
Os movimentos surtiram efeito e no segundo trimestre o lucro ultrapassou os R$ 50 milhões. Outro importante motor para o resultado foi a evolução operacional promovida pela empresa.
Farma Conde foca em expansão e digitalização
A Farma Conde teve um ano focado em pilares como capilaridade e digitalização. A rede de farmácias ampliou sua presença no estado de Minas Gerais, onde abriu 70 novas lojas.
Em paralelo, a varejista reforçou sua oferta de serviços farmacêuticos, passando a contar com 13 unidades com horário estendido na Região Metropolitana de São Paulo, no Vale do Paraíba e no Litoral Paulista.
No âmbito digital, os canais da companhia cresceram 500%. A empresa planeja alcançar 20% de participação no faturamento com essa operação já no próximo ano.
Associativismo consolida-se como opção
Bilhões de motivos para comemorar na Farmarcas
A Farmarcas alcançou R$ 10 bilhões em vendas acumuladas em 2025. A organização projeta chegar a R$ 17 bilhões até 2030, impulsionada por uma expansão acelerada e pela força de sua marca própria.
Aproveitando o gancho da expansão acelerada, o agrupamento projetava fechar 2025 com até 150 novas lojas, tendo inaugurado 90 unidades até outubro. Já com as marcas próprias, os planos eram levar essa categoria – que já movimenta mais R$ 200 milhões na companhia – a 90% das lojas ainda em 2025. “Esse objetivo está totalmente alinhado à nossa estratégia de inovação e competitividade”, afirma o diretor comercial Fabio Chacon.
Febrafar celebrou um quarto de século
A Febrafar completou 25 anos representando 16,6% do setor. A principal entidade do associativismo destaca-se como o segundo maior grupo do varejo farmacêutico. “Essa conquista é fruto do poder do associativismo e da estrutura que criamos para apoiar nossas 70 redes e mais de 17 mil farmácias associadas”, afirma Edison Tamascia, presidente da federação.
Os resultados conquistados pela Febrafar impulsionaram inclusive a indústria farmacêutica. O faturamento da Germed cresceu 239% após parceria com a entidade.
Já no âmbito dos associados, a federação ofereceu programas e diferenciais que provaram seu valor. O programa de fidelidade arrecadou mais de R$ 1 bilhão em um único mês e uma marca própria foi lançada para fechar o ano com chave de ouro.
Fecofar intensificou relacionamento com o mercado
O segundo ano de operações da Fecofar foi pautado por um relacionamento mais intenso com o mercado. A entidade anunciou parcerias com a Princípia e a Farmácias Digitais, por exemplo.
O seu já tradicional Fecofar Day caiu nas graças da indústria farmacêutica, que reconheceu a importância de contar com um ponto de encontro único com as sete redes associadas. “Nosso objetivo é fortalecer o empresário na ponta, onde a indústria muitas vezes tem dificuldade de chegar”, ressalta Willians Robles, administrador executivo da federação.
A entidade contabilizou um faturamento de R$ 6 bilhões no ano. Caso fosse uma rede de farmácias, esse indicador a posicionaria entre as quatro maiores empresas do setor.
Abrafad consolidou presença nacional
A Abrafad consolidou-se como uma entidade de presença nacional, ao chegar a 100% das unidades da Federação. Com avanço de dois pontos percentuais acima do varejo farmacêutico, a associação mirou sua expansão territorial para as regiões Centro-Oeste e Norte. “Embora tenhamos atraído novas bandeiras, a maior fonte de incremento provém da expansão orgânica das redes, com foco claro na ocupação do mapa nacional”, exalta o diretor executivo Nilson Ribeiro.
As farmácias da Abrafad alcançaram um faturamento de R$ 7,5 bilhões e somam seis mil lojas. Assim como a Fecofar, a entidade estaria na parte superior do ranking das maiores redes do varejo farmacêutico nacional.
A associação também investiu em uma plataforma de CRM fundamentada no Cosmos Pro, da Procfit. A ferramenta foi desenvolvida de forma customizada para a entidade e é tratada como um divisor de águas internamente.