Varejo farmacêutico reage à entrada do Mercado Livre no setor
Abrafarma contesta alegações da plataforma e reforça posição contrária à venda de medicamentos via marketplace
por Ana Claudia Nagao em
e atualizado em


Após o Mercado Livre negar ter omitido informações ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre sua atuação no varejo farmacêutico online e em serviços de telemedicina, o setor farmacêutico reagiu.
Em resposta às alegações da plataforma de comércio eletrônico para a imprensa na última quinta-feira, dia 9, a Abrafarma reiterou sua posição contrária à venda de medicamentos pelo sistema de marketplace.
Um comunicado oficial da entidade destaca trechos do dossiê encaminhado ao Cade, elaborado com o objetivo de proteger consumidores e empresas do setor:
- A operação não deve resultar em sobreposição horizontal no varejo farmacêutico;
- Não pode haver integração vertical entre o varejo farmacêutico (upstream) e o varejo multiprodutos online (downstream), por exigir autorizações regulatórias específicas;
- A transação não deve acarretar fechamento de mercado, considerando o baixo faturamento e volume de vendas da Target, nome fantasia da Cuidamos Farma;
- Não deve haver qualquer parceria entre a plataforma de prescrição digital da Memed e o marketplace do Grupo Mercado Livre, já que não há relação comercial entre as empresas.
De acordo com o CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto, a análise do processo de entrada do Mercado Livre no comércio de medicamentos aponta que a plataforma buscava justamente os elementos que ainda não detinha para atuar nesse mercado – autorização sanitária e presença de um farmacêuticoresponsável, obtidos por meio da aquisição da Cuidamos Farma.
“O Mercado Livre poderia, assim, iniciar a venda online de medicamentos com respaldo regulatório”, afirma Barreto. O executivo também alerta que a compra da Target pode, no futuro, aproximar as operações do marketplace das atividades da Memed – maior plataforma para emissão de prescrições médicas digitais, com recomendação direta ao usuário de farmácias para compra remota.
“A Abrafarmareforça que os marketplaces ainda necessitam de regulação e fiscalização mais rigorosas para comercializar produtos sensíveis e essenciais à saúde pública. A segurança do consumidor está em jogo”, finaliza o comunicado.
Aquisição do Mercado Livre ocorreu em setembro
A vendada Drogaria Target, localizada no bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, foi confirmada pela Memed em setembro. “Como etapa final do processo de foco estratégico, negociamos a possível venda de um ponto de varejo físico, sem o estabelecimento de qualquer relação societária ou comercial entre as empresas citadas. A Memed mantém suas atividades voltadas à digitalização da saúde no Brasil, sendo utilizada por mais de 130 mil médicos para prescrições mensais”, informou a empresa.
A transação foi realizada pela K2I Intermediação, subsidiária não operacional da Kangu, empresa brasileira de logística adquirida pelo Mercado Livre em 2021.