Marcas próprias nas farmácias já movimentam R$ 6 bi
Movimento estende-se a grandes redes e também ao associativismo
por Márcia Arbache em
e atualizado em
O segmento de marcas próprias em farmácias deve encerrar o ano com receita recorde de R$ 6 bilhões, contra R$ 4,6 bi do ano passado. O movimento iniciado por grandes grupos como RD Saúde e Bemol Farma, que criaram unidades independentes para desenvolver portfólios exclusivos, estendeu-se a outros nichos e tornou-se também uma alavanca para o associativismo e o pequeno e médio varejo.
“Em todo o mundo há redes em que as marcas próprias respondem por 40% das vendas”, destaca a presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Marcas Próprias (Abmapro), Neide Montesano.
A entidade reúne 103 associados de diversos setores, incluindo dez players do canal farma – Rede d1000, RD Saúde, Grupo DPSP, Panvel, Assifarma, Unifabra, Pague Menos, Bemol, Farmais e Ultrafarma. Nesse grupo de empresas, o faturamento da categoria avança dois dígitos ao ano. “Isso é resultado da confiança do consumidor e de estratégias das redes em oferecer produtos com melhor custo-benefício’’, ressalta.
Tíquete médio mais elevado com marcas próprias nas farmácias
Um caso bem-sucedido da adoção de marcas próprias em farmácias é o da Needs, da RD Saúde, que alcançou R$ 1,2 bilhão em vendas anuais com produtos exclusivos. Neide cita ainda redes como as Farmácias São João, Nissei e Drogaria Araujo, não associadas à Abmapro, mas que também estão investindo em linhas exclusivas.
Um dos propósitos da marca própria é atrair e fidelizar o consumidor e buscar rentabilidade para as redes varejistas. Além disso, clientes que adquirem esses produtos tendem a gastar mais por compra. “O tíquete médio que contém um único SKU de marca própria é o dobro do tíquete normal. O faturamento das marcas próprias do canal farma é estimado em R$ 6 bilhões em 2025, contra R$ 4,6 bilhões no ano passado’’, explica Neide.
Pandemia acelerou crescimento do segmento
A evolução das marcas próprias passou por quatro gerações. A primeira surgiu com os produtos genéricos, como arroz e feijão vendidos em sacos simples. Na segunda, as embalagens passaram a exibir marcas, ainda sem um conceito bem definido.
A terceira geração, conhecida como me too, trouxe produtos semelhantes aos líderes de mercado, mas com foco na qualidade percebida. Já a quarta geração representa um salto: são marcas que buscam oferecer valor agregado, indo além da disputa por preço. “A Taeq, do Grupo Pão de Açúcar, é um bom exemplo dessa fase”, explica.
Segundo Neide, as marcas próprias costumam ganhar espaço em tempos de crise e vêm registrando crescimento consistente nos últimos 50 anos. Ela citou a pandemia de Covid-19 como exemplo desse avanço. Nesse período, o canal farma se destacou por estar preparado para atender ao aumento da demanda, impulsionado pelas vendas online e por parcerias estratégicas que asseguraram o fornecimento de produtos exclusivos.
Farmarcas planeja levar marcas próprias para 90% das lojas
Para fortalecer seu relacionamento com os consumidores e os associados, a Farmarcas vem intensificando o investimento em marcas próprias. A estratégia busca consolidar a associação como uma das líderes do varejo farmacêutico nacional nessa categoria.
Com três marcas em seu portfólio – SupraCorp, SupraCare e SupraBaby – o agrupamento de redes de farmácias quer ampliar o alcance desses produtos. “Queremos positivar esses itens em 90% das nossas lojas ainda neste ano”, revela o gerente de marketing Augusto Zavarelli.
A meta acompanha um plano de expansão mais amplo, que inclui o aumento da participação das marcas próprias no total de vendas das farmácias associadas. Atualmente responsáveis por 2,5% do faturamento da rede, o que equivale a pouco mais de R$ 200 milhões, os produtos de marca própria devem ultrapassar 4% de market share nos próximos cinco anos.
Os resultados atuais da Farmarcas com as marcas próprias comprovam que a meta é factível. Em agosto, a categoria movimentou R$ 900 mil. “Nos destacamos pela qualidade dos produtos, resultado de colaborações com fornecedores como o Catarinense Pharma. Mas, para consolidar um portfólio sólido de marcas, é fundamental investir em ações de marketing que amplifiquem sua presença no mercado”, analisa Zavarelli.
Rede Soma: avanço do modelo reflete a profissionalização do setor
Bruno Peres, gerente comercial da Rede Soma Drogarias, sublinha que o movimento de valorização das marcas próprias nas farmácias já é uma realidade consolidada. “Hoje vemos como uma grande oportunidade. As redes estão fazendo um trabalho apurado para identificar produtos que realmente se diferenciem e representem a identidade do grupo”, afirma.
Com sede em Raul Soares (MG) e 12 anos de atuação, sendo dez deles dedicados ao desenvolvimento de marcas próprias, a Soma construiu um portfólio com quase 200 SKUs. O mix inclui vitaminas e suplementos, cuidados com a pele, sabonetes, produtos de beleza e bem-estar, além de uma linha de suplementos esportivos.
Peres explica que cerca de 75% das lojas já trabalham com marcas próprias. São 860 farmácias em 23 estados e no Distrito Federal. “Todos têm liberdade para decidir se querem aderir, mas o diferencial competitivo tem feito com que a maioria opte por oferecer esses produtos”, explica o executivo. O catálogo abrange linhas de nutracêuticos e polivitamínicos; suplementação esportiva; e cuidados com a pele e beleza.
Processo rigoroso e inteligência de mercado
Segundo Peres, a exclusividade e o cuidado com a produção são os principais motores do sucesso. “A indústria nos entrega o laudo técnico da matéria-prima e do produto acabado. Mas mesmo assim, enviamos mensalmente amostras para um laboratório homologado, que refaz os testes’’, explica.
Além disso, a rede conta com um departamento de inteligência de mercado, responsável por mapear tendências, identificar demandas regionais e estudar a viabilidade de novos lançamentos. “Nada é feito de forma aleatória. Todo novo produto passa por um estudo de mercado, checagem regulatória junto à Anvisa e análise de custo antes da decisão final de lançamento”, acrescenta. A Soma já estuda novos lançamentos e expansão de linhas, com a meta de chegar a 300 SKUs em 2026.
Intercron é gestora de marcas e produtos exclusivos da Assifarma
Há mais de 15 anos como parceira da Assifarma, a Intercron, gestora de marcas e produtos exclusivos para o canal farma, administra um portfólio que ultrapassa os mil SKUs, com 60 marcas ativas. Pamella Dias, diretora-executiva da empresa, ressalta que as marcas próprias lideram categorias-chave no varejo farmacêutico brasileiro. “Esses produtos hoje representam uma evolução que vai muito além de ser apenas uma opção de rentabilidade’’, ressalta.
Pamella comenta que as marcas próprias nasceram como uma alternativa de competitividade para as redes associadas à Assifarma, fortalecendo a identidade dos grupos, ampliando a margem de lucro e fidelizando o consumidor. “Além disso, permitem oferecer produtos de alta qualidade a preços acessíveis, muitas vezes entrando em categorias tradicionalmente elitizadas e promovendo uma verdadeira democratização do consumo’’, pontua. [geifar]Atualmente, a Intercron detém mais de 8% de participação no market share nacional[/grifar] da categoria.
Abrafad estimula competitividade no varejo farmacêutico
A Associação Brasileira de Redes Associativistas de Farmácias e Drogarias (Abrafad) lançará, no próximo ano, um projeto de marcas exclusivas como estratégia para fortalecer a competitividade das redes independentes. Segundo Marcelo Licnerski, diretor de Operações e Comunicação, que está à frente da iniciativa, o objetivo não é competir com as associadas, mas melhorar a rentabilidade e o lucro das redes ligadas à entidade.
Ele explica que a marca exclusiva é um segmento que cresce extremamente não só no Brasil. Na Suíça, relata, para dez produtos vendidos, sete são de marca exclusiva. “Por aqui, esse processo ainda é embrionário, tem muito espaço para crescer. Os grupos que participam da Abrafad têm suas políticas de marca própria e não vamos interferir nem entrar em conflito”, garante.
Equilíbrio para mix de produtos
A ideia foi estruturada de forma a oferecer às farmácias uma melhor equação do mix de produtos, atendendo às necessidades do consumidor com itens de alta qualidade, a preços acessiveis. “Serão produtos que vão disputar mercado com os demais. Vamos construir uma marca e dar a opção aos clientes de escolher entre as de referência, intermediária e própria”, afirma o executivo.
Licnerski observa que as grandes redes estão, cada vez mais, investindo em marca própria, mas sem perder os investimentos de trade. ‘’Queremos melhorar a nossa performance de trade marketing junto com nossas indústrias. Elaborando uma estratégia de marca exclusiva em determinada categoria vamos atrair também marcas de referência para investir nos PDVs’’, avalia.
Um bom exemplo, segundo ele, é a simeticona cuja marca líder de mercado é o Luftal, fabricado pela Reckitt. Ele detalha que a indústria investiu, fez promoção, divulgação, geração de demanda e fidelizou o consumidor. Há também os fabricantes de genéricos que têm qualidade, é uma opção mais econômica e geralmente o laboratório é parceiro comercial das redes.