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Alta dos remédios a partir de abril provoca compra antecipada: ‘Da consulta direto pra farmácia’, diz moradora de Curitiba

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O anúncio do aumento de quase 11% no preço de remédios a partir de abril fez com que a publicitária Larissa Vaz da Silva antecipasse a compra dos medicamentos que usa para tentar economizar nos próximos meses. Ela faz tratamento contra depressão há quase 10 anos.

“Não consigo fazer um estoque grande porque é só com a receita, mas comprei os remédios pelo preço antigo para dois ou três meses, que é o intervalo de consultas. Eu não ia comprar o remédio já, ia guardar a receita e só comprar quando precisasse. Mas, agora, fui obrigada a me programar para sair da consulta direto pra farmácia”, diz ela.

“Não consigo fazer um estoque grande porque é só com a receita, mas comprei os remédios pelo preço antigo para dois ou três meses, que é o intervalo de consultas. Eu não ia comprar o remédio já, ia guardar a receita e só comprar quando precisasse. Mas, agora, fui obrigada a me programar para sair da consulta direto pra farmácia”, diz ela.

Larissa tem 23 anos e mora em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Atualmente, ela toma Desvenlafaxina e Ritalina.

“Meus medicamentos já foram mais da metade do meu salário por um período da minha vida. Já cheguei em um momento, em 2019, a gastar quase R$ 900 por mês, eu fazia um tratamento bem mais pesado. Agora estou em um período bem melhor, em um processo praticamente de desmame dos remédios. Mas, mesmo assim, ainda gasto bastante, sem contar os outros reajustes que estamos sofrendo”.

A jovem conta que consegue a Ritalina pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas, como o médico que a trata é particular, não consegue pegar o remédio com a mesma receita.

“Aí eu acabo comprando para não precisar ir novamente ao postinho, ou encaminharem para um psiquiatra da rede pública”.

O índice de reajuste é calculado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão vinculado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que reúne vários ministérios.

A recomposição anual de preços pode ser aplicada em uma lista de 13 mil remédios disponíveis no mercado varejista brasileiro.

As farmácias e drogarias, assim como laboratórios, distribuidores e importadores, não podem cobrar pelos medicamentos preço acima do permitido pela CMED.

A lista de preços máximos permitidos para a venda de medicamentos é disponibilizada para consulta dos consumidores e é atualizada mensalmente.

O reajuste será aplicado a esse valor máximo, o que não significa que todos os remédios sofrerão reajustes.

Dificuldade

A moradora de Curitiba Bruna Krause Saldanha toma três tipos de medicamentos desde 2017: Venvanse, Depakote e Aripiprazol. Ela faz tratamento de depressão, transtorno de bipolaridade e borderline.

“É uma situação complicada. O Aripiprazol normalmente ganho amostra grátis do meu psiquiatra, mas tenho medo que, com o aumento dos valores das medicações, ele pare de me dar porque também pare de receber. O Depakote eu tomo dois comprimidos por dia, a caixa com 60 comprimidos para durar um mês custa uns R$ 90. Já o Venvanse é caríssimo, a dosagem que eu tomo que é 50 mg e eu pago mais de R$ 400, vem 28 comprimidos, não chega nem a ser 30”.

Bruna afirma que não pode interromper os tratamentos e lamenta também não conseguir adiantar a compra dos medicamentos que usa, pois já são muito caros mesmo sem o reajuste.

“No meu caso não dá para fazer estoque porque se eu fizer, vou gastar um salário mínimo inteiro, é sem condições. Até tem outras opções mais baratas para déficit de atenção, por exemplo, mas o único que funciona mesmo para mim é Venvanse e é o mais caro que tem. Teve uma época que eu tomava lítio, que também é um estabilizador de humor e o SUS oferece, mas só em uma dosagem específica. Eu tomava de 450 mg, e eles só ofereciam de 300 mg. Aí é um comprimido que não tem como cortar e dividir”.

Apesar da saga mensal para conseguir manter a medicação em dia, Bruna ainda reconhece que para ela ainda é menos difícil do que para outras pessoas que sequer têm dinheiro ao básico, quem dirá para tratamentos mais específicos como os dela.

“Eu ainda tenho como pagar, mas pensa quem não faz tratamento psiquiátrico por não ter condições de bancar o custo e aí sofre com depressão por anos. O problema, é claro, não é de agora, mas o aumento [do preço dos remédios] só piora o que já é difícil pra boa parte da população”, diz.

“Eu ainda tenho como pagar, mas pensa quem não faz tratamento psiquiátrico por não ter condições de bancar o custo e aí sofre com depressão por anos. O problema, é claro, não é de agora, mas o aumento [do preço dos remédios] só piora o que já é difícil pra boa parte da população”, diz.

Um levantamento do economista André Braz, da FGV/Ibre, mostra que os idosos e as famílias mais pobres comprometem uma parte maior da renda com remédios.

Quem ganha até um salário mínimo e meio deixa na farmácia quase 6% dos ganhos. Para quem recebe acima de 11,5 salários, as despesas com remédios ficam abaixo de 3%, quase a metade.

“É um impacto super relevante, porque a ele, a gente deve somar também o previsto para o plano de saúde, que também deve ter reajuste de dois dígitos este ano. Os indivíduos que têm doenças graves, que exigem um investimento grande em medicamentos, realmente podem comprometer uma parcela muito maior do salário”, pontua.

Como é calculado o reajuste

Pela legislação em vigor, o reajuste anual dos preços de medicamentos é definido considerando a inflação, além de outros indicadores do setor.

No início do ano, o Comitê Técnico-Executivo da CMED decidiu definir em zero dois fatores que compõem a fórmula do reajuste dos preços dos medicamentos para este ano: o fator de produtividade (Fator X) e o fator de ajuste de preços relativos intrassetor (Fator Z).

O primeiro deles, Fator X, é estabelecido a partir da estimativa de ganhos futuros de produtividade das empresas que compõem a indústria farmacêutica no país. Segundo um comunicado da Anvisa, o Fator Z também terá valor igual a zero, conforme preveem as regras de uma resolução do comitê que estabelece os critérios de composição de fatores para o ajuste de preços de fármacos.

Além dos fatores X e Y, entram no cálculo o fator Y – que se refere a ajuste de preços relativos entre setores – e a inflação.

No ano passado, o reajuste autorizado foi de até 10,08% para os medicamentos, ante uma inflação de 4,52% no ano anterior.

Por meio do CMED, o governo controla o reajuste de preços de medicamentos periodicamente – estabelecendo o aumento máximo que esses produtos podem atingir no mercado brasileiro.

Fonte: G1.Globo

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/com-anuncio-de-reajuste-de-remedios-farmacias-de-bairro-sao-as-mais-procuradas/

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