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‘Brasil é o atual epicentro da pandemia, mas líderes continuam a demonstrar descaso’, diz pesquisadora de Yale

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‘Brasil é o atual epicentro da pandemia, mas líderes continuam a demonstrar descaso’

Uma bióloga brasileira é coautora de um estudo pioneiro sobre a Covid-19 publicado na revista científica Nature, uma das mais importantes do mundo, na segun Os resultados da pesquisa podem ajudar a identificação de indivíduos com alto risco da Covid-19 se agravar, ainda no início de sua hospitalização. Identificar esses pacientes ajuda na definição do tratamento e pode salvar vidas.

Apesar de ter se dedicado apenas recentemente aos estudos sobre coronavírus, Carolina apresentou um trabalho pioneiro. Os resultados publicados na Nature fazem parte de uma das primeiras pesquisas com os mesmos indivíduos ao longo do tempo.

“A maioria dos trabalhos descritos até o momento analisaram apenas um único ponto, momento, daquele indivíduo durante a doença, o que limita as possíveis conclusões”, explica a pesquisadora. O estudo é coordenado pela pesquisadora Akiko Iwasaki e conta com a participação de mais um brasileiro, Tiago Castro, do Laboratório de Imunobiologia da Universidade Rockfeller.

Pesquisa

Os cientistas acompanharam o desenvolvimento da doença em 113 pacientes internados no Hospital Yale New Haven, desde a entrada na unidade de saúde até a alta ou morte. O estudo indica que os quadros clínicos mais graves estão correlacionados não somente com a carga viral, mas também com uma severa disfunção do sistema de defesa do organismo.

A causa dessa disfunção está associada ao excesso de uma substância do sistema imunológico, chamada de citocina. Geralmente essencial ao controle de infecções virais, a citocina acaba por ser produzida em demasia, como uma resposta excessiva do organismo contra o coronavírus. Este fenômeno é conhecido como “tempestade de citocinas”.

A alta concentração da substância na fase inicial da doença, até o 12º dia, aumenta a chance do paciente ter um quadro clínico mais grave e com fatalidades. Monitorar o nível de citocina desde os primeiros sintomas da doença pode ser crucial para um tratamento de sucesso.

O estudo também identificou que uma outra substância, chamada inflamassoma, está foi associada a maus resultados e morte de pacientes. Trata-se de um complexo proteico existente em células de defesa e que é ativado pelo organismo em resposta às infecções. “A ativação do inflamassoma esta relacionado com aumento de morte celular, o que resulta em mais inflamação”, explica Carolina.

Para a pesquisadora, detectar precocemente a presença dessas substâncias e de uma disfunção do sistema imunológico pode ajudar a prevenir uma exacerbação do quadro inflamatório e salvar vidas. Ela considera esse “timing” de extrema importância.

“Esses testes (para detectar o nível de citocina e inflamassoma) estão disponíveis em alguns hospitais nos Estados Unidos, mas acredito que não sejam rotineiramente utilizados no Brasil, num simples exame de sangue. Infelizmente, frente ao atual governo, fora a produção desenfreada, sem embasamento científico, de cloroquina, poucos recursos estão sendo destinados, e mesmo reduzidos, em hospitais públicos”, afirmou.

Racionalidade

Carolina entende que a realidade imposta pela pandemia é “delicada, extremamente dura”. Mas defende defende a ciência e pede mais racionalidade na hora de definir a melhor forma de combater a Covid-19.

“A introdução de novos medicamentos e vacinas precisa passar por todas as etapas, desde as fases de teste em culturas até humanos em grande escala, testados com segurança e eficácia. Um ato irracional, baseado em especulação ou entusiasmo, pode custar a vida de milhares de pessoas”, disse.

A pesquisadora é crítica à condução do combate ao coronavírus no Brasil e também aos ataques que cientistas vêm sofrendo nos últimos anos.

“Eu acredito que o Brasil teve e tem pesquisadores e um potencial científico incrível. Minha carreira foi incentivada e apoiada por inúmeros excelentes pesquisadores brasileiros, que estão contribuindo ativamente no entendimento dessa pandemia, mas ao mesmo tempo estão lutando para manter seus laboratórios abertos e fazer ciência”, disse Carolina.

“O Brasil é o atual epicentro da pandemia, mas muitos líderes atuais continuam a demonstrar descaso, irresponsabilidade com a população, indo na contramão das recomendações dos principais órgãos de controle e especialistas. Eu aprendi, lecionei e fiz pesquisa no Brasil. Eu ficaria muito feliz em poder voltar e contribuir com a nova geração de cientistas brasileiros, mas pra isso nós precisamos ter voz e recursos”, finalizou a pesquisadora.

Carolina viveu até a infância em Portugal e retornou ao Brasil com 16 anos. Ela se formou em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez parte do doutorado no ETH Zurich, na Suíça, e está no pós-doutorado em Yale.

Em sua carreira, Carolina sempre pesquisou vírus. Mais especificamente as respostas do sistema imunológico contra infecções virais. Inicialmente seus estudos foram com HIV, depois Zika. No pós-doutorado ela pesquisa os vírus chikungunya, herpes e VSV. O surgimento da pandemia fez o coronavírus ser incluído no rol de pesquisados.

Carolina Lucas integra um grupo de pesquisadores da Universidade de Yale que identificou que as respostas do sistema imunológico dos pacientes podem ajudar a prever quem sofrerá consequências graves da doença.

Fonte: Portal REVISTA ÉPOCA

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