Cannabis nas farmácias movimenta R$ 27 milhões por mês
Dados inéditos foram apresentados durante congresso realizado em São Paulo


O mercado de cannabis nas farmácias, regulado pela RDC 327, já movimenta em torno de R$ 27 milhões por mês, segundo levantamento da Kaya Mind. Os dados foram apresentados durante o Congresso We Need To Talk About Cannabis (WNTC), que ocorreu no dia 10 de junho durante a FCE Pharma. O painel sobre o tema teve a mediação de Leandro Luize, editor-chefe do Panorama Farmacêutico.
Na visão da consultoria, o peso do canal farma para as vendas pode ser ainda maior a partir da atualização da RDC 327. A norma da Anvisa, que autoriza a venda de produtos do gênero com prescrição médica, tornou-se um dos principais eixos de discussão científica, regulatória e comercial nos últimos anos. Com previsão de ser revisada ainda este ano, estava em consulta pública até o dia 2 de junho e recebeu mais de 1.400 contribuições.
A resolução poderá estender a prescrição para dentistas, garantir a renovação de autorizações por até cinco anos e estimular o incentivo ao uso de CBD (canabidiol) purificado para manipulação, entre outra mudanças.
“A expectativa é que o novo texto permita maior segurança regulatória, incentive a intercambialidade entre produtos e amplie o uso de canabinoides no tratamento de diversas condições de saúde”, afirma Thiago Cardoso, fundador e chefe de inteligência da Kaya Mind. ‘”Teremos um mercado mais acessível, previsível e atrativo para a indústria”, acrescenta.
Cannabis nas farmácias ainda é pautada pela concentração
O acesso à cannabis nas farmácias ainda é caracterizado pela concentração. Atualmente, 35 apresentações de produtos estão disponíveis no varejo, sendo que cinco fabricantes detêm mais de 80% das vendas – Prati-Donaduzzi, Mantecorp, GreenCare, Biolab e Ease Labs.
A Região Sudeste ainda contabiliza mais da metade do volume de dispensações. “Mas acreditamos se tratar de um movimento natural, que aconteceu também em outras categorias. A regionalização tende a se acelerar após a revisão da RDC”, observa.
Nova proposta amplia fronteiras para o setor
As implicações da revisão da RDC 327 ganharam destaque ainda nas discussões técnicas do Congresso, sobretudo no contexto dos impactos da Consulta Pública nº 1.316/2025. Para João Paulo Perfeito, gerente de medicamentos específicos, notificados, fitoterápicos, dinamizados e gases medicinais (GMESP) da Anvisa, os caminhos para o desenvolvimento da cannabis medicinal no Brasil são promissores.
“A nova proposta autoriza a importação, para fins de pesquisa, desenvolvimento, distribuição e fabricação de extratos da planta cannabis sativa, fitofármacos com CBD e produtos industrializados a granel. Isso representa um avanço estratégico para fortalecer a cadeia produtiva nacional”, afirma o especialista. Para Carolina Sellani, coordenadora do Grupo de Trabalho de Cannabis da Abiquifi, esse é um primeiro passo para evoluções ainda mais substanciais. “Anova regulamentação pode consolidar o Brasil como um dos principais players no segmento. Com maior capilaridade, a próxima etapa é superar os gargalos ainda existentes na relação entre prescritores, farmacêuticos e pacientes”, projeta.