Medicamento mais vendido do mundo, o Keytruda (pembrolizumabe), da MSD, tem como responsável pelo sucesso as suas indicações para o tratamento de diferentes tipos de câncer. Mas esse reinado está ameaçado por um concorrente chinês.
Trata-se do ivonescimabe, da empresa de biotecnologia Akeso. Segundo dados clínicos divulgados na Conferência Mundial sobre Câncer de Pulmão, o tempo demandado para que o tumor voltasse a crescer com a terapia asiática é quase o dobro em comparação ao blockbuster da MSD. Em média, o tratamento conteve o tumor por 11,1 meses, bem superior aos 5,8 meses de efeito do pembrolizumabe.
O medicamento já foi aprovado pelo órgão regulador chinês para alguns tipos de câncer de pulmão, mas ainda não conta com aprovações internacionais. Um ensaio global está em andamento e deve ser finalizado ainda em 2025.
Medicamento mais caro do mundo movimenta quase R$ 750 mi
O sucesso inicial do ivonescimabe pode indicar que o Keytruda ganhou um oponente à altura. E o mercado de atuação do medicamento é bem valioso. O segmento de oncologia movimenta em torno de US$ 130 bilhões por ano (R$ 747,2 bilhões). Com tamanho potencial, o mercado financeiro já voltou seu olhar para a Akeso.
Em setembro do ano passado, a Summit Therapeutics, farmacêutica norte-americana parceira da biotech chinesa e que licenciou o direito de comercializar o medicamento na América do Norte e na Europa, viu suas ações saltarem. Na ocasião, os papéis mais que dobraram de valor.
A empresa de biotecnologia, por sua vez, não está satisfeita. Em entrevista à Biotech TV, a CEO, Michelle Xia, afirmou que a companhia quer ganhar mercado. “Eu acredito que a indústria de biotecnologia chinesa desempenhará um papel importante globalmente. E nós iremos participar cada vez mais”, afirmou.
Biotecnologia chinesa está em ascensão
Apesar de a economia chinesa ter permanecido fechada até a década de 1980 e de a maioria das farmacêuticas do país serem estatais naquele momento, os últimos dez anos foram de grande avanço. Depois de quatro décadas, o foco das companhias mudou, visando à busca de terapias inovadoras.
Além do desenvolvimento interno, as empresas da China também vêm assinando contratos bilionários com farmacêuticas tradicionais. Um exemplo é a AstraZeneca, que fechou acordo com o CSPC Pharmaceutical Group no ano passado, no valor de US$ 1,92 bilhão (R$ 11 bilhões).
A própria MSD também busca o auxílio de companhias da China para ampliar seu portfólio. Para ingressar no mercado de obesidade, a farmacêutica deve desembolsar mais de R$ 12 bilhões para comercializar o HS-10535, da Hansoh Pharma.
“Sabíamos que a indústria de biotecnologia estava crescendo muito rapidamente na China, mas ela não era vista como ameaça real aos laboratórios inovadores dos Estados Unidos. Agora essa evolução está se tornando real, com o desenvolvimento de medicamentos de última geração”, explica a analista farmacêutica da empresa de investimentos AB Bernstein, Rebecca Liang.