Crédito para farmacêuticas supera R$ 4 bi em três anos
Montante de financiamentos liberado pelo BNDES é
quatro vezes superior ao do período de 2020 a 2022
por Márcia Queirós em


O crédito para farmacêuticas anda bem generoso. Segundo dados obtidos com exclusividade pelo Panorama Farmacêutico, o volume de financiamentos concedidos pelo BNDES às indústrias do setor atingiu R$ 4,52 bilhões entre 2023 e junho de 2025 – valor quatro vezes superior ao R$ 1,09 bilhão liberado pelo banco no mesmo período anterior.
Desde 2020, foram computadas 33 operações do gênero envolvendo laboratórios de capital nacional, somando R$ 5,61 bilhões. O governo Lula respondeu por 81% desses investimentos.
Ao avaliar o balanço de financiamentos ano a ano, o Panorama Farmacêutico constatou que, em 2020, o total aproximou-se de R$ 1 bilhão, impulsionado pela pandemia de coronavírus. O crédito voltou a esfriar e retomada só ocorreu a partir de 2023. O ano passado representou o auge desse política de investimentos do BNDES, a partir da implementação da Nova Indústria Brasil.
Crédito para farmacêuticas ano a ano
(em bilhões de R$)

Crédito para farmacêuticas segue com média expressiva em 2025
O crédito para farmacêuticas em 2025 parece acompanhar o ritmo do ano passado, com média mensal de R$ 211 milhões – próxima do patamar de R$ 272 milhões de 2024. Dos quatro financiamentos aprovados no primeiro semestre, dois deles foram destinados à Libbs e somam R$ 104,9 milhões, para aquisição de máquinas, equipamentos e bens industrializados, além do aumento da capacidade produtiva de suas plantas localizadas em Embu das Artes, na Região Metropolitana de São Paulo. O laboratório prevê encorpar a fabricação de medicamentos de síntese química, biológicos para tratamento de diferentes tipos de câncer, além de insumos farmacêuticos ativos.
O Laboratório Teuto-Brasileiro também teve acesso a recursos. O BNDES liberou, em fevereiro deste ano, R$ 90 milhões. O aporte será usado para o desenvolvimento de 14 novos medicamentos, com foco em diabetes e hipertensão. No mesmo mês, a Bionovis obteve R$ 650 milhões para acelerar a pesquisa e produção de insumos e medicamentos biotecnológicos de alta complexidade em Valinhos, no interior paulista. Câncer, doenças raras e autoimunes estão no radar.
Previsão para 2026
Reginaldo Arcuri, presidente-executivo do Grupo FarmaBrasil, informa que oito de 12 farmacêuticas nacionais já acessaram cerca de R$ 3,5 bilhões em empréstimos do BNDES nos últimos três anos. Os recursos fazem parte de um plano de investimento que prevê a aplicação de R$ 20 bilhões até 2026 – sendo R$ 13 bi para pesquisa e desenvolvimento, e R$ 7 bi voltados à modernização da infraestrutura, como fábricas, equipamentos e centros de inovação.
“A agilidade e precisão com que o banco tem analisado as propostas das nossas associadas asseguram a previsibilidade necessária para que a indústria farmacêutica brasileira continue crescendo de forma sólida”, destaca Reginaldo Arcuri.
Fomento do setor
Especialistas do setor atribuem esse contexto especialmente a dois governos. A gestão de Fernando Henrique Cardoso plantou o terreno para o crescimento do setor farmacêutico nacional, com medidas como a Lei da Propriedade Industrial, a criação da Anvisa e, em especial, a implementação dos medicamentos genéricos.
Essas decisões exigiram das farmacêuticas brasileiras uma completa revitalização dos seus parques industriais. Esse era um caminho obrigatório para adaptar a produção aos padrões de bioequivalência e bioimpedância requeridos pelos genéricos, além de enfrentar a concorrência das multinacionais – que detinham 60% do mercado até o início dos anos 2000.
Com as bases formadas no governo anterior, Lula colocou em prática uma política de Estado que tinha como meta formar empresas supernacionais. Elas deveriam ser capazes de competir globalmente com apoio dos recursos do BNDES, por meio de programas de incentivo como o Profarma (Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica), instituído em 2004. A Farmácia Popular, que nasceu em 2004, também foi usada para fomentar a produção de medicamentos. O enredo do terceiro mandato é o mesmo.
“E o SUS pode ser uma alavanca extremamente importante para o incentivo do complexo industrial da saúde. O poder de compra do setor público pode ser usado para incentivar a indústria localizada no país ou atrair fabricantes para o Brasil, independentemente da origem do capital”, reforça Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma.