A Covid-19 matou, por dia, duas crianças menores de cinco anos no Brasil, desde o início da pandemia. Ao todo, 1.439 crianças nessa faixa etária morreram em decorrência da doença nos dois primeiros anos da pandemia no país.
É o que mostra um levantamento feito pelo Observa Infância em parceria com a Fiocruz, com base em dados coletados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
Em 2020, foram registradas 599 mortes de crianças com até cinco anos em consequência da doença. Já em 2021, quando a letalidade da doença aumentou em toda a população, o número de vítimas infantis saltou para 840.
Metade dos óbitos registrados está concentrada na região Nordeste do país.
Dados preliminares divulgados pelo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde indicam que a média de duas mortes diárias se mantém este ano. Entre janeiro e 13 de junho de 2022, o Brasil registrou um total de 291 óbitos entre crianças menores de 5 anos.
Os dados de 2020 e 2021, analisados pelos coordenadores do Observa Infância, Cristiano Boccolini e Patricia Boccolini, passaram por revisão do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.
A análise destes dois primeiros anos da pandemia no Brasil mostra que crianças de 29 dias a 1 ano de vida são as mais vulneráveis.
A professora e epidemiologista Patricia Boccolini, da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE/FMP), alerta para a urgência na aprovação da vacina para essa faixa etária.
‘Bebês nessa faixa etária respondem por quase metade dos óbitos registrados entre crianças menores de 5 anos. É preciso celeridade para levar a proteção das vacinas a bebês e crianças, especialmente de 6 meses a 3 anos. A cada dia que passamos sem vacina contra Covid-19 para menores de 5 anos, o Brasil perde 2 crianças’, aponta Patricia.
A farmacêutica Pfizer informou que já prepara a documentação para solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o aval para liberação da vacina contra a Covid-19 para bebês acima de 6 meses até crianças de 5 anos.
Na semana passada, os Estados Unidos começaram a imunizar crianças com menos de cinco anos contra o coronavírus. A agência de saúde norte-americana expandiu autorizações de uso emergencial das vacinas da Moderna e da Pfizer para incluir crianças dessa faixa etária.
O pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Cristiano Boccoli explica que os dados se referem a óbitos infantis em que a Covid-19 foi registrada como causa básica e àqueles em que a doença é uma das causas da morte, ou seja, a infecção agravou alguma condição de risco preexistente ou esteve associada à causa principal de óbito.
‘Na análise do Observa Infância consideramos também as mortes em que a Covid-19 agravou um quadro preexistente. Quer dizer, embora nem todas essas crianças tenham morrido de Covid-19, todas morreram com Covid-19’, esclarece o pesquisador.
Nem todos os países registram os óbitos por coronavírus com informações por faixa etária. Até junho de 2022, dados coletados pelo Unicef em 91 países mostram que a Covid-19 foi a causa básica de óbito de 5.376 crianças menores de 5 anos no mundo. O Brasil responde por cerca de 1 em cada 5 dessas mortes.
O pesquisador ainda chama atenção para o fato de o Brasil contabilizar mais que o triplo de mortes de crianças com menos de 5 anos registradas nos Estados Unidos.
‘Os Estados Ungidos registram pouco mais de 500 óbitos até hoje. Mesmo em termos proporcionais, o Brasil apresenta uma taxa de mortalidade superior por Covid nesta faixa etária’, destaca.
Boccolini atribui o número alto de mortes comparado a outros países ao descontrole da pandemia e à desigualdade de acesso aos serviços de saúde entre as regiões do país, como a oferta de leitos de terapia intensiva, por exemplo.
Fonte: CNN Brasil