Das 86 empresas que tentaram IPO nos últimos dois anos, 20% estão em processo de reestruturação de dívidas e adiaram os planos de abertura de capital. É o que indicou um levantamento do Valor Econômico, que reúne seis players ligados ao mercado farmacêutico.
Ao todo, 16 companhias pediram para suspender as operações de IPO, ao mesmo tempo em que buscam alongar vencimentos ou negociar ativos para saldar dívidas que somam R$ 28 bilhões.
A lista setorial de quem desistiu do IPO contém as indústrias farmacêuticas Althaia e Teuto, a fabricante Coty, a rede de farmácias Nissei e as consultorias Bionexo e Interplayers. Deste grupo, duas estão em fase de renegociação de dívidas.
Empresas que tentaram IPO sofrem com juros e mercado volátil
As empresas que tentaram IPO foram ao mercado em um momento de recorde no mercado de ações no Brasil. Era o período da pandemia e alta liquidez em nível global.
Bancos centrais de todo o mundo despejaram dinheiro na economia para atenuar os efeitos da Covid-19. E em meio a uma temporada de juros baixos, as companhias tentaram apostar na captação de recursos via abertura de capital, o que ajudaria a sanear o caixa.
“Para parte dessas empresas que buscava levantar dinheiro na bolsa, a emissão de ações era uma opção mais barata que buscar crédito no mercado”, avalia Douglas Bassi, cofundador da consultoria de reestruturação Virtus BR.
Mas tudo mudou em 2022 com o cenário de elevação da taxa de juros – de 2% para 13,75% ao ano – e a maior volatilidade dos mercados. Há quase dois anos, a B3 não recebe nenhuma empresa com IPO concretizado.
Na visão de Roberto Zarour, da área de reestruturação do escritório Lefosse, parte das empresas que desistiram do IPO rejeitou a possibilidade de dar desconto no preço diante da pressão de investidores. Além disso, o vencimento das dívidas ficou muito concentrado em 2023 e 2024, já que os bancos flexibilizaram os pagamentos no contexto mais crítico da pandemia. A conta chegou.
Setor projetava recursos de até R$ 1 bi com IPO
Das empresas que tentaram o IPO, representam o canal farmacêutico e estão em reestruturação, a Coty foi a única a se posicionar oficialmente. A fabricante afirmou que “continuará monitorando as condições de mercado e avaliando futuras possibilidades relacionadas a processo de IPO parcial no Brasil”.
Já a Nissei tenta renegociar R$ 2,6 bilhões. Em agosto de 2020, a varejista contratou os bancos Bank of America, BTG Pactual, Itaú BBA e Safra para coordenar a operação de abertura de capital. A intenção era obter R$ 1 bilhão. Mas em janeiro de 2021, a rede já suspendeu o processo.
Agora, os esforços da Nissei parecem se concentrar na expansão orgânica. Um dos alvos seria a compra de lojas da Poupafarma no estado de São Paulo, por meio de uma oferta de R$ 18,9 milhões. O objetivo seria impulsionar a presença em cidades paulistas e em Santa Catarina. O Paraná é sede de quase 85% dos PDVs.
O Laboratório Teuto não tem dívidas em renegociação, mas também se frustrou na tentativa de emplacar a abertura de capital. A meta era arrecadar em torno de R$ 1 bilhão, com apoio de Bradesco, Itaú, JPMorgan Chase e Santander. Mas o processo não durou mais do que seis meses, entre janeiro e junho de 2021.