Escassez de radiofármacos prejudica tratamentos de saúde na Bahia

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A crise no Instituto de Pesquisa em Energia Nuclear (Ipen), que interrompeu a produção de radiofármacos fornecidos para todo o País, resultou na suspensão do tratamento de Jandira Gomes, 66 anos, recentemente operada de um câncer na tireoide. Mesmo com a aprovação no Congresso de R$ 63 milhões como crédito complementar para o Ipen, na última quinta-feira, ainda não é possível definir uma nova data para que ela receba a terapia com iodo radioativo.

De acordo com a médica Fernanda Fahel, do setor de Medicina Nuclear do Hospital Aristides Maltez (HAM), que atende apenas pelo SUS, o Ipen informou que nesta semana o envio de Iodo-131 para a unidade será em quantidade suficiente para apenas um procedimento. Ela conta que a situação dos pacientes que necessitam da terapia com iodo é especialmente delicada, pois é preciso interromper a reposição de hormônio 30 dias antes do procedimento.

Como teve a tireoide removida por conta do câncer, Jandira precisa tomar um hormônio sintético para substituir o que seria produzido pela glândula. A radioiodoterapia dela estava marcada para o último dia 28 e Jandira estava com bastante mal-estar por conta da suspensão do tratamento, então a médica liberou para que reiniciasse o uso diário do hormônio. Além disso, também é necessário adotar restrições alimentares, acrescenta.

Remarcação

Com uma demanda semanal média de 25 terapias envolvendo radiofármacos, também chamados de radioisótopos, o HAM ainda não tem como definir a remarcação de todos os procedimentos que foram suspensos após o dia 20 de setembro. Conforme comunicado pelo Ipen, nesta semana, o fornecimento reduzido se aplicará também ao lutécio e outros radiofármacos utilizados em tratamentos contra o câncer.

Os produtos também são utilizados, explica Fernanda, nos exames de cintilografia, para diagnóstico de câncer nos ossos e outras partes do corpo, e exames cardiológicos, sobretudo de problemas coronarianos, somando uma demanda de 180 procedimentos semanais. Com o crédito suplementar liberado pelo Ministério da Economia no dia 22, esses exames foram retomados após uma semana de interrupção.

Logística

‘Uma característica dos radiofármacos é que eles têm o que a gente chama de meia-vida: se eu pego um material radioativo e deixo em cima da mesa, a atividade dele vai cair ao longo do tempo’, explica o coordenador do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital São Rafael, Lucas Vieira. No caso do tecnécio, usado nas cintilografias, por exemplo, a atividade cai pela metade a cada seis horas.

A meia-vida inviabiliza que os serviços façam estoque, precisando receber os produtos semanalmente. Vieira conta que o material-base é importado, mas o Ipen é responsável por fazer a manipulação e distribuição dos radiofármacos, respondendo por, aproximadamente, 85% do abastecimento nacional.

No São Rafael, as duas primeiras semanas de suspensão do fornecimento foram mais críticas. Na última quarta-feira, as entregas ainda não estavam regularizadas, com envio de quantitativo de 10% a 50% menor do que o solicitado.

Segundo o coordenador, o impacto no atendimento se consolidou por meio do remanejamento de exames e tratamentos. Cerca de 10% dos procedimentos envolvendo radioisótopos chegaram a ser suspensos, mas devido à decisão dos médicos em realizar outros tipos de teste diagnóstico.

Na unidade, além dos pacientes oncológicos e com problemas cardíacos, também são avaliadas, em menor volume, pessoas com doenças renais, pulmonares e em outros órgãos.

Para o médico, uma decisão que pode auxiliar na prevenção de novas crises é a liberação permanente para que as instituições de saúde possam fazer a compra direta desses produtos nos fornecedores fora do País. Porém, reconhece que esse modelo não é viável para todos os hospitais, mesmo na rede privada. A importação foi permitida em caráter provisório pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 29.

Responsável técnica do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital Santa Izabel, Adelina Sanches conta que verificou a possibilidade de importação direta do lutécio usado para tratamento de tumores neuroendócrinos, mas constatou que o custo chega a triplicar. Mesmo depois de cessada a fase crítica, na última quinta-feira, a unidade tinha pelo menos três pacientes oncológicos com sessão de tratamento atrasada.

Nesta semana, o hospital irá receber cerca de 20% menos do volume habitual dos produtos, mas a expectativa é de normalização nas próximas semanas, com a aplicação dos R$ 63 milhões liberados como crédito complementar.

A médica aponta que o valor deve garantir um fornecimento normal de radiofármacos, em todo o Brasil, até janeiro de 2022.

A suspensão de produção ocorrida na segunda quinzena de setembro foi resultado na redução no orçamento inicialmente previsto para este ano em quase 40%, diz Adelina Sanches.

Para a responsável técnica, a preocupação agora é que o orçamento para 2022 seja adequado, considerando o câmbio desfavorável e a demanda contínua de tratamentos oncológicos em todo o Brasil.

Estado

Na rede estadual, a Secretaria da Saúde da Bahia informou que apenas o Hospital Ana Nery utiliza radiofármacos, e que a diretoria da unidade afirmou não ter havido comprometimento no atendimento.

Fonte: A Tarde

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/congresso-aprova-r-63-milhoes-para-producao-de-radiofarmacos/

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