Unidades municipais têm agendado a imunização contra a tuberculose para não desperdiçar doses, mas a prefeitura nega o desabastecimento. A única fábrica da vacina no Brasil está suspensa pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
O Ministério da Saúde, que passou a importar o produto em 2018, afirma que a distribuição está regular em todo o país.
Por Chico Prado
O primeiro filho de Isabel Lusis nasceu há dez dias. Com ele, a preocupação sobre onde o bebê tomaria a vacina BCG, contra Tuberculose. O que seria um procedimento simples, de rotina, se tornou uma dor de cabeça para os pais. Ainda na maternidade, a mãe soube que a dose não estava disponível. Isabel e o marido passaram, então, a ligar para clínicas particulares e descobriram que a vacina desapareceu das prateleiras. “A informação inicial que a gente teve era de que a vacina tinha acabado. Mas há muitos detalhes. A gente telefonou para várias clínicas particulares, e todas disseram que a vacina estava em falta”, lamentou Isabel. A CBN entrou em contato com clínicas de várias regiões de São Paulo. Em todas, praticamente a mesma resposta. “BCG está em falta e sem previsão, por enquanto. O laboratório não está fornecendo”. “Tá em falta. Já tem uns quatro meses que não vem para nós”. “O laboratório não tem pra nos vender”.
Isabel conta que a falta da BCG em clínicas particulares criou outra dificuldade: encontrar vacina e data disponíveis em postos da prefeitura. Há uma semana, no de Moema, na Zona Sul, ela conseguiu marcar para a manhã desta terça-feira.
“Chegando terça-feira de manhã, vocês já conseguem. A gente já vai estar com a vacina, pode chegar de manhã que vocês já conseguem vacinar”, disse um atendente do posto.
A prefeitura nega o desabastecimento, alega que crianças nascidas em hospitais públicos da cidade recebem a dose antes da alta hospitalar e que a demanda é baixa. Em nota, a Secretaria da Saúde de São Paulo explicou que o atendimento nas unidades municipais acontece por meio de agendamento para “otimizar a utilização do conteúdo do frasco, que possui validade de seis horas, após a abertura da embalagem”.
Em uma clínica particular da Bela Vista, com o produto em falta, a estratégia é a mesma.
“Temos ela pra esta quinta-feira, das 08h às 13h. A vacina está entrando em falta e é feita em dez doses. Para imunizar a maior parte dos bebês, a gente abre em um dia, só”, disse a atendente da clínica.
O Ministério da Saúde alega que a distribuição de BCG está regular em todo o país. A Fundação Ataulpho de Paiva, que fica no Rio de Janeiro, se apresenta como a única produtora da vacina no Brasil.
Em 2016, sua fabricação foi suspensa pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, depois que uma inspeção constatou o descumprimento de “boas práticas”. Um comunicado no seu site diz que a instituição vem trabalhando para retomar a produção em maio.
O Ministério da Saúde confirmou que deixou de comprar da fundação.
Sem detalhes, informou que neste ano passou a importar a vacina de um laboratório indiano.
Fonte: Portal Rádio CBN
