Desde 2019, os furtos no varejo não eram tão comuns. De acordo com um estudo da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe), com apoio da KPMG, o crime é responsável por uma média de 31,7% das perdas do setor em 2023. As informações são do Valor Econômico.
Outro dado alarmante é que o índice de perdas totais, que também leva em conta erros e fraudes, cresceu no ano passado e chegou ao seu recorde histórico. Com uma taxa média de 1,57% da venda, o indicador ficou 0,9% acima do registrado em 2022 (1,48%).
Apesar do percentual na casa do 1%, o impacto é maior do que se imagina. O varejo brasileiro movimentou R$ 2,23 trilhões no último ano, dos quais estima-se que R$ 35 bilhões foram decorrentes de perdas e R$ 11 bilhões dessa fatia teria sido furtada.
O estudo também aponta que tanto os furtos internos (9,8%), aqueles cometidos por colaboradores; quanto os externos (22%), cresceram. “Isso está exigindo uma atenção muito maior das lojas sobre o tema de alguns anos para cá”, afirma o presidente da associação, Carlos Eduardo Santos.
Medicamentos badalados são alvo
Um aspecto que pode tornar esse movimento ainda mais intenso no varejo farmacêutico são os remédios da moda, como o Ozempic, da Novo Nordisk. A caneta de semaglutida, destinada ao tratamento do diabetes, ganhou fama pelo uso off-label para emagrecimento. Com isso, a demanda paralela pelo fármaco cresceu.
Com um preço na casa dos R$ 1.100, o produto tem sido alvo de roubos, mesmo com os aparatos de segurança já adotados pelas farmácias.
Furtos no varejo não são a principal causa de perdas
Apesar de voltar a um patamar próximo de 2019, os furtos ainda não são a maior dor de cabeça para o varejo. Segundo a Abrappe, as quebras operacionais, quando um produto é danificado ou passa de sua data de validade, ainda são a principal causa de perdas, representando 43% delas.
Esse foi um movimento que começou em 2021. Nas edições de 2017 e 2019, os furtos eram o principal motivo, com, respectivamente 39% e 38% das perdas, contra 35% das quebras em ambas as edições.
No pós-pandemia, em 2021, foi que a situação mudou de figura. As quebras operacionais se tornaram responsáveis por 39% das perdas, contra 28% dos furtos, que voltaram a acelerar na última edição do estudo.
Impacto dos cortes de gastos
Com vendas menores após a pandemia e uma taxa de juros mais alta de 2021 em diante, o varejo precisou se readequar à nova realidade. E isso acabou trazendo impactos consideráveis quando o assunto são as perdas no setor.
“É aquela história, quando é preciso cortar, esse departamento (prevenção de perdas) é um dos primeiros a sentir, e depois a conta vem”, afirma o CEO da Nextop, Juliano Camargo.