Santa Casa de São Carlos pode suspender atendimento em UTI Covid-19 por falta de anestésicos e 24 pedidos de demissão

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Com falta de anestésicos e 24 pedidos de demissão de profissionais de saúde na quarta-feira (24), a Santa Casa de São Carlos (SP) informou que o atendimento na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid-19 corre risco de ser suspenso nos próximos dias.

No dia 19 de março, o hospital já tinha suspendido todas as cirurgias eletivas por falta de fentanil (anestésico), atracurio (bloqueador neuromuscular) e midazolam (droga para sedação).

O G1 entrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda posicionamento sobre a falta de anestésicos e previsão de data de entrega.

Estoque para 2 dias

Segundo o hospital, o estoque de anestésicos é suficiente apenas para dois dias.

‘O governo federal confiscou e centralizou a distribuição dos medicamentos produzidos pelos principais fabricantes do país. Com isso, a quantidade prevista para suprir a demanda desta semana ainda está incerta, porque não fomos até agora informados formalmente pelo Ministério da Saúde’, afirmou o infectologista e diretor técnico da Santa Casa, Vitor Marim.

Segundo o último boletim divulgado na tarde de quarta, a Santa Casa tem 30 adultos internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que está com 100% de ocupação, e 1 criança na UTI infantil (25% de ocupação). Também tem 3 pacientes em enfermaria (37,5% de ocupação). O hospital ainda tem 4 leitos de cuidados intermediários, com 50% de ocupação.

Pedidos de demissão

A situação foi agravada pelo pedido de demissão de 2 enfermeiros e 22 técnicos de enfermagem. Segundo a Santa Casa, a saída em massa foi provocada pelo esgotamento dos profissionais.

‘Nós já trabalhávamos com um déficit de profissionais e agora, com essas demissões, corremos o risco de não mais manter os atendimentos e a operação dos leitos de UTI, enfermaria e de cuidados intermediários de pacientes Covid’, disse Marim.

‘Nós já trabalhávamos com um déficit de profissionais e agora, com essas demissões, corremos o risco de não mais manter os atendimentos e a operação dos leitos de UTI, enfermaria e de cuidados intermediários de pacientes Covid’, disse Marim.

O hospital informou que está analisando qual é o número de leitos Covid e não-Covid que conseguirá manter nos próximos dias.

Segundo a Santa Casa, 10 enfermeiros e 7 técnicos estão passando por processo seletivo e devem ser contratados nos próximos dias.

A Santa Casa também está notificando a Secretaria Municipal de Saúde, a Câmara de Vereadores, o Comitê Emergencial de Combate ao Coronavírus, o Departamento Regional de Saúde de Araraquara (do qual São Carlos faz parte), o Governo do Estado de São Paulo, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal sobre a falta dos anestésicos e sobre a possibilidade de suspender novas admissões nas unidades Covid.

São Carlos enfrenta uma alta de mortes por Covid-19, com 56 óbitos somente em março. Desde o início da pandemia são 193 mortes.

Os casos também estão em alta com 2.688 registros em março, sendo 12.926 no total.

‘Kit intubação’

Na terça-feira (23), o governo de São Paulo informou que o estado tem estoque de medicamentos necessários para intubação de pacientes em estado grave de Covid-19 para só mais uma semana.

Segundo a Secretária Estadual da Saúde, o risco de desabastecimento se deve à falta de envio dos remédios por parte do governo federal.

Os neurobloqueadores são usados para relaxar a musculatura, a caixa torácica e ajudam os pacientes permanecer com ventilação mecânica e a suportá-la. Entre os mais usados no país, estão atracúrio, rocurônio e cisatracúrio.

Por conta do baixo estoque dos remédios do kit intubação, a Secretaria da Saúde diz ter orientado os gestores dos serviços de saúde que compõem as redes pública e privada do estado a manter o monitoramento da demanda e a utilizar “racionalmente estes produtos e otimizem medidas para garantir assistência a quem precisa”.

Em nota ao G1 na terça, o Ministério da Saúde disse que começou a entregar no mesmo dia mais de 1,4 milhão de unidades de medicamentos de intubação orotraqueal para todo o Brasil em parceria com duas empresas fabricantes.

Ainda de acordo com a pasta, o cronograma de entregas é feito com base no monitoramento realizado nos estados e municípios, em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais da Saúde (Conasems) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Fonte: G1.Globo

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/24/saude-negocia-entrega-de-28-milhoes-de-medicamentos-para-intubacao/

A luz no fim do túnel é a vacina, diz CEO da Ypê, que doou para o Butantan

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Quando a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil, há um ano, a Ypê investiu na produção de álcool gel para doação e conseguiu disponibilizar as primeiras unidades em 72 horas já com a aprovação da Anvisa. Desde então foram 3,3 milhões de frascos doados. A companhia seguiu dessa forma ao longo do ano e doou 260 toneladas de sabão em barra, além de equipamentos hospitalares que permitiu a abertura de 20 leitos na Santa Casa Anna Cintra, em Amparo, cidade onde se localiza a sede da Ypê.

Ao todo foram 37 milhões investidos em doações que visam o combate da pandemia da Covid-19. “Meu pai, fundador da Ypê, sempre atuou em causas sociais e ambientais e não seria diferente agora”, diz Waldir Beira Júnior, presidente da Ypê. Na mais recente atuação a companhia disponibiliza 1 milhão de reais para a construção da nova fábrica da vacina contra o novo coronavírus do Instituto Butantan.

“Estamos todos passando por aflição e sofrimento. A única luz que enxergamos no fim do túnel é a vacina, e temos o dever de colaborar para ampliar a produção das doses. Nosso compromisso é com a sociedade e com as instituições que estão engajadas nesse trabalho, como já era o caso do Butantan antes da nossa doação. O mesmo acontece com iniciativas privadas”, afirma Júnior.

O executivo entende que as demandas suportadas pela companhia não, necessariamente, foram simples. Além da doação em si, por vezes foi preciso toda uma mudança na estratégia de atuação, como quando a fabricação de álcool gel exigiu mudanças na linha de produção. Além disso, por ser uma fabricante de produtos essenciais, o trabalho em fábrica não pode parar e os protocolos de segurança precisam ser seguidos e monitorados sempre.

Apesar do crescimento de hábitos de higiene e consumo de alguns itens de limpeza, a Ypê não teve um ano fácil. “Trabalhamos com muitas intempéries. Tivemos um desafio em relação a disponibilidade de insumos e uma pressão de custo que não podemos repassar ao consumidor. Por outro lado, alguns segmentos de limpeza cresceram. Na prática, vendemos mais, mas não necessariamente tivemos resultados melhores”, afirma. A empresa não comenta o faturamento. Ainda assim, para Júnior, uma coisa é certa, enquanto a pandemia continuar a empresa trabalha para ajudar as instituições no combate e no desenvolvimento da vacina.

Fonte: Exame

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/25/saiba-quando-voce-vai-tomar-a-vacina-contra-covid-19-e-como-anda-a-entrega-das-doses/

UFV desenvolve dois testes rápidos

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A Universidade Federal de Viçosa (UFV) será uma das primeiras instituições brasileiras a desenvolver testes rápidos sorológicos para detecção de Covid-19 com tecnologia própria. E o que é melhor: a custo dez vezes menor que as testagens que utilizam kits importados.

Dois projetos já estão prontos. O primeiro, que utiliza uma técnica já conhecida, será utilizado para um inquérito epidemiológico do município de Viçosa, na Zona da Mata. O outro é um novo teste para detecção rápida de anticorpos contra o vírus que dá resultados seguros em até dez minutos.

As tecnologias foram desenvolvidas pela equipe do professor Tiago Antônio de Oliveira Mendes, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Ele explica que o primeiro teste desenvolvido na UFV utiliza a proteína N do coronavírus, a mesma usada em outros testes comerciais.

‘Por meio de engenharia genética nós conseguimos fazer com que uma bactéria produza esta proteína em larga escala no próprio laboratório da Universidade’. Enquanto um kit importado vale cerca de R$ 200, o custo dos testes desenvolvidos será em torno de apenas R$ 2. A tecnologia foi desenvolvida com recursos da universidade, com apoio do CNPq.

Com o baixo custo e a independência tecnológica, a administração da UFV está planejando utilizar esta tecnologia para realizar um inquérito epidemiológico do coronavírus em Viçosa, em colaboração com professores dos Departamentos de Microbiologia, Fitopatologia e Medicina e Enfermagem. A ideia é coletar amostras de sangue de parte da população para verificar a porcentagem de pessoas que já foram infectadas e já apresentam anticorpos.

Para Tiago Mendes, o inquérito é fundamental para acompanhar a evolução do vírus e embasar medidas de biossegurança mais efetivas. Os laboratórios da UFV têm capacidade de analisar mais de 300 amostras de sangue por dia para realização deste inquérito.

Tecnologia inédita

A segunda tecnologia desenvolvida pela UFV é inédita e bastante sofisticada. Os pesquisadores desenvolveram um antígeno para testes de detecção do Sars-CoV-2 baseado em uma proteína quimérica, ou seja, não existe na natureza e foi totalmente desenvolvida por meio de bioinformática.

Eles selecionaram pedaços de proteínas diferentes do coronavírus, eliminando, inclusive partes que são parecidas com outros vírus que também causam doenças respiratórias, como a gripe, por exemplo, e que poderiam confundir o diagnóstico de Covid-19, como acontece em testes que utilizam uma única proteína.

O novo antígeno também é capaz de detectar o sinal da presença de anticorpos com maior precisão. Eles também selecionaram peptídeos que reagem mais rapidamente às infecções. Com isso, será possível usar este teste sorológico já a partir do sétimo dia de sintomas, acompanhando a quantidade de anticorpos produzidos. Nos testes comerciais a detecção só se dá a partir do 14º dia. A acurácia, ou seja, a exatidão performance diagnóstica dos testes é de 97% e foi validada em análises de amostras de sangue de pacientes de Viçosa, Belo Horizonte e Salvador.

Por ser inédita, a tecnologia de produção da proteína quimérica está em fase de transferência para uma empresa que cuidará do registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ficará responsável pela produção do antígeno e pela comercialização dos testes rápidos. A patente será dividida entre a UFV e a empresa em regime de cotitularidade.

Fonte: Diário do Comércio MG

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/24/farmacias-ultrapassam-2-milhoes-de-testes-rapidos-da-covid-19-em-2021/

Doses a todos? 6 vezes em que Ministério da Saúde reduziu entrega de vacina

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Apesar do discurso pró-vacinação adotado recentemente pelo governo federal, o calendário brasileiro para imunizar a população anda a passos lentos. Entre os problemas, está o constante adiamento ou redução na entrega das vacinas.

Na terça (23), o governo alterou o cronograma pela sexta vez. Serão quase 10 milhões de doses a menos em abril do que o prometido inicialmente. Veja quando as mudanças aconteceram.

2 de março de 2021

Treze dias depois de o Ministério da Saúde anunciar uma estimativa de 46 milhões de doses da vacina disponíveis, a pasta divulgou nova previsão, com 39,1 milhões de doses. Ou seja, quase sete milhões a menos.

4 de março de 2021

Governo prevê ter só um quinto das vacinas de Oxford esperadas para março e a data de entrega é adiada para o período entre abril e julho. Com isso, a previsão total de vacinas para o mês caiu para 38 milhões de doses.

6 de março de 2021

Ministério divulgou um novo cronograma, desta vez, com 30 milhões de doses estimadas para março. A redução aconteceu com a perda de 8 milhões de doses da Covaxin que seriam importadas por meio da empresa Bharat Biotech, da Índia. O produto ainda não tem aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

8 de março de 2021

Pazuello afirmou que o governo pretendia, na verdade, distribuir algo entre 25 milhões e 28 milhões de doses. Ou seja, até 5 milhões a menos do que o divulgado dois dias antes por sua pasta.

10 de março de 2021

O então ministro reduziu pela quinta vez sua previsão. Desta vez, em até 3 milhões em relação ao anúncio anterior e à metade da primeira previsão, passando para uma quantidade entre 22 milhões e 25 milhões.

Fonte: BOL

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/25/saiba-quando-voce-vai-tomar-a-vacina-contra-covid-19-e-como-anda-a-entrega-das-doses/

Urina escura, inchaço, dor: médicos relatam estragos do kit covid nos rins

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Medicamentos do “kit covid”, que não têm eficácia comprovada contra a doença causada pelo novo coronavírus, já provocaram graves danos aos rins de pacientes, segundo profissionais de saúde que trabalham na linha de frente do combate à pandemia ouvidos pelo UOL. O kit é composto, principalmente, por quatro remédios: hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes.

A combinação dos remédios é considerada “uma bomba” no corpo pelos médicos e pode causar desde hemorragias até hepatite medicamentosa. Há pacientes na fila de transplante de fígado depois de terem tomado o kit, conforme revelou reportagem recente do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Os médicos, no entanto, ressaltam que o diagnóstico da hepatite causada pelos medicamentos, principalmente a ivermectina, é feito de maneira criteriosa individualmente nos pacientes. Até o momento, não há um levantamento oficial sobre esse cenário.

Mas, de acordo com os relatos de profissionais de saúde de grandes hospitais do estado, o kit pode estar diretamente relacionado aos danos graves no fígado e rins dos pacientes que chegam às UTIs depois de terem tomado os remédios. Nas últimas semanas, tem aumentado o número de pessoas nesta situação.

O “kit covid” ficou famoso por causa do governo federal. O presidente Jair Bolsonaro e o Ministério da Saúde já defenderam o uso dos medicamentos como solução para a pandemia de covid-19. Recentemente, a equipe tentou desembarcar do discurso, mas o presidente ainda defende o “tratamento precoce”, que inclui parte desses medicamentos comprovadamente ineficazes.

Aumento das vendas

Segundo o CFF (Conselho Federal de Farmácia), o total de unidades vendidas de ivermectina subiu 557% em 2020 em comparação com 2019, sendo dezembro o mês recordista de vendas da droga.

A AMB (Associação Médica Brasileira) divulgou uma nota afirmando que o uso de cloroquina, ivermectina e de outros fármacos recomendados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tratamento ou prevenção da covid-19 deve ser banido.

O coordenador de assistência do Hospital das Clínicas da Unicamp, Plínio Trabasso, afirma que os medicamentos podem causar um “efeito cascata” no corpo do paciente. O próprio HC da Unicamp afirmou ter registrado uma morte relacionada ao “kit covid”.

De acordo com ele, a recomendação é não usar medicamentos que não tenham comprovação científica contra o coronavírus.

Trabasso diz que o uso dos medicamentos combinados por um longo período começa comprometendo o fígado, responsável por filtrar tudo o que ingerimos, causando uma grave inflamação por excesso de medicamentos -a hepatite medicamentosa. Quanto mais tempo e maior a quantidade que o paciente tomar dos remédios, pior deve ser o grau da infecção.

A consequência é um comprometimento do trabalho dos rins, que também filtram e regulam a quantidade de compostos presentes no organismo, e podem até parar de funcionar. Os pacientes que chegam a esse estágio começam a apresentar urina com “cor de café” e uma dor “insuportável” para urinar, afirma o médico.

Os profissionais de saúde consultados pela reportagem ainda relatam que os pacientes nesse estágio podem ficar inchados, da cabeça aos pés, e soltar líquidos por todo corpo, como um suor intermitente.

Tudo isso porque essas medicações têm efeitos colaterais, como qualquer remédio. Mas com algumas diferenças: quando você faz um coquetel de remédios, você potencializa os efeitos adversos de todos, faz com eles se combinem. No caso da covid, você ainda está tomando uma quantidade absurda de remédios que sequer fazem efeito para a doença. O único ‘ganho’ é o risco de ter um quadro mais grave.

Plínio Trabasso, infectologista do Hospital das Clínicas da Unicamp

O próprio tratamento fica mais difícil porque os remédios fazem com que o sistema imunológico fique “super-resistente” a outros remédios. Nem os antibióticos mais fortes costumam fazer efeito, relatam os profissionais de saúde. O fim pode ser uma septicemia, a infecção generalizada do corpo, levando à morte.

Enfermeiro tratou a própria tia em UTI

Um dos enfermeiros que conversou com UOL disse que viu esse quadro se desenvolver com sua tia. Ele trabalha em um hospital público no interior de São Paulo e pediu para não ser identificado.

O profissional de saúde contou que houve intensas discussões entre seus familiares pelo uso dos medicamentos do “kit covid” no fim do ano passado. Segundo o enfermeiro, sua tia tomou os medicamentos indiscriminadamente e o propagandeava como “cura da covid” nos grupos de WhatsApp.

Passados dois meses, o profissional da saúde chegou a um plantão na UTI voltada para covid-19 e encontrou o nome da tia como a mais nova paciente. Levou um susto. Em cinco dias, ela teve infecção generalizada.

O infectologista da Universidade de São Paulo, Benedito Lopes Fonseca, chama a atenção para outro fato. De acordo com ele, os casos graves nos rins e fígado também podem ser consequência direta da ação do vírus da covid-19 no organismo, uma vez que a ciência ainda estuda os efeitos da doença no corpo.

O problema no uso destas medicações é que está todo mundo tentando encontrar relatos de efeitos adversos a estas drogas enquanto se esquecem que a própria doença pode acometer o fígado e as pessoas podem usar outras drogas, e mesmo alguns chás e fitoterápicos. Todas estas investigações devem ser feitas da maneira mais cientificamente adequadas.

Fonte: BOL

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/25/pacientes-vao-para-fila-de-transplante-de-figado-apos-usar-kit-covid/

Covid-19: a polêmica mudança na contagem de mortos aplicada (e cancelada) pelo Ministério da Saúde

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Na terça-feira (23/03), a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde fez algumas alterações no sistema informatizado que ajuda a contabilizar os casos e as mortes por covid-19.

A partir de então, para abrir uma ficha de um novo caso de internação pela doença, seria necessário informar o Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou o Cartão Nacional de Saúde (CNS) do indivíduo.

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O problema é que nem sempre os profissionais da saúde (que são responsáveis por fazer todo esse procedimento burocrático) têm essas informações em mãos.

As mudanças deixaram o sistema ainda mais lento, o que dificultou a inclusão de novas informações no pior momento da pandemia, com um crescimento exponencial da quantidade de infectados e mortos pela infecção com o coronavírus.

“É como se estivessem trocando as peças de um carro que está em alta velocidade”, descreve o pesquisador em saúde pública Marcelo Gomes, do Programa de Comunicação Científica da Fundação Oswaldo Cruz.

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Para completar, a alteração não foi informada aos Estados e Municípios, o que gerou protestos do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).

Após pressão das equipes de vigilância em saúde, o ministério voltou atrás e retirou a obrigatoriedade de informar o CPF, entre outros dados.

A informação foi confirmada numa nota assinada em conjunto por representantes do Conass e do Conasems.

Numa coletiva de imprensa realizada na tarde desta quarta-feira (24/03), o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez comentários sobre a polêmica:

“Em relação a essa questão da notificação de óbitos, o ministério vai funcionar 24 horas, vai existir uma secretaria para discutir esse tema e o compromisso do governo é com a transparência. Nós vamos colocar os dados de maneira clara não só em relação aos óbitos, mas também sobre a disponibilidade de leitos e o diagnóstico. Vamos fazer essa questão de maneira muito transparente para que a população brasileira tenha confiança no Estado”, discursou.

“Agora há pouco, estive no Conasems e no Conass e tratei da questão de uma maneira muito fraterna, como não poderia deixar de ser”, completou Queiroga

Especialistas indicam que esses percalços nos sistemas de notificação podem afetar a contabilização de mortes por covid-19 e até provocar uma diminuição artificial nos números nos boletins epidemiológicos divulgados a partir de hoje.

Na prática, o total de óbitos que será notificado pode ficar ainda mais distante da realidade que acontece no país.

Mas qual a razão dessas mudanças justamente agora?

Mais clareza nos dados

A legislação brasileira estabelece que todo paciente que é internado no hospital com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) precisa obrigatoriamente ter seus dados notificados ao Ministério da Saúde por meio do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (conhecido como Sivep-Gripe).

Esse sistema é utilizado há anos e permite saber quantos casos de infecções respiratórias necessitaram de hospitalização e evoluíram para óbito no país.

No contexto da pandemia, a maioria dos indivíduos que apresentou problemas deste tipo em 2020 e 2021 teve covid-19.

No dia 23 de março, o Ministério da Saúde modificou esse sistema e tornou alguns campos de preenchimento obrigatório.

A principal alteração era a necessidade de ter o número de CPF ou do CNS do paciente.

“A ideia até é boa. O CPF ou o CNS evitam duplicidades, ajudam na identificação de suspeita de reinfecção e permitem o cruzamento com outros bancos de dados”, avalia Gomes.

“Mas há problemas de ordem prática. Isso implica a necessidade de o paciente estar com o CPF em mãos. Do contrário, o agente de saúde tem que pesquisar o CNS ou fazer um novo cadastro”, completa.

A ficha completa é dividida em 83 campos diferentes, alguns deles com mais de uma pergunta.

Essas informações são espalhadas em quatro categorias: obrigatórias, essenciais, internas e opcionais.

Como o próprio nome já adianta, sem as informações consideradas obrigatórias, ficava impossível fazer uma nova notificação no Sivep-Gripe.

“Com isso, aquelas fichas atrasadas que precisariam ser digitadas e não têm informação do CPF não entrariam no sistema, já que esse campo passaria a ser obrigatório”, explica o estatístico e pesquisador em saúde pública Leonardo Bastos, da FioCruz,

Outra modificação importante no Sivep-Gripe foi a criação de um módulo para saber se o paciente hospitalizado já foi vacinado ou não – assim, seria possível medir a efetividade dos imunizantes e entender como eles estão se saindo no mundo real.

Problemas e entraves

As modificações pegaram de surpresa as equipes de saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia.

“O pessoal que faz a vigilância estava pirando”, aponta Gomes.

Além do aumento da demanda (mais pacientes é sinônimo de mais fichas que precisam ser preenchidas), as alterações deixaram o Sivep-Gripe lento e instável nas últimas horas.

Portanto, num momento em que os novos casos de covid-19 sobem vertiginosamente, a tendência era que a pilha de fichas fora do sistema só cresceria.

Isso, por sua vez, levaria a uma subnotificação ainda maior de casos e mortes pela doença.

Bastos entende que isso poderia ter um impacto imediato e também no longo prazo.

“Os dados que usamos para fazer análises sobre a pandemia são referentes à semana passada, então pode ser que os próximos relatórios apresentassem problemas”, avalia.

Após a pressão das equipes de vigilância, que se sentiram muito pressionadas pela nova determinação, a obrigatoriedade do CPF ou do CNS foi suspensa por enquanto pelo Ministério da Saúde.

Pontos de vista

O Conass e o Conasems lançaram uma nota em conjunto para esclarecer que pediram “a retirada temporária da obrigatoriedade do preenchimento de campos como CPF, CNS, nacionalidade e imunização do paciente internado no sistema Sivep Gripe”.

“A solicitação ocorreu pela ausência de comunicado aos estados e municípios em tempo oportuno. Houve o compromisso do ministério de que a solicitação será atendida ainda hoje”, completam as entidades.

Por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde confirmou a suspensão:

“A medida foi realizada após solicitação do Conass e Conasems pela ausência de comunicado aos estados e municípios em tempo oportuno. A pasta esclarece que, desde ontem, foi observada uma instabilidade no SIVEP-Gripe relacionada às atualizações do sistema.”

Fonte: BBC Brasil

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4 ministros, aversão ao isolamento, falta de vacina: a escalada que levou o Brasil às 300 mil mortes por covid-19

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O Brasil alcançou nesta quarta-feira (23/3) a marca de 300 mil mortes por covid-19, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Em pouco mais de um ano desde a confirmação do primeiro caso da doença no país, em 26 de fevereiro de 2020, o Brasil precisou lidar não só com um vírus com capacidade de transmissão inédita, mas também com novos e velhos problemas sociais e políticos que agravaram a resposta à pandemia.

Esta trágica combinação alçou o Brasil ao segundo lugar de país com mais mortes por covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, onde 544.922 pessoas já morreram pela doença.

O tamanho da população de ambos países poderia explicar parcialmente a liderança em números absolutos. Entretanto, a posição do Brasil em termos relativos também é significativa: está no 23º lugar na taxa de total de mortes por um milhão de habitantes, segundo a plataforma Our World in Data.

E o número de novos óbitos diários por um milhão de habitantes do Brasil está crescendo desde novembro de 2020, enquanto para os Estados Unidos este número só diminui desde janeiro de 2021. O momento atual do Brasil é de “maior colapso sanitário e hospitalar da história”, segundo relatório da Fiocruz.

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Para os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, ignorar e subestimar a realidade são fatores que estão na raiz de todos os problemas que levaram o país ao colapso.

E essa negação encontrou ressonância nos gestores públicos de cidades, estados e governo federal, na comunidade médica e na própria população brasileira.

“O negacionismo é o eixo central que permitiu a sucessão de erros e a total ausência de preparação para um momento como este”, analisa a enfermeira Ethel Maciel, doutora em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo.

Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a médica Gulnar Azevedo e Silva avalia que particularmente a falta de protagonismo do governo federal foi uma posição “deliberada”.

“Um ano já era suficiente para se ter aprendido alguma coisa para a gestão pública da pandemia, mas a descoordenação foi deliberada: não há uma preocupação do governo federal para resolver essa crise.”

Já o médico Marcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), chama a atenção para a falta de medidas de prevenção contra o vírus no país.

“O pouco que fizemos, em grande extensão, foi minado pelas lideranças federais, que nem sequer estimularam as medidas mais básicas de proteção”, diz.

Confira a seguir seis fatores que ajudam a explicar a escalada e o pior momento da pandemia de covid-19 no Brasil.

1. Trocas no comando do Ministério da Saúde

Desde que a pandemia começou, o Brasil teve quatro ministros da saúde diferentes: Luiz Henrique Mandetta (até 16 de abril de 2020), Nelson Teich (de 17 de abril a 15 de maio de 2020), o general Eduardo Pazuello (de 2 de junho de 2020 a 15 de março de 2021) e Marcelo Queiroga (o atual ocupante do cargo).

“Que país aguenta isso, quatro ministros em um ano durante uma pandemia?”, critica a médica Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

“Essa troca de ministros é um atraso enorme, pois este é um momento em que todo mundo precisava estar trabalhando em plena capacidade. O ministro precisa conhecer todo mundo, os processos internos, mas tivemos pessoas erradas no lugar errado. Não precisa ser médico para ser um bom gestor, mas tem que conhecer o SUS (Sistema Único de Saúde), valorizar as experiências anteriores, ter competência”, afirmou, mencionando particularmente o mandato de Pazuello, um militar da ativa.

Mandetta e Teich foram demitidos após divergências com Jair Bolsonaro – um dos principais motivos da discórdia era a defesa, pelo presidente, da adoção de drogas como hidroxicloroquina e azitromicina como “tratamento precoce” contra a covid-19.

Por um lado, Bolsonaro via (e continua vendo) esses remédios como uma possível solução para a pandemia, apesar das evidências científicas mostrarem justamente o contrário.

Por outro, os dois ministros, ambos com formação médica, resistiam ao chamado “kit-covid” e acabaram deixando o cargo após um intenso processo de desgaste.

Já o general Pazuello se manteve na liderança do ministério por nove meses e foi efetivado no cargo por conta de sua experiência em logística que, na avaliação do governo federal, seria importante num momento com recursos escassos e a chegada das primeiras doses das vacinas.

Mas, na prática, aconteceu o contrário: episódios como a falta de oxigênio na cidade de Manaus, no mês de janeiro de 2021, e a demora para a compra e a distribuição das vacinas acabaram arranhando a imagem do então ministro, que foi substituído em 15 de março pelo médico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

No discurso oficial, porém, o manejo da pandemia feita por Pazuello é considerado bom. “[Marcelo Queiroga] tem tudo no meu entender para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento a tudo que o Pazuello fez até hoje. A parte de gestão foi muito bem feita por ele [Pazuello] e agora vamos partir para uma parte mais agressiva no tocante ao combate ao vírus”, discursou Bolsonaro na frente do Palácio da Alvorada, em Brasília, na noite do dia 15 de março, ao anunciar a substituição ministerial.

Embora tenha feito inúmeras manifestações públicas em prol das vacinas, do uso de máscaras e do distanciamento social, Queiroga já deixou claro que pretende seguir a política estabelecida pelo governo federal.

Resta saber como ele lidará nas próximas semanas com questões polêmicas e sensíveis, decisivas para a demissão dos seus antecessores, como a prescrição precoce de remédios sem eficácia e a resistência do Planalto à adoção de medidas mais rígidas, como o lockdown.

2. Falta de uma política centralizada e de medidas ‘pra valer’

A troca de ministros é apenas a ponta do iceberg de um problema sistêmico, que envolveu setores técnicos do Ministério da Saúde e culminou em exonerações e pedidos de demissão de muitos servidores de carreira.

Essas mudanças administrativas tiveram influência na criação de políticas públicas centralizadas pelo governo federal na pandemia – muitos desses funcionários tinham experiência com a condução de outras crises de saúde pública do passado.

Além disso, desde a decisão por endurecer ou flexibilizar medidas de isolamento à compra de vacinas, as respostas dos governos municipais, estaduais e federais à pandemia têm sido consideradas descoordenadas – avaliação não só de especialistas, mas também dos próprios governantes.

No início de março, secretários estaduais de saúde publicaram uma carta pedindo planos nacionais de comunicação e de recuperação econômica, além de um pacto nacional para uma reação integrada à pandemia.

“A ausência de uma condução nacional unificada e coerente dificultou a adoção e implementação de medidas qualificadas para reduzir as interações sociais que se intensificaram no período eleitoral, nos encontros e festividades de final de ano, do veraneio e do carnaval”, afirmou carta assinada por Carlos Lula, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

O fechamento do comércio e a restrição da circulação de pessoas pelas ruas, medidas conhecidas de forma genérica como lockdown, se mostraram eficazes em vários países que conseguiram controlar o número de casos e mortes por covid-19, como China, Taiwan, Coreia do Sul e Noruega.

Já o Brasil nunca teve um lockdown nacional de verdade. Muitas cidades até lançaram regras mais restritivas, como a proibição de circulação de pessoas em alguns horários do dia (geralmente na madrugada) e limitação do funcionamento do comércio e serviços.

Mas essas políticas variaram muito de acordo com a cidade ou o Estado – e tem muito prefeito que decidiu desobedecer e ignorar as normas do governo estadual ou não estabelecer uma fiscalização mais rígida para coibir as aglomerações e festas clandestinas.

Medidas de lockdown precisam ainda vir juntas de uma série de outras políticas e estratégias, como auxílio financeiro e programas de testagem e rastreamento (que, aliás, serão tema de nosso próximo tópico).

Ou seja, ações cujo protagonismo natural seria do governo federal.

“O SUS é concebido com a integração das esferas federal, estadual e municipal. Mas em uma pandemia, em que o Brasil inteiro é afetado, quem tem que liderar o processo é o Ministério da Saúde. Os Estados e municípios precisam do governo federal, não só para maior financiamento, mas na compra de vacinas e medicamentos, em que o ministério teria condições de fazer melhores acordos com a indústria de outros países”, aponta Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco.

O governo também nunca lançou campanhas massivas de comunicação que incentivassem as medidas de proteção contra a covid-19. Foram poucas as falas sobre uso de máscara, distanciamento social, necessidade de permanecer em casa sempre que possível, lavagem de mãos?

Na contramão, Bolsonaro chegou até a lançar dúvidas sobre muitos dos cuidados validados cientificamente e que contam com o respaldo de entidades como a Organização Mundial da Saúde e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

Um dos alvos mais contumazes do discurso presidencial foram as máscaras:

“Começam a aparecer estudos aqui, não vou entrar em detalhes, sobre o uso de máscara, que, num primeiro momento aqui, uma universidade alemã fala que elas são prejudiciais a crianças e levam em conta vários itens aqui como irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, desânimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem, fadiga… Então, começam a aparecer aqui os efeitos colaterais das máscaras, tá ok?”, afirmou o presidente, numa transmissão ao vivo em 25 de fevereiro de 2021.

O “estudo alemão” era apenas uma enquete preenchida por pais e responsáveis, não passou por revisão de cientistas independentes, suas observações são inconclusivas e não mudam em nada as recomendações atuais.

3. Ausência de programa de testagem e rastreamento de contatos

Desde abril de 2020, a OMS adotou três verbos para simbolizar as principais estratégias para conter a pandemia: isolar, testar e rastrear.

A covid-19 tem uma particularidade que complica demais o seu controle: uma parcela considerável de pacientes não apresenta sintomas da enfermidade, ou demora alguns dias para manifestar incômodos suspeitos.

Mesmo no período em que não há indício algum de doença, esses indivíduos são capazes de transmitir o vírus a outras pessoas, sem saber que também estão infectados. Isso, claro, complica demais o controle dos casos e facilita o espalhamento do agente infeccioso.

Uma das saídas mais eficazes para flagrar os pacientes com covid-19, mesmo aqueles que não deram qualquer pista, são os testes que detectam o coronavírus. O principal deles é o RT-PCR, que avalia a presença do material genético do agente infeccioso no organismo.

Mas o diagnóstico sozinho não é suficiente. Se o resultado do teste for positivo, é essencial fazer o isolamento do paciente e realizar o chamado rastreamento de contatos.

Em resumo, todos aqueles indivíduos que estiveram próximos de alguém doente deveriam ser avisados para tomarem os cuidados básicos e fazerem uma quarentena.

Assim, é possível quebrar as cadeias de transmissão e impedir que o vírus se espalhe ainda mais por toda a comunidade.

Essa foi a estratégia que permitiu aos países bem-sucedidos contra a covid-19, como Nova Zelândia, Taiwan e Coreia do Sul, normalizarem a situação com muito mais rapidez.

“Já a atuação do Brasil nesse aspecto foi nula. Não fizemos testagem para identificar e isolar os casos ou orientar quarentena para outras pessoas que tiveram contato próximo com alguém infectado”, observa Bittencourt.

O médico destaca que, no atual contexto da pandemia no Brasil, lançar mão de um programa desses é praticamente impossível.

“Não dá para fazer busca ativa de contatos num momento em que temos 100 mil casos por dia. Seria necessário falar e orientar 500 ou 600 mil pessoas a cada 24 horas”, calcula.

4. Insistência em tratamentos ineficazes

No primeiro semestre de 2020, até fazia sentido ter dúvidas e esperanças sobre o efeito benéfico de remédios como hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida contra a covid-19.

Mas, com mais de um ano de pandemia, esse já é um assunto superado na maior parte do mundo.

Porém, no Brasil, o tema continua a render. Em uma transmissão ao vivo na última quinta-feira (18/03), Bolsonaro voltou a defender essa abordagem farmacológica:

“No meu prédio, as informações que tenho é que mais de 200 pessoas pegaram, fizeram algum tipo de tratamento inicial e deu certo. O tratamento inicial é bem-vindo, é uma esperança. Não vamos simplesmente remar contra, falar mal”, declarou.

E não é só ele: alguns planos de saúde continuam a distribuir esses kits com remédios e vitaminas comprovadamente ineficazes.

Entidades internacionais e nacionais, como a OMS, o CDC e a Sociedade Brasileira de Infectologia já se posicionaram contra a prescrição dos remédios que são genericamente incluídos no “tratamento precoce” ou no “kit-covid”.

Essas recomendações estão embasadas em estudos rigorosos, que avaliaram o poderio desses fármacos nas várias fases da infecção pelo coronavírus, e não encontraram resultado algum que justificasse a sua adoção.

“Esse é um tema cansativo. Não existe tratamento precoce contra a covid-19. Se existisse, todos os países do mundo estariam agora anunciando essa descoberta com a maior felicidade do mundo”, supõe Maciel.

“O que temos são as estratégias precoces, que envolvem testar, isolar, monitorar os pacientes, ter um auxílio emergencial decente… Mas o Brasil não parece estar interessado em fazer essas coisas”, completa.

5. Demora na negociação das vacinas

Em agosto e setembro de 2020, a farmacêutica Pfizer entrou em contato com o governo federal para negociar a venda de 70 milhões de doses de sua vacina, que naquele momento estava caminhando para a fase final dos estudos clínicos.

A empresa, porém, não recebeu nenhuma resposta.

O segundo semestre de 2020 também foi marcado por uma série de declarações polêmicas de Bolsonaro, que lançou dúvidas sobre a eficácia dos imunizantes e até “comemorou” a interrupção momentânea dos testes da CoronaVac, da Sinovac e do Instituto Butantan, em novembro, após a morte de um voluntário.

“Morte, invalidez, anomalia? Esta é uma vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser comprada. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, publicou em suas redes sociais.

Passados alguns dias daquele episódio, as pesquisas foram retomadas após os cientistas se certificarem de que o óbito nada tinha a ver com o imunizante: os testes prosseguiram normalmente e a CoronaVac foi aprovada em caráter emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro de 2021.

No pronunciamento feito pelas cadeias de rádio e televisão na noite de ontem (24/03), Bolsonaro disse que 2021 seria o ano da vacinação no Brasil. Mas, até agora, a campanha está bem devagar, segundo os especialistas.

A Fiocruz estima que, se continuarmos no ritmo atual, demoraremos mais de dois anos e meio para aplicar uma dose em todos os brasileiros com mais de 18 anos.

E, por mais que o país tenha garantido recentemente mais de 500 milhões de doses de seis fornecedores diferentes, os cronogramas de entrega e distribuição estão sofrendo sucessivos atrasos, que comprometem qualquer planejamento nas esferas federal, estadual ou municipal.

“Nós temos um Programa Nacional de Imunizações do qual devemos nos orgulhar. Mas neste momento, infelizmente, estamos envergonhados com o que estão fazendo com ele”, critica Maciel.

A especialista destaca que, até agora, não foi lançada nenhuma comunicação oficial sobre as vacinas contra a covid-19 em televisões, rádios, mídias sociais e outros meios.

“Pra mim é inacreditável que tenhamos chegado nesse nível. Todos os projetos de imunização de sucesso do passado foram precedidos de campanhas de informação”, lamenta.

6. Pouco investimento em vigilância genômica

O surgimento de novas variantes do coronavírus não acontece em locais onde a pandemia está sob rédea curta.

O vírus sofre mutações onde circula com mais facilidade e sem controle algum, como foi o caso de Manaus.

A nova cepa detectada no início do ano na capital do Amazonas é mais contagiosa e pode até infectar de novo quem teve covid-19 anteriormente.

O Brasil não tem um programa amplo e bem estruturado de vigilância genômica, um tipo de serviço especializado em analisar os vírus em circulação para encontrar possíveis mutações preocupantes antes que elas se espalhem por vários lugares.

O Reino Unido realiza cerca de 10 mil sequenciamentos genéticos do coronavírus por semana – e pretende dobrar esse número em breve.

Já por aqui, não existe nenhuma estatística oficial sobre o assunto, mas especialistas estimam que o número de sequenciamentos semanais no país fique no máximo na casa das centenas.

Bittencourt avalia que, por mais importante que a vigilância genômica seja, ela não deve ser a prioridade no momento.

“Mesmo que descubramos novas variantes e elas sejam realmente mais preocupantes, as medidas de controle contra todas elas continuam as mesmas. Estamos num cenário em que precisamos implementar muita coisa antes disso”, pensa.

O que fazer agora?

Para o médico da USP, a situação gravíssima da pandemia deixa o Brasil numa espécie de “cobertor curto”, em que não há recurso e tempo suficiente para lançar mão de tantas medidas que seriam essenciais.

“Na nossa atual circunstância, ainda vamos ver muita gente se infectar, ser internada e morrer pela doença antes de começarmos a ver alguma melhora. Isso se as medidas necessárias forem adotadas”, explica.

De acordo com o especialista, a primeira coisa a se pensar é uma estratégia ampla de testagem, para que seja possível isolar os casos confirmados.

“Também precisamos usar as mídias digitais e físicas, de redes sociais a outdoor, para estimular as pessoas a fazerem isolamento e a usarem máscaras adequadamente, de preferência as mais seguras, como a N95 ou a PFF2”, detalha.

Outros passos essenciais envolveriam cancelar eventos de médio e grande porte, em que há aglomerações de pessoas, controlar a entrada de estrangeiros pelos aeroportos e reduzir ao mínimo possível o transporte entre as cidades.

“Por fim, deveríamos controlar a mobilidade das pessoas, orientando para que elas se encontrem pouco e, se necessário, que essas reuniões não aconteçam em locais fechados, com proximidade física e sem o uso de máscaras”, finaliza o especialista.

Fonte: BBC Brasil

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/25/busca-de-testes-para-detectar-covid-19-tem-alta-de-mais-de-100/

Anvisa autoriza teste do soro do Instituto Butantan em humanos

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu nesta terça-feira (24) a anuência para pesquisa clínica com o soro hiperimune anti-Sars-CoV-2, desenvolvido pelo Instituto Butantan, contra a covid-19. Com isso, o instituto tem autorização para fazer o teste do soro em humanos. Até o momento, o soro foi testado somente em animais. As informações são da Agência Brasil.

O teste em humanos é uma etapa chave para que o Instituto possa avançar no desenvolvimento do medicamento e, posteriormente, solicitar seu registro junto à Anvisa, condição necessária para que ele seja usado no mercado.

A autorização foi condicionada a um Termo de Compromisso que prevê a entrega de informações complementares. Para o início do estudo, o Butantan ainda deverá apresentar tais informações, que, segundo a Anvisa, não foram integralmente disponibilizadas.

No início de março o Instituto entregou à Anvisa um dossiê com dados sobre o desenvolvimento da substância. A agência fez considerações sobre o primeiro pedido.

Em seguida, no dia 10 de março, o Instituto enviou dados sobre o ensaio clínico. Em 19 de março foi realizada uma reunião sobre o protocolo clínico. No encontro, técnicos da Anvisa fizeram uma solicitação adicional de informações. Ontem o Instituto Butantan repassou respostas sobre as questões feitas na reunião.

‘O objetivo da avaliação de uma proposta de pesquisa clínica é verificar se o estudo é suficiente para produzir dados confiáveis sobre a segurança e a eficácia do medicamento. Isso envolve a avaliação do desenho estatístico da pesquisa, perfil de voluntários, definição de doses que serão testadas, entre outros aspectos’, explicou a Anvisa, em nota.

O soro foi produzido a partir da inoculação do vírus inativo em cavalos. O corpo dos animais reage ao microrganismo e produz anticorpos para combater a infecção. Depois, o sangue dos equinos é coletado e esses anticorpos isolados para que possam ser usados contra a doença. O Butantan já é referência na produção de soros, como os antiofídicos, que neutralizam os efeitos de venenos de cobras, e o antirrábico, contra a raiva.

De acordo com o instituto, o soro tem potencial para evitar o agravamento dos sintomas e curar os pacientes infectados pela covid-19. Ao contrário da vacina, que busca prevenir a infecção, o soro atua no tratamento da doença. No começo do mês, o Butantan já havia divulgado que o soro demonstrou em testes pré-clínicos que é seguro e efetivo em dois tipos de estudos animais.

Fonte: Redação Panorama Farmacêutico


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Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/60-do-setor-reprova-atuacao-do-governo/

Anvisa dá 48 horas para que aeroportos ampliem medidas sanitárias

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A Anvisa deu 48 horas para que os aeroportos adotem medidas sanitárias equivalentes às determinadas por estados e municípios para tentar conter o avanço da covid-19 no país.

A autarquia orienta que serviços essenciais, como alimentação, farmácias e transporte devem continuar funcionando nos aeroportos. Quanto aos serviços de alimentação com atendimento direto ao cliente, a Anvisa reforçou a necessidade de observação rigorosa do distanciamento entre mesas e cadeiras e a adoção de procedimentos que evitem aglomeração.

No ofício enviado nesta quarta-feira (24) para as administradoras e operadoras aeroportuárias, a agência destacou que os aeroportos devem manter atualizados Planos de Contingência relacionados ao novo coronavírus, incluindo comunicação entre as administradoras e autoridades aeroportuárias, como a própria Anvisa, a Vigilância Agropecuária Internacional, a Receita e Polícia Federal.

E a partir desta quinta-feira entram em vigor as regras que aumentam o rigor sobre o uso de máscaras em aeroportos e a bordo de aviões, conforme determinação aprovada pela Anvisa no dia 11 de março.

Podem ser utilizadas versões de tecido, sendo recomendável com três camadas, ou de uso profissional, como as cirúrgicas e as N95 e PFF2, sem válvula. Lenços, bandanas, máscaras de acrílico ou plástico não serão permitidas. A máscara deverá estar ajustada ao rosto, cobrindo nariz e boca, e ser trocada a cada três horas de uso. Protetor facial só pode ser utilizado com máscara por baixo.

Fonte: Redação Panorama Farmacêutico


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ode ser utilizado com máscara por baixo.

 

Anvisa recebe pedido de uso emergencial da vacina da Janssen

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que recebeu nesta terça-feira (24) o pedido de uso emergencial da vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson. O governo brasileiro já manifestou intenção de compra de 38 milhões de doses do imunizante. A entrega dessas doses tem uma previsão inicial no final do ano, sem data específica. As informações da Agência Brasil.

Segundo a Anvisa, as primeiras 24 horas serão utilizadas para verificar se os documentos necessários estão disponíveis. A análise do pedido de uso emergencial é feita por uma equipe multidisciplinar, com especialistas das áreas de registro, monitoramento e inspeção. ‘A equipe vem atuando de forma integrada, com as ações otimizadas e acompanhadas pela comissão que envolve três diretorias da agência’, afirmou a Anvisa.

O prazo previsto pela agência entre o processo de verificação dos documentos e o resultado do pedido é de sete dias corridos. No entanto, esse prazo será interrompido caso haja falta de documentos. Nesse caso, a Anvisa pode solicitar as informações adicionais ao laboratório.

Fonte: Redação Panorama Farmacêutico


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