Vírus inativado, eficácia desconhecida e duas doses: o que se sabe sobre Covaxin

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O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (25) a assinatura de contrato para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, vacina que é desenvolvida na Índia pela Bharat Biotech. No Brasil, o laboratório indiano tem parceria com a farmacêutica Precisa Medicamentos.

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Apesar do acerto anunciado pelo governo, a vacina ainda não foi aprovada para registro nem para uso emergencial no Brasil.

O processo de admissão do imunizante está em suas etapas iniciais, com a visita da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para conhecer a fábrica da Precisa prevista para a próxima semana. A taxa de eficácia geral da Covaxin ainda não foi divulgada.

A vacina

A Covaxin é uma vacina para o combate ao Sars-CoV-2, o novo coronavírus causador da Covid-19, de duas doses. O imunizante é produzido a partir de vírus inativado.

O desenvolvimento da vacina em colaboração com o Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR) e o Instituto Nacional de Virologia (NIV). A produção ainda tem apoio da Fundação Bill & Melinda Gates.

Segundo os fabricantes, o laboratório possui capacidade instalada de produção de 300 milhões de doses anuais.

Entre as vantagens do imunizante está a conservação, já que pode ser armazenada em temperaturas que variam de 2ºC a 8ºC. Além disso, de acordo com a Bharat Biotech, a vacina se mostrou eficaz em testes contra a nova variante britânica do vírus.

Resultados apresentados

A Covaxin foi avaliada em ensaios clínicos nas fases 1 e 2, com resultados promissores de segurança e resposta imunológica, informou o laboratório à CNN.

‘O desenvolvimento do produto e os dados dos ensaios clínicos obtidos até agora geraram cinco artigos científicos*, que foram submetidos a revistas internacionais e revisados por pesquisadores independentes’, afirma a Bharat Biotech.

A primeira fase de testes da vacina apresentou resultados de segurança e resposta imunológica dentro do esperado, de acordo com um estudo publicado em 21 de janeiro pela revista londrina The Lancet, referência em publicações científicas no mundo.

Uso emergencial na Índia

A publicação dos dados da fase 2 dos ensaios clínicos está sendo submetida ao processo de revisão por pesquisadores independentes. No entanto, segundo o laboratório responsável pela Covaxin, “os resultados até agora divulgados nos permitem manter o mais elevado grau de certeza na eficácia do imunizante’.

Após a apresentação desses resultados, em 3 de janeiro a Covaxin foi recomendada para uso restrito em situação de emergência por um painel nomeado pelo governo indiano, que submeteu suas descobertas ao Drugs Controller General of India, a Anvisa do país.

Desde então, a Índia ampliou o uso da Covaxin em seu programa de imunização em massa, que teve início em 16 de janeiro e aplicou 5 milhões de doses da vacina em profissionais da área da saúde, segundo a Precisa Medicamentos.

Em que fase estão os testes?

Os ensaios clínicos de fase 3 da Covaxin começaram em meados de novembro de 2020 e estão hoje na reta final, com 26 mil voluntários em toda a Índia.

A Precisa Medicamentos, representante do laboratório no Brasil, assinou um termo de cooperação científica com o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein para realizar no país os estudos complementares de fase 3 da vacina. Os testes devem ser iniciados imediatamente após o aval da Anvisa..

O que especialistas dizem sobre a vacina

A CNN ouviu especialistas sobre o laboratório indiano Bharat Biotech, o histórico de produção de vacinas a baixo custo para países em desenvolvimento e sobre as semelhanças dessa vacina com a chinesa Coronavac, que já é aplicada no país.

De acordo com o imunologista Eduardo Nolasco, a vacina indiana utiliza o vírus inativado, como a Coronavac, entretanto, possui o acréscimo de uma importante molécula protetora contra o vírus.

‘Acrescentaram na vacina uma molécula que faz com que a resposta de linfócitos T seja aumentada. É o que a gente chama de resposta celular. É basicamente a formulação dela que difere da Coronavac, principalmente por conta desse indutor da resposta de linfócitos T”, explica.

“Isso é muito importante porque já foi avaliado que a nossa principal resposta de defesa à Covid-19 é de linfócitos T, então eles acrescentaram essa molécula que vai aumentar a produção dessa resposta, que é importante e protetora, talvez até mais do que a própria produção de anticorpos’, completa.

O imunologista acrescenta que a Índia já responde por mais de 60% de produção de vacinas no mundo. ‘A Bharat Biotech participa ativamente dessa produção. Possui inúmeras vacinas conhecidas, como as vacinas contra raiva, coqueluche, mas talvez a mais famosa seja a Rotavac, que é uma vacina contra o rotavírus, que provoca bastante mortes nos países em desenvolvimento’, diz.

Fonte: CNN Online (Brasil)

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Após 1 ano de pandemia, desemprego é o maior medo do brasileiro, mostra pesquisa

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Um ano após o registro do primeiro caso de coronavírus no país, o medo viceja entre os brasileiros. A maioria da população acredita que mais dias tenebrosos vêm por aí.

Veja também: IR 2021: Teste de covid-19 pode ser deduzido do imposto? Veja como declarar despesas médicas

Em março de 2020, na infância da crise sanitária, 54% concordavam em usar o termo ‘devastador’ para definir o estrago que a covid-19 provocaria na economia do país. Hoje, são 72%. Nesse período pandêmico, a renda de oito em cada dez pessoas sofreu avarias. Algo que as levou a alterar hábitos de consumo.

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Para 11%, até a compra de itens básicos precisou ser cortada. Boa parte dessa turma convive ainda com o temor do desemprego em 2021. E, como agravante, 66% não confiam na capacidade do presidente Jair Bolsonaro em gerenciar o atual imbróglio imposto pelo coronavírus, de acordo com a mais recente pesquisa do Instituto Travessia, de São Paulo, feita com exclusividade para o Valor.

Nem Doria nem Bolsonaro conseguem se descolar um do outro na avaliação de quem tem agido melhor durante a pandemia

O levantamento, que abordou um leque amplo de temas, ocorreu entre os dias 16 e 17 de fevereiro, a partir de 1.003 entrevistas por telefone em âmbito nacional.

A enquete mostra que o ‘bloco antivacina’ não vai além de um pequeno reduto, com 13% dizendo que ‘não gostaria de ser vacinado’. Outros 83% responderam que sim, querem receber o imunizante.

Além disso, um grupo bastante significativo de 79% do total afirmou que confia nas vacinas que estão sendo utilizadas por aqui. No caso, são a CoronaVac, fruto da parceria entre o Instituto Butantan, de São Paulo, com o laboratório chinês Sinovac, e a AZD 1229, resultado de um acordo entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, e a dupla AstraZeneca-Universidade de Oxford (cujas primeiras doses do produto foram importadas da Índia, em meados de janeiro).

Com preocupações econômicas, apoio ao isolamento social tem caído, mas maioria ainda é contra retorno das aulas presenciais

Renato Dorgan Filho, sócio e analista do Instituto Travessia, considera surpreendente o respaldo dado aos produtos. Mesmo porque ele acontece à revelia da enxurrada de ‘fake news’ que se abateu sobre o tema. Passa por cima também da discussão sobre a efetividade desses medicamentos (entre pouco mais de 50% e 80% para a CoronaVac e a AZD 1229), inferior às versões desenvolvidas por companhias como a Pfizer e a Moderna (acima de 90%). ‘Isso mostra o quanto as pessoas estão dispostas a aceitar a vacinação’, diz Dorgan Filho. ‘Elas parecem perceber que não têm alternativa e se agarram àquilo que é possível, palpável.’

Por outro lado, aponta a enquete, os brasileiros mostraram-se ácidos em relação ao processo de vacinação em curso no país. Para 60% deles, falta capacidade de organização ao governo do presidente Jair Bolsonaro nesse campo. A situação melhora um pouco, embora não fique boa, quando a pergunta foca no Estado dos entrevistados. Nesse caso, 43% apontam que o esquema atual é satisfatório (ou seja, está sendo bem organizado em nível estadual). Ainda assim, 49% mantêm-se céticos em relação a esse ponto.

O tom das críticas sobe algumas oitavas quando o foco da pergunta é Bolsonaro. A sondagem mostra que cresceu ao longo deste ano pandêmico a desaprovação dos eleitores (todos os entrevistados têm 16 anos ou mais) em torno da forma como o presidente atua diante da crise sanitária. Em outro levantamento feito pelo Instituto Travessia para o Valor, em junho do ano passado, 50% eram contrários às ações do Planalto nesse campo. Agora, esse descontentamento atingiu 59%. A cota daqueles que ‘não souberam avaliar’ desabou de 22% para 10%. Isso mostra, alertam os especialistas, uma queda no número de pessoas que não têm uma posição definida sobre o tema. Em uma pesquisa eleitoral, seria o equivalente a diminuir o total de indecisos.

Em outra questão da sondagem, 66% disseram que não confiam na capacidade do presidente Bolsonaro em gerenciar a crise do coronavírus (menos da metade, ou seja, 31%, disse o oposto). Em contrapartida, a atuação dos governadores é vista como positiva. A enquete aponta que 54% a aprovam e 40% desaprovam-na. Essa avaliação, no entanto, sofreu forte desgaste desde a primeira vez que o tema foi abordado. Em março do ano passado, o índice de satisfação dos eleitores com as iniciativas dos chefes dos executivos estaduais alcançara 70%.

Bruno Soller, sócio do Travessia e responsável técnico pela pesquisa, observa que esse tipo de opinião oscila de acordo com a área analisada. No Sul e no Sudeste, as avaliações são mais positivas – e similares. Respectivamente, elas ficam entre 55% e 57% de aprovação, ante 38% e 37% de reprovação. No Nordeste, as notas favoráveis batem em 52% e as negativas, em 44%. No Norte e no Centro-Oeste (agrupados em uma só região), elas despencam para 46% a favor e 45% contra, ficando empatadas. ‘Não há dúvida que o caos registrado em Manaus, no Amazonas, com fatos como a falta de oxigênio para pacientes, contribuiu para baixar a nota dada pelos eleitores que vivem nesses locais’, diz Soller. ‘Aliás, não poderia ser diferente.’

Outra questão do levantamento colocou o dedo em uma ferida diretamente aberta pelo noticiário. Trata-se da disputa política em torno do combate à pandemia, travada entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista João Doria. Com base em uma lista pré-definida, os entrevistados escolheram quem ‘está agindo da melhor maneira’ diante do desafio imposto pelo novo coronavírus. Doria ficou na dianteira, com 28% das respostas. Bolsonaro veio logo a seguir, com 27%. Na prática, ambos estão empatados, pois a margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para cima ou para baixo.

Em terceiro lugar, com 23% das escolhas, ficou a opção ‘ninguém’ (ou seja, ‘ninguém age da melhor maneira’ no enfrentamento da pandemia). Com isso, e no limite, ‘ninguém’ também está em empate técnico com Doria e Bolsonaro. Nesse sentido, ‘ninguém’ é um dos líderes. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, recebeu 1% das indicações. Ficou atrás do Congresso Nacional, com 5%, e um pouquinho abaixo do genérico ‘outros’, que contou 2% de apoiadores.

Sob o ponto de vista político, destaca Dorgan Filho, existem várias maneiras de esmiuçar tal resultado. A primeira delas, e a mais simples, indica que nem Doria nem Bolsonaro conseguem se descolar um do outro, apesar de toda a polêmica e a polarização em torno do assunto. O analista alerta que o apoio minguado dado a todas as outras possibilidades apresentadas na enquete mostra um descontentamento acentuado dos brasileiros com o cenário, mais evidente nos 23% de esteio à opção ‘ninguém’. Mas essa é só a primeira camada dos números, a mais fácil de ser observada.

O cientista político Carlos Melo, professor da escola de negócios Insper, em São Paulo, faz outras ponderações. Para ele, a pesquisa, no geral, é bastante desfavorável ao presidente da República. Nesse item, não é diferente. Melo assinala que os apoiadores de Jair Bolsonaro representam cerca de 30% do eleitorado. Isso é o que demonstra toda a sorte de pesquisas que focam no tema apoio político.

Assim, o aval dado por 27% dos entrevistados pelo Travessia está no limite dessa fração. ‘O Doria, por sua vez, quase nunca recebe mais de 4% de apoio nessas sondagens nacionais’, ressalta Melo. ‘Isso pode dizer que, no caso específico do combate à doença, ele atinge um nível muito mais alto de aceitação, obtendo 28% de apoio. É um salto considerável, ainda que precise ser confirmado.’

Na avaliação de José Álvaro Moisés, professor de ciência política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, é preciso relativizar também o peso na enquete dos 23% que optaram pela alternativa ‘ninguém’ na pergunta ‘quem está agindo da melhor maneira diante da pandemia do coronavírus?’. ‘Se somarmos os percentuais de todos os participantes, o que inclui o Doria, o Bolsonaro, o Congresso, o Pazuello e até os ‘outros’, teremos um total de 63%’, nota Moisés. ‘Essas pessoas acreditam, sim, que alguém está cuidando do problema, independentemente da forma como fazem isso. Isso reduz um pouco a ideia de abandono.’

O acadêmico destaca também o interesse do índice obtido pelo Congresso (5%) nessa mesma questão. ‘A verdade é que os congressistas fizeram coisas positivas contra a pandemia’, ressalta o professor. ‘Isso ao aprovar e, principalmente, ao aprimorar medidas encaminhadas pelo Executivo, como o auxílio emergencial, cujo valor foi elevado pelos parlamentares.’

Para Moisés, a baixa avaliação dos políticos é um fato grave. Ela pode estar associada a dois fatores. ‘Pode indicar que a rejeição ao Congresso atingiu um nível difícil de ser revertido, mesmo em situações positivas, ou que a comunicação dos deputados federais e senadores é muito ruim’, especifica. ‘Em qualquer caso, e eles não são excludentes, esse não reconhecimento por parte do eleitor tem um efeito negativo sobre a democracia, pois o Congresso deveria ser um fórum permanente de representação da sociedade.’

Sob o ponto de vista econômico, a pesquisa traz outras novidades. Aumentou – e muito – o temor dos brasileiros sobre a magnitude dos estragos que a covid-19 provocará na economia do país. Em março de 2020, como dito no início desta reportagem, 54% das pessoas concordaram em usar o termo ‘devastadoras’ para definir tais consequências. Agora, 72% compartilham dessa opinião. Ou seja, houve uma escalada de 18 pontos percentuais. Há um ano, por outro lado, 31% ainda acreditavam que os entraves resultantes da doença seriam momentâneos, passíveis de solução em um prazo relativamente curto. Hoje, só 20% dos entrevistados pensam dessa maneira.

Soller, o técnico do Travessia, frisa que a ideia de um futuro ‘devastador’ é, como se diz no jargão, transversal (ou seja, comum) aos mais diversos recortes da pesquisa. Essa foi, por exemplo, a escolha de 73% das mulheres e 70% dos homens. O termo foi compartilhado tanto por jovens (73%) entre 16 e 24 anos, como pelos mais velhos (70%), com idades acima de 60 anos. Distribuiu-se ainda de forma equânime, sempre em um patamar entre 69% e 73%, em todas as regiões do país. A única variação observada nesse tópico teve a ver com renda. Entre os que ganham menos, com até dois salários mínimos por mês, 72% falaram em devastação. Para aqueles que recebem mais de cinco salários mínimos, a maior faixa de renda delimitada na enquete, o termo contou com a concordância de 80%. Ou seja, quem tem mais está mais assustado.

A hipótese de um mergulho tão profundo, indica a sondagem, não assombra as pessoas por acaso. A renda dos brasileiros foi comprometida – e aparenta estar sendo cada vez mais espancada – pela doença. Em junho de 2020, a primeira vez que tal tema foi colocado aos entrevistados pelo Instituto Travessia, 74% disseram que os rendimentos familiares foram prejudicados pela crise sanitária. Outros 26% afirmaram que não. Hoje, respectivamente, esses números vão a 80% (seis pontos percentuais a mais de ‘sim’, a pandemia afetou o bolso) e 19% (sete pontos a menos de ‘não’). Os mais pobres foram os mais prejudicados. A queda de renda atingiu 83% dos que ganham até dois mínimos por mês. Entre os que recebem cinco salários ou mais, o bolso de 67% foi afetado.

A sondagem captou ainda danos no campo trabalho. Entre as pessoas ouvidas, 54% disseram que o emprego (deles ou de algum parente) foi ‘prejudicado’ ao longo do último ano. Em outra resposta, a mesma questão despontou com força. Diante de um conjunto pré-definido de opções, a enquete perguntou qual a maior preocupação dos entrevistados para 2021. O desemprego ocupou, disparado, a liderança dos assuntos tidos como mais assustadores. Ele representou 38% das escolhas.

Na sequência, apareceram ‘segurança’ (18%), ‘inflação’ (15%), ‘falta de vacina’ (14%), ‘piora no atendimento a pacientes com covid’ (8%) e ‘crise política’ (7%). ‘Note-se que o ‘desemprego’ agrupa mais da metade das preocupações em comparação com o segundo tema da lista, a ‘segurança”, frisa Dorgan Filho. ‘Outro destaque é a ‘inflação’. Essa é uma preocupação que cresce com muita rapidez entre as pessoas mais pobres. Quando fazemos pesquisas qualitativas, com grupos pequenos de pessoas e discussões mais profundas, o mesmo medo aparece. Guardadas as diferenças, a impressão é que estamos regredindo para discussões do início dos anos 90, quando as taxas inflacionárias disparavam a todo vapor.’

A enquete identificou ainda o esgarçamento sofrido pelas regras de isolamento social. Diminuiu a coesão em torno das medidas mais severas. Em abril de 2020, por exemplo, 57% defendiam um amplo fechamento do comércio, além de restrições a mobilidade e aglomerações. A palavra de ordem era ‘isolamento total’. Em junho, esse grupo representava 45% dos entrevistados, e, agora, 39%.

Hoje, 52% preferem diretrizes mais brandas, um ‘isolamento parcial’. Isso ainda que a média diária de mortes por covid não tenha arrefecido e pipoquem focos dramáticos de contaminação como em Manaus. ‘Em muitos casos, o medo pode estar perdendo terreno para a necessidade de trabalhar’, aponta Dorgan Filho. ‘Esse é até um motivo pelo qual o discurso negacionista funciona para muitas pessoas.’

A pesquisa enveredou ainda pelo campo dos hábitos de compra. E um dado chamou a atenção dos analistas: apenas 19% dos entrevistados afirmam ter mantido o padrão de consumo pré-pandemia. Os 81% restantes deixaram de adquirir, em níveis diferenciados, diversos tipos de artigos ou serviços. Aqueles considerados supérfluos foram despachados por 56% das pessoas ouvidas. Visitas a cabeleireiros e manicures foram reduzidas por 14%. E itens básicos de consumo deixaram de ir para a mesa de 11%.

Por fim, o debate sobre a volta dos estudantes às aulas presenciais, a pleno vapor na maioria dos Estados, não está pacificado sob a ótica da população. Há divergências acentuadas nesse quesito. A pesquisa revela que 65% dos brasileiros são contra o retorno aos bancos escolares, ante 31% (menos da metade) a favor. As pessoas que defendem a medida, contudo, se concentram nas faixas de renda mais altas. Ainda assim, o tema divide opiniões. Mesmo entre os que ganham cinco salários mínimos ou mais por mês, ela conta com o apoio de 45% dos entrevistados. Outros 45% se opõem.

Esses números mudam para 27% a favor e 70% contra no grupo que recebe até dois mínimos mensais, e 30% a favor e 66% contra na turma com renda entre dois e cinco salários. Dorgan Filho observa que esse racha também fica evidente nas pesquisas qualitativas, feitas com grupos pequenos. ‘Muitas vezes, nos lares das famílias mais pobres, moram pais, filhos e avós’, diz o analista. ‘Existe o medo de que o eventual contato das crianças com o vírus resulte no contágio dos idosos. Para quem tem mais dinheiro, esse tipo de problema não é tão premente. Não falta vontade de a vida voltar ao normal, mas o temor ainda é forte.’ Uma realidade que, como mostra o geral da enquete, parece ir além das salas de aula.

Fonte: ClipTVNEWS

Não há estoque para Estados e municípios, dizem laboratórios

A aprovação do projeto de lei 534, que regulamenta os contratos para o fornecimento de vacinas contra covid-19 para Estados, municípios e até mesmo o setor privado, não é garantia de aceleração da vacinação. De acordo com Elizabeth Carvalhaes, presidente-executiva da Associação da Indústria Farmacêutica e de Pesquisa (Interfarma), atualmente não há volume adicional ao acordado com o governo federal.

Veja também: Aliança busca tornar a indústria farmacêutica menos dependente de importações

‘O que não temos no momento é um fornecimento disponível para fazer de imediato a Estados e municípios. Os fabricantes têm os seus contratos com o governo federal porque essa é a maneira de se fazer a vacinação do modo mais isonômico possível. E o governo federal não pode abrir mão de volume nenhum’, afirmou Carvalhaes.

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Hoje, no Brasil três laboratórios estão habilitados a fornecer as vacinas ao Ministério da Saúde. A americana Pfizer já conseguiu até o registro definitivo do imunizante, mas ainda não tem contrato firmado com o governo federal. A companhia tem disponível para o país cerca de 100 milhões de doses.

Já a AstraZeneca / Fiocruz e a Sinovac /Butantan têm aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o uso emergencial dos seus produtos e são com esses imunizantes que o governo iniciou a vacinação em massa no Brasil.

‘A necessidade do setor público é muito grande pois o nível de vacinação é baixo no Brasil. Não há volume adicional para Estados e municípios. A lei é correta e vai possibilitar as futuras negociações, mas a solução para aumentar a velocidade da vacinação é volume e isso se faz com mais fornecedores no país.’

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a vacinação de ao menos 60% da população mundial em um ano para vencer a luta contra o novo coronavírus e conter a disseminação da covid-19. Considerando essa porcentagem, teriam que ser imunizadas 127 milhoes de pessoas no Brasil.

‘O mundo está administrando uma crise severa, e os laboratórios correm para produzir as vacina e assim mitigar as variantes do vírus que já começam a aparecer. É um processo que necessita de mais e mais fornecedores.’

Carvalhaes afirma ainda que no projeto de lei as regras dos contratos entre Estados, municípios e setor privado com as farmacêuticas são as mesmas adotadas com o Ministério da Saúde. Segundo ela, a condicionante dos governos assumirem os possíveis efeitos colaterais das vacinas está presente no projeto.

‘Esta premissa está em todos os acordos firmados entre farmacêuticas e governos no mundo inteiro. São os órgãos governamentais que têm como administrar a população vacinada. Caso ocorra algum efeito adverso, conseguem encontrar o paciente por meio dos cadastros. Os laboratórios fornecem para 80, 100 países’, disse. Carvalhaes ressaltou que a aprovação pelas agências regulatórias, no caso do Brasil a Anvisa, dá a tranquilidade de que as vacinas são eficazes e seguras.

Fonte: ClipTVNEWS

Busca por droga do “tratamento precoce” da covid explode no AM

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Em Manaus, a busca por droga indicada pelo governo Bolsonaro como ‘tratamento precoce’ da doença explodiu no comércio local em 2020. Trata-se da ivermectina, indicada para matar piolho, ácaros e outros parasitas.

Veja também: Cidade do ES reforça estoque de cloroquina, mesmo após Anvisa refutar remédio

Essa busca é resultado da pandemia de coronavírus (covid-19) no Amazonas, que mudou muita coisa na rotina da população, como os remédios e produtos de saúde mais buscados nas drogarias.

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Com isso, a ivermectina teve crescimento expressivo de 5.819% para as caixas com quatro comprimidos e de 1.293% para as caixas com dois.

Ao lado da cloroquina, a ivermectina é defendida como ‘tratamento precoce’ pelo presidente da República e até pelo ministro da Saúde, embora sem nenhuma comprovação científica de eficácia contra o coronavírus.

Síndrome gripais

Remédios utilizados para tratar sintomas de síndromes gripais também ganharam destaque. A dipirona, conhecida por amenizar dores de cabeça e baixar a febre, teve crescimento de 83% na caixa com dez comprimidos.

No que se refere às vitaminas, os percentuais variam bastante por conta das diferentes opções de marcas, mas as três redes do grupo venderam mais de 800 mil vitaminas ao longo de 2020.

O número abrange as vitaminas C, a mais popular, e D e Zinco, dentre outras.

Outros produtos

Outros produtos, como máscaras, álcool em gel e oxímetro também foram bem procurados, o que proporcionou lucro ao principal grupo de redes de drogarias da capital. Três dessas respondem por mais de 50% do mercado local.

De acordo com os dados do grupo Tapajós, que administra três redes de drogarias, na comparação entre 2020 e 2019, a venda do álcool em gel cresceu 62%, a de luvas, 78%, termômetros também 78% e a de máscaras e oxímetros 100% para ambos, com tendência de crescimento ainda maior nestes primeiros meses de 2021.

‘Antes da pandemia, nós não tínhamos para venda alguns desses produtos. Fizemos uma adequação no mix das farmácias para ajudar os clientes a encontrarem o que procuravam, mas, com a pandemia, tudo mudou’, disse Sabrine Cordeiro, coordenadora farmacêutica do grupo.

Onda ou tendência

Sem poder afirmar quando a pandemia vai acabar, a pergunta para o mercado farmacêutico é: essa alteração na lista de produtos mais vendidos é apenas uma onda ou uma tendência que veio para ficar?

Segundo Sabrine Cordeiro, a segunda opção, embora com menor adesão futuramente.

‘Existe um padrão de saúde pública para cada doença, ou seja, você sabe como tratar e prevenir. Logo, como a covid-19 não vai simplesmente sumir, o que aprendemos sobre o patógeno seguirá no futuro’, disse.

Ela cita como exemplo o do oxímetro, que antes era mais ligado aos profissionais de saúde. ‘Hoje, é de extrema importância um paciente com covid-19 monitorar a quantidade de oxigênio no sangue’, completa.

Com todos os altos e baixos do mercado, em 2020, o grupo Tapajós cresceu 7% em relação a 2019 e a perspectiva para 2021 é crescer até 12%, segundo o diretor de marketing, vendas e consumer experience, Fernando Ferreira.

Fonte: BNC Amazonas

‘Cepa mais transmissível anda de Ferrari. Já a campanha de vacinação vai de carroça’, diz Mandetta

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Um ano após o registro do primeiro caso da covid-19 no Brasil, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), que comandou a pasta nos meses iniciais da pandemia, vê o País como uma nau sem rumo, o Sistema Único de Saúde (SUS) destruído e a situação do País cada vez mais grave. “A cepa mais transmissível anda de Ferrari. Já a campanha de vacinação vai de carroça”, disse em entrevista ao Estadão.

O ex-ministro afirmou que percebeu a gravidade da doença durante o Fórum de Davos, em janeiro de 2020, quando viu a cúpula da Organização Mundial da Saúde (OMS) “rachada” sobre declarar ou não uma emergência global. Para ele, a demora da entidade em confirmar a pandemia atrasou ações do Brasil contra o vírus.

Mandetta tornou-se personagem central nos primeiros meses de pandemia ao divergir da postura do presidente Jair Bolsonaro, que minimizava a força da doença. O ex-ministro afirma que alertou o chefe do Executivo sobre o tamanho da crise quando o governo confirmou o primeiro caso no Brasil, na mesma semana em que o sistema de saúde da Itália entrou em colapso. O presidente, porém, estava na “vibe do Trump” e tratou com desdém os alertas, afirmou Mandetta, em referência ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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Bolsonaro demitiu Mandetta em 16 de abril. O ex-ministro disse que não faria nada diferente no cargo. Não há arrependimento nem mesmo por liberar a primeira orientação de uso da cloroquina em pacientes da covid-19, droga sem eficácia comprovada no combate contra a doença.

O ex-ministro afirmou que vai participar “ativamente” das eleições de 2022, “como eleitor, cidadão ou candidato”, mas que estará em caminho diferente da “esquerda equivocada” e do “Bolsonaro desequilibrado”.

Quando o senhor ouviu falar sobre a covid-19 e em que momento percebeu que se tratava de uma doença grave?

O Brasil foi um dos primeiros países a questionar a OMS sobre a doença, quando o Wanderson Oliveira (ex-secretário de Vigilância Sanitária) ouviu ruídos sobre o vírus. Quando fui para o Fórum de Davos, parei em Genebra. Lá eu iria jantar com Tedros (Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS), mas ele disse que não iria participar, pois haveria reunião no comitê de emergência sobre a doença. Eles (a cúpula da OMS) racharam sobre declarar emergência global. Aí fizeram (a declaração): é uma emergência para Wuhan e um alerta internacional.

A demora da OMS em declarar pandemia atrasou ações contra a covid-19?

Com certeza. Sinalizavam que era um vírus lento. Mas em intervalo de dois meses estava nos cinco continentes e a OMS seguia tratando como problema local. Fui o primeiro ministro da Saúde a falar que estávamos diante de uma pandemia e eles não queriam usar este termo. Se tivessem falado que era um vírus leve, rápido, a gente teria de dimensionar tudo.

Quando o senhor falou ao presidente que a doença causaria uma grave crise?

Quando tivemos o primeiro caso no Brasil e o sistema de saúde da Itália caiu. Mas ele começou a entrar na mesma vibe do Trump, não dimensionou. Ele tinha uma viagem aos EUA. Eu já estava dando o alerta, tinha de fazer um plano de biossegurança. Eles não queriam usar nem álcool em gel para não transparecer preocupação.

Percebeu em que momento que Bolsonaro assumiu postura diferente daquela recomendada pela Saúde?

O presidente começou a forçar saídas e aglomerações. A imprensa me perguntando: “Você está dizendo para pessoal se cuidar e o presidente fica saindo”. Ele me convidou (para as saídas), mas como percebeu que eu não iria começou a chamar o presidente da Anvisa (Antonio Barra Torres). A Anvisa servia como autoridade de saúde para legitimar aquilo. Ele também tinha convocado protesto para um domingo e eu precisava demover ele daquela ideia. O presidente me chamou para uma “live” e disse (aos apoiadores) que era melhor não irem à manifestação, mas no domingo ele sai, abraça, beija. Era para ele estar em quarentena, porque teve contato com infectados na viagem aos EUA. Daquele momento para frente foi só…”bom, não vou poder contar com ele para enfrentar isso”.

Com as informações disponíveis hoje sobre a doença, o senhor teria feito algo diferente no cargo de ministro?

Não. Fiquei no ministério. Eles não queriam fazer nenhuma campanha de esclarecimento ao público. Passei a utilizar a imprensa, usar boletins, fazer coletivas, para imprensa fazer o papel que foi fundamental naquele momento. Chegamos a zerar as máscaras. Então dissemos: use máscara de pano. Estamos numa pandemia. Conseguimos um navio da China de equipamentos de proteção porque eu pedi ao ministro para deixar sair o último navio, que levou 20 dias para chegar. Fazia licitação e dava “zero”. Pessoal querendo cobrar a máscara a R$ 8 por unidade. Abrimos linha de montagem para respiradores. E foi o que salvou. No meio disso ainda havia um conflito com a China.

O senhor acha que errou ao autorizar a primeira orientação sobre o uso da cloroquina?

Não, naquele momento havia consenso sobre uso compassivo, inclusive pela OMS, como uma última tentativa. Autorizei para uso hospitalar. Agora, colocar isso na rede, recomendar tratamento com cloroquina, aquele negócio, aquilo não. Na semana anterior à minha saída, após uma reunião com o presidente em que todo mundo dava como certo que eu seria demitido, me chamaram numa sala onde estava a Nise Yamaguchi (médica defensora da cloroquina) e muitos ministros. Eu cheguei na reunião e havia uma minuta de decreto, mas não oficial, em papel timbrado, com sugestão para que a Anvisa colocasse indicação para covid na bula da cloroquina. Eu olhei para o presidente da Anvisa e ele disse que não faria aquilo em hipótese alguma. Eu disse: o presidente está extrapolando.

Como o senhor vê a situação da pandemia hoje e o que pode ser feito?

Brasil está como uma nau sem rumo. O que poderia ser feito: começar por colocar gente que entende de saúde e epidemia para conduzir, gerar políticas, recuperar o SUS. Tem de começar a refazer o sistema, que está totalmente fragmentado. Estamos num caos. Não tem liderança que fala pela saúde brasileira. O papel do ministério se perdeu.

Qual a responsabilidade do ministro Eduardo Pazuello na crise?

Ele é responsável. Se o presidente me chamar para ser chefe do Exército, vou falar: não tenho formação. Se me botarem pra dirigir um boeing com 400 pessoas dentro, vou dizer que não posso pilotar. Vou derrubar o avião. Ele está num cargo em que não tem condições técnicas para administrar. Retirou a equipe técnica. Não precisava ficar comigo, mas por que tirar o Wanderson? Um dos 3 ou 4 melhores epidemiologistas do mundo. A culpa do Pazuello é na formação da equipe. Ele forma pensando que está dentro de um quartel. Não é lugar de mando, mas de liderança, que se impõe pelo conhecimento do sistema, da doença. Ele não tem conhecimento do sistema, da doença nem do ser humano.

Como vê os próximos meses da doença?

Um agravamento da doença. Vamos passar pela sazonalidade, mas com a nova cepa. Vimos isso na região Norte, onde faltou oxigênio, o que é uma barbeiragem enorme. O Brasil não estuda a nova cepa e o ministério fez um movimento errado de tirar os pacientes de Manaus de qualquer jeito. Ele plantou a nova cepa em todo o País. A gente tem uma situação em que a cepa mais transmissível anda de Ferrari. Já a campanha de vacinação vai de carroça.

O senhor será candidato nas eleições de 2022?

Vou participar ativamente da eleição, agora, como eleitor, cidadão, candidato… Isso aí, não consigo ainda afirmar. Com certeza vou procurar um caminho que não seja nem daquela esquerda equivocada, que plantou essa crise toda, nem desse Bolsonaro desequilibrado, que planta esse caos todo.

Pensa em sair do DEM? Está falando com algum partido?

Depende. A gente tem de escutar. Entrei no DEM em 2009 para poder fazer crítica à política de saúde quando o PT tinha alta aprovação. Não tenho necessidade de aderir a um governo, mas à verdade. Agora, se esse partido vai por esse caminho, ótimo. Senão, vamos aguardar, talvez algum outro vá, aí eu me apresento e peço para entrar. Está todo mundo conversando com todo mundo. Se cada conversa virar notícia, vocês não vão ter mais página de jornal.

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/02/25/brasil-tem-quase-30-fabricas-de-vacina-para-gado-e-so-duas-para-humanos/

O senhor disse que não quer ficar no grupo do presidente, mas fez parte do governo mesmo conhecendo Bolsonaro como deputado, quando ele votou a favor da pílula do câncer e defendeu abertamente a tortura. O senhor acha que cometeu um erro ao entrar no governo e até validar posições do governo?

O presidente a gente conhece quando ele assume. Eu conhecia um deputado Bolsonaro, que era polêmico. Eu votei nele porque queria uma ruptura com o PT. Agora, a gente sempre acredita. Eu já vi de tudo lá de dentro, da Câmara. Tanto gente como Bolsonaro, como da esquerda que acha o Maduro um humanista. O que a gente imagina: quando uma pessoa chega na Presidência, o peso do cargo, liturgia, responsabilidade por uma nação com tantos desafios, que o cargo vai moldar. A proposta que ele me fez foi de montar o ministério com equipe técnica. Montei a melhor equipe. Só que o dia que veio um problema na nossa frente e eu precisava dele, aí ele não queria um ministério técnico, mas político. Aí você fala: isso aqui não é sério, é equívoco.

Fonte: Terra

Brasil coleciona mais erros do que acertos 1 ano após 1º caso de covid

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Passado exato um ano desde a confirmação pelo Ministério da Saúde do primeiro diagnóstico de covid-19 no Brasil, a pandemia não poupou regiões ou classes sociais – embora tenha atingido mais força a população pobre. Mais de 10 milhões de pessoas foram infectadas pelo coronavírus, sendo que 250 mil perderam a vida neste período.

O mesmo país que viu ruas desertas em meados de março e abril parecia ter superado a covid-19 nas festas de fim de ano, com praias e eventos lotados de indivíduos sem máscara.

O vírus continuou implacável, avançando com velocidade e sofrendo mutações em meio ao despreparo de muitas autoridades para lidar com a crise e à desinformação propagada nas redes sociais.

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Mesmo assim, uma grande parcela da sociedade brasileira se dedicou com seriedade ao combate à pandemia, como profissionais da saúde e cientistas.

Neste primeiro aniversário da covid-19 no Brasil, o R7 ouviu especialistas que falam sobre os erros e acertos do país como um todo diante da maior emergência sanitária da história.

Principais erros

Avaliar os erros em momentos de grave crise como este não servem apenas para achar culpados, mas principalmente para evitar que eles se repitam no futuro.

As mudanças de rumo na condução do Ministério da Saúde representam, em boa parte, as dificuldades enfrentadas atualmente pelo país.

Falta de coordenação nacional

Na visão do médico sanitarista, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e ex-ministro da Saúde (2007-2010) José Gomes Temporão, houve um prejuízo para a estratégia de combate à covid-19 quando estados e municípios tiveram que agir maneira descoordenada pela ausência do Ministério da Saúde.

“Em um país federativo como o Brasil, quando o ente federal se omite, você fragmenta, é um salve-se quem puder, cada um tenta resolver seu problema da melhor maneira possível. Isso é muito ruim.”

Temporão afirma que a “marca muito forte do SUS” é justamente a discussão e aprovação “de maneira consensual” das políticas entre União, estados e municípios.

“Sempre foi assim, desde a Lei 8.080/1990, que instituiu o SUS, mas foi isso quebrado. Como não tivemos uma efetiva coordenação nacional, com exceção do ministro [Luiz Henrique] Mandetta e do ministro [Nelson] Teich, que ficou menos de um mês, fragmentamos [o sistema]”.

Sem gerência federal, alguns estados saíram na frente na compra de respiradores, equipamentos de proteção individual, medicamentos, e mais recentemente, seringas e agulhas, algo que gerou um desequilíbrio – inclusive de preços – na corrida por insumos hospitalares.

Além de não haver uma coordenação federal com estados e municípios, Temporão destaca a falta de uma visão da singularidade do Brasil, que “é um país profundamente desigual”.

“As pessoas mais pobres, mais vulneráveis, negros, moradores de periferias das grandes cidades e com baixo grau de escolaridade adoecem mais, são mais internados e morrem mais. Está evidenciado em estudos. Não tivemos em nenhum momento uma política que envolvesse economia, saúde, educação, ação social, a questão da alimentação… Faltou uma articulação integrada de todo o governo cujo objetivo principal fosse reduzir o risco de adoecimento e o número de óbitos.”

Negação da gravidade da pandemia

A propagação de ideias equivocadas a respeito da covid-19, da prevenção e de supostos tratamentos agravou o que já estava ruim no Brasil, na avaliação do médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, fundador e ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Ele cita como exemplo mais evidente disso a situação do Amazonas.

“O governo estadual do Amazonas é negacionista e disputou com o prefeito de Manaus. Ali era a pior situação possível, governo estadual e governo municipal não se conversavam, e a rede hospitalar é estadual.”

A situação do Amazonas se tornou um retrato do colapso que a covid-19 pode causar em sistemas de saúde se não houver medidas de contenção do vírus que sejam eficazes, especialmente com o surgimento de uma variante mais transmissível do coronavírus identificada inicialmente em Manaus.

Outro ingrediente perigoso adicionado à pandemia no Brasil foi a defesa, por pessoas que agem sem embasamento científico, de tratamentos e profilaxias que não têm qualquer respaldo de entidades sérias como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a FDA (Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos), por exemplo.

Na avaliação de Temporão, o fato de o CFM (Conselho Federal de Medicina) ainda dar espaço a “um tal tratamento precoce” encoraja uma parcela da classe médica a continuar defendendo remédios que podem colocar a vida das pessoas ainda mais em risco.

“Quando você vê um médico falar, isso passa respeitabilidade. É deplorável você assistir a muitos médicos demonstrando que têm um mau preparo como médico e nenhum preparo do ponto de vista de compreensão da ciência e dos mecanismos com os quais a ciência desenvolve e estabelece as suas verdades.”

Comunicação

Vecina Neto ressalta 50% dos recursos destinados ao SUS são geridos pelo governo federal, os outros 50% são divididos em duas partes iguais entre estados e municípios.

“Ao fazer essa tarefa de financiamento, você tem um poder muito grande de induzir políticas públicas”, inclusive na parte de informar a população, diz o professor.

Além disso, o ex-ministro Temporão cita a falta de comunicação oficial, com esclarecimentos à sociedade, algo que abriu caminho para a desinformação.

“Você não pode enfrentar uma situação como essa sem construir a estratégia com a ciência. O governo federal questionou medidas preventivas, como isolamento e uso de máscaras e defendeu medicamentos que não funcionam, como uso de hidroxicloroquina, ivermectina e outros.”

Todavia, a falha de comunicação teve ainda momentos de sonegação de dados, como ocorreu no início da gestão de Eduardo Pazuello, quando o Ministério da Saúde chegou a ter um blecaute dos números total de casos de covid-19 e mortes.

O caso foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal), que obrigou o Ministério da Saúde a manter a metodologia de divulgação adotada desde o início da pandemia.

Aquisição de vacinas

A aposta do governo federal em uma única vacina (Oxford/AstraZeneca) foi apontada por especialistas como um erro grave, uma vez que o país ficaria a mercê de qualquer atraso no desenvolvimento do imunizante.

O Ministério da Saúde também ensaiou a compra da CoronaVac, negociada pelo Instituto Butantan com a empresa chinesa Sinovac, mas voltou atrás após insatisfação do presidente Jair Bolsonaro.

A aquisição só foi oficializada no começo de janeiro, embora o Butantan estivesse em contato com a União desde a metade de 2020.

“Perdemos todas as oportunidades de comprar vacinas, sendo que nós testamos em território brasileiro quatro vacinas, mas só estamos usando duas delas”, salienta Vecina Neto, ao lembrar que até agora o Brasil não tem contrato para adquirir imunizantes da Pfizer/BioNTech e da Janssen (Johnson & Johnson), testados aqui e, portanto, com mais facilidade para aprovação na Anvisa.

O ex-ministro da Saúde frisa que o PNI (Programa Nacional de Imunizações) poderia garantir muito mais vacinações, desde que houvesse vacinas disponíveis.

Temporão esteve à frente da pasta durante a epidemia de H1N1, em 2009 e 2010, quando o Brasil vacinou 100 milhões de pessoas em três meses.

“O PNI, que é o melhor programa de imunizações do mundo, consegue com facilidade vacinar de 30 milhões a 40 milhões por mês. O Brasil passou um mês e vacinou 6 milhões, porque não temos vacinas. O governo errou em não acertar contratos de compra lá em abril, maio, junho do ano passado com os laboratórios que estavam desenvolvendo as vacinas mais promissoras.”

Principais acertos

Fiocruz e Instituto Butantan

Enquanto o Ministério da Saúde falhou ao não garantir mais vacinas para o Brasil, segundo os médicos, a Fiocruz e o Instituto Butantan tiveram visão estratégica ao iniciar as negociações para aquisição de doses e transferência de tecnologia para produção nacional logo nos primeiros meses da pandemia.

“Não fossem a Fiocruz e o Butantan, estaríamos hoje em uma situação lamentável. O ministério não negociou uma dose da vacina. Butantan e Fiocruz começaram a negociar em maio a compra de vacinas”, lembra o ex-diretor-presidente da Anvisa.

A previsão é que a partir do segundo semestre deste ano Fiocruz e Butantan consigam produzir vacinas contra covid-19 sem necessidade de importação do chamado IFA (ingrediente farmacêutico ativo).

A fábrica que está sendo montada no Instituto Butantan, em São Paulo, poderá fabricar cerca de 100 milhões de doses da CoronaVac anualmente.

Já planta de Bio-Manguinhos, da Fiocruz, deve envasar 110 milhões de doses com produção 100% nacional entre agosto e dezembro de 2021 após a conclusão das obras em seu parque industrial.

Comunidade científica

O Brasil foi o terceiro país do mundo a fazer o sequenciamento genético do SARS-CoV-2, dois dias após a confirmação do resultado, em um trabalho de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e do Instituto de Medicina Tropical da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP).

Desde então, universidades e instituições brasileiras estão debruçadas em trabalhos científicos para entender melhor o coronavírus, a covid-19, tratamentos e vacinas.

Em entrevista ao R7, no ano passado, o médico e pesquisador da Universidade Johns Hopinks, nos EUA, Adam Kaplin, elogiou a produção acadêmica brasileira na área da medicina.

“Vocês produzem sempre artigos muito bons, o que eu não sei como, porque não há qualquer financiamento”, ressaltou.

A opinião de que os pesquisadores brasileiros fazem muito com poucos recursos é unânime entre o meio acadêmico.

Para Temporão, é desanimador ver que a proposta de orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologias e Inovações para este ano tenha sofrido corte.

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/02/25/brasil-tem-quase-30-fabricas-de-vacina-para-gado-e-so-duas-para-humanos/ 

“Quando você olha o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia para 2021, ele foi cortado em 35% em relação a 2020. Não tem o menor sentido, exatamente no momento em que você precisa investir na ciência e fortalecer tanto Butantan como Bio-Manguinhos e transformá-los em grandes laboratórios de produção.”

Iniciativas da sociedade

Ações de empresas e de indivíduos foram extremamente importantes como auxiliares no combate à pandemia e às consequências dela, na avaliação do ex-ministro – desde grupos de bairros que se uniram para levar alimentos às pessoas necessitadas até grandes empresas que financiaram compra de equipamentos para hospitais públicos, montagens de estruturas e pesquisas.

O Instituto Butantan, por exemplo, conseguiu arrecadar junto ao setor privado R$ 160 milhões para a construção da nova fábrica de vacinas, prevista para ser entregue em setembro.

A iniciativa Todos pela Saúde apoiou a abertura de dois centros de testes na Fiocruz, além das obras das fábricas da Fiocruz e do Butantan.

Fonte: R7 Notícias

Prefeitura de SP vai comprar vacinas contra covid-19 de laboratórios

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A prefeitura de São Paulo vai iniciar negociações para comprar vacinas diretamente com os laboratórios farmacêuticos. A decisão foi divulgada nesta 5ª feira (25.fev.2021) em uma coletiva de imprensa sobre a situação da covid-19 na cidade.

A compra de vacinas por Estados e municípios foi liberada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na 3ª feira (23.fev). Segundo a decisão da Corte, os prefeitos e governadores podem adquirir os imunizantes direto com as farmacêuticas caso o governo federal não cumpra o PNI (Plano Nacional de Imunizações) ou as doses previstas no documento não sejam suficientes.

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Além disso, a Câmara Municipal de São Paulo também aprovou uma medida que permite à prefeitura direcionar verba para a compra de vacinas. Os vereadores paulistas estipularam ainda que o imunizante precisa ter a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, afirmou que as negociações serão focadas em vacinas que não estejam no PNI. A única que se encaixa nesse critério e na regra estabelecida pela Câmara de Vereadores é a vacina da Pfizer, que teve o registro definitivo concedido na 3ª feira (23.fev).

‘A secretaria municipal já foi autorizada pelo prefeito Bruno Covas de iniciarmos, então, negociações com esses laboratórios que eventualmente tiverem as suas vacinas aprovadas pela Anvisa‘, disse Aparecido.

Avanço da vacinação

Além das compras de vacinas, a cidade de São Paulo também vai antecipar a vacinação de idosos de 80 a 84 anos. Segundo Bruno Covas (PSDB), a faixa etária vai começar a ser vacinada já neste sábado (27) em modelo de drive-thru e nas AMAs (Assistência Médica Ambulatorial) do município.

‘Nós vamos antecipar o início da vacinação na população acima de 80 anos de idade, que está previsto para iniciar apenas na 2ª [1º de março, em todo o estado], já para este sábado, nos drive-thru e nas 82 AMAs da cidade de São Paulo’, disse Covas.

Logo depois, a Secretaria de Saúde destacou que, em fevereiro, houve um ‘aumento expressivo’ das mortes em idosos com mais de 75 anos. Segundo os dados, essa faixa etária morre por covid-19 quase 10 vezes mais do que pessoas de 55 a 59 anos.

FONTE: Poder 360

Bianca Andrade fatura 120 milhões com sua marca de cosméticos

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Enquanto muitos empresários quebraram com isolamento social por conta da pandemia, alguns faturaram horrores. É o caso de Bianca Andrade. Em entrevista à revista Forbes, ela contou ter lucrado 120 milhões com sua marca de cosméticos em 2020, a Boca Rosa Beauty. Ela deu detalhes sobre o faturamento da empresa e explicou que isso aconteceu graças ao novo planejamento que foi feito pela sua diretoria. A edição da revista ainda será publicada, mas a informação acabou sendo adiantada pela equipe da empresária.

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Covid-19: Saúde abre edital para aquisição de seringas e agulhas

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Está aberto o novo pregão eletrônico do Ministério da Saúde, que consiste em investir R$ 75 milhões para adquirir 460 milhões de seringas e agulhas. A proposta da nova licitação é apoiar estados e municípios com a vacinação da população contra a Covid-19.

O edital prevê o registro de preços de maneira quantitativa e qualitativa, além de exigir todas as condições previstas no programa. O projeto mais bem avaliado e mais vantajoso será o escolhido para a obtenção dos insumos necessários para a imunização no país.

Já o cronograma de entrega dos produtos será estruturado conforme recomendações do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Além disso, deve estar em concordância com a capacidade industrial de produção e com os estoques já disponíveis nos estados e municípios.

A responsabilidade de compra e da administração do estoque de seringas e agulhas é integralmente dos gestores estaduais e municipais. O Ministério da Saúde ressalta que tem centralizado a aquisição de insumos, EPI e ventiladores pulmonares, a fim de apoiar de maneira estratégica estados e municípios do Brasil.

Para participar do pregão eletrônico, é necessário ser uma empresa que atue em áreas correlatas com o objeto da licitação. É obrigatório, também, que o empreendimento esteja regularmente registrado no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (SICAF).

Caso o licitante seja estrangeiro, é necessário, anteriormente, instituir um representante legal e que tenha naturalidade brasileira.

A pessoa encarregada deverá ter registro ativo do produto segundo à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), visto que deverá ter o poder de receber citação e responder administrativa e judicialmente pelos seus atos dentro do país.

Fonte: Metrópoles

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/01/20/confaz-deve-autorizar-concessao-pelos-estados-de-isencao-de-icms-sobre-oxigenio-hospitalar/

Mandetta: Brasil recusou vacina de 1ª linha e agora busca qualquer uma

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Um ano após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta afirma que tinha uma expectativa diferente para 2021 quando estava à frente do Ministério da Saúde. Segundo ele, em fevereiro do ano passado, o país se preparava para enfrentar a tragédia que vinha pela frente. No entanto, conforme o tempo foi passando, o governo federal, especialmente na figura do presidente Jair Bolsonaro, foi colocando empecilhos no combate à pandemia.

Um desses obstáculos, na avaliação do ex-ministro, está cobrando a conta agora: a falta de vacina. ‘Esse erro foi cometido em agosto e setembro, quando fecharam as negociações com a Pfizer, Moderna, Johnson. Não quiseram. (?) É um erro muito primário. Como o governo fechou as portas com esses laboratórios de primeira linha, está avançando para terreno perigoso, que é comprar vacina que não tem fase 3’, alerta, em entrevista exclusiva ao Metrópoles.

Mandetta segue: ‘O povo quer uma vacina e não tem. Então, o governo começa a mudar regra, intervir na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e aí você fica em um cenário que não sabe mais em quem confiar. Tira a credibilidade do sistema e da própria agência. Estão na xepa, estão procurando qualquer coisa, o que estiver disponível’.

Segundo ele, o Brasil seria uma grande vitrine para os laboratórios porque tem rede para aplicar as doses em velocidade muito boa, maior que Estados Unidos e França.

Humildade

Ao Metrópoles, o ex-ministro fez um panorama no ano de pandemia, criticou a interferência do presidente na gestão do Ministério da Saúde e comentou sobre a estratégia de comunicação bolsonarista, que, na sua avaliação, se assemelha à nazista, em que ‘uma mentira é repetida mil vezes até virar verdade’.

Mandetta também considerou que faltou humildade ao general Eduardo Pazuello ao aceitar o cargo de ministro. ‘Esse é um erro deles [dos militares, poderiam] dizer: ‘isso não é a nossa praia, não vamos aceitar’.’

Filiado ao DEM e constantemente na lista de cotados para concorrer à Presidência em 2022, o médico deixou o governo em abril do ano passado após discordar do presidente em relação à adoção de medidas de isolamento social.

Leia os principais trechos da entrevista:

Um ano atrás, o senhor previa que estaríamos novamente no pico da pandemia?

Não imaginava. A gente estava em um caminho de organização do SUS (Sistema Único de Saúde), da atenção primária, do atendimento básico, com contatos internacionais todos organizados, participando de conversas sobre desenvolvimento de vacinas. Com certeza, a gente teria avançado muito mais. Acho que o ministério se perdeu, e o resultado é muito ruim.

Qual foi o principal erro na sua avaliação?

Costumo dividir em eixos. O primeiro era prevenção com distanciamento, máscara e álcool em gel. Quando o presidente boicota a prevenção, você perde um dos pilares. Esse é um erro capital.

O segundo eixo é o da atenção, do atendimento às pessoas. Nesse quesito, o governo veio com a cloroquina, como se isso resolvesse o problema. Eles tumultuaram e fizeram com que essa área virasse uma questão política e, por isso, colhemos péssimos resultados.

No eixo testagem, eles largaram os kits no almoxarifado, não tivemos testagem.

A gente desenhava o eixo da saída através de tratamento – um novo remédio que levaria muito tempo para ser desenvolvido – ou da vacina. O país abriu mão das negociações de imunizantes em agosto e setembro. Os laboratórios tinham muito interesse em atuar no Brasil porque o sistema de vacinação brasileiro é muito respeitado. Nós seríamos uma grande vitrine, porque a gente tem a rede para aplicar essas vacinas em velocidade muito boa, maior que Estados Unidos e França.

Estamos pagando por esse erro agora, sem contar os erros secundários como desabilitar leitos de UTI, em momento em que você sabia que vinha uma segunda onda. Há ainda um problema de comunicação do governo federal, o SUS está completamente fragmentado, não tem mais unidade, cada cidade faz o que quer, perdeu-se o setor como um todo. A população está totalmente sem bússola.

Os erros são todos eles, não dá para apontar qual foi o maior. Cada erro desses é responsável ou por aumentar ou perpetuar o tempo de sofrimento que a gente está vendo.

É possível recuperar a unidade do SUS?

Só vamos recuperar o SUS quando tiver uma equipe técnica no Ministério da Saúde que tenha credibilidade para recompor o pacto federativo. O Sistema Único de Saúde tem uma reunião mensal, chamada tripartite, onde se faz a pactuação. Quem chama essas reuniões é o Ministério da Saúde e quem faz a pauta são os três entes.

Quando o ministro abre mão e passa ele a ser o sistema, a dizer que o secretário estadual é major e o municipal é tenente, ele desmancha o pacto. A saúde não é um setor de mando, é um setor de liderança, de fazer as coisas junto. Isso é muito difícil para a cabeça de todos esses militares que estão dentro de um setor de mando e não dialoga com o sistema.

A gestão militar tem dificultado o diálogo?

Não adianta esperar que um militar vai trabalhar como um sanitarista, um cara do SUS, de olhar médico. Eles sabem trabalhar com o olhar que eles foram treinados. Se colocarem nós da saúde para comandar a força militar, vai ser uma tragédia porque ninguém vai obedecer. Vai ser muito ruim porque não sabemos como comanda um quartel. Se me pedir para pilotar um Boing com 400 pessoas dentro, eu vou ter a humildade de falar: ‘Olha, não sou a pessoa mais indicada, não posso, tenho muita responsabilidade. Vou derrubar esse Boing, vai morrer todo mundo’.

O erro dos militares foi não dizer: ‘Isso não é a nossa praia, não vamos aceitar. A gente pode colaborar’. O argumento da logística é tão pequeno e eles ainda perderam o maior trunfo que tinham. O presidente está perdido. O ministro da Economia, Paulo Guedes, entende tão pouco de gente que ele propôs no meio da pandemia desvincular as receitas da saúde – o que seria um tiro de morte. Se o intuito deles é acabar com a construção coletiva, como o presidente gosta, estão no caminho certo.

O governo já tentou privatizar a atenção primária, depois voltaram e falaram que não é bem assim. Agora vem falar de desvinculação de receita da União, tirar dinheiro da saúde e educação no meio da pandemia, é chocante. É o desprezo total. É como falar: ‘E, daí?’. Acho que o ‘e, daí’ é o que mais resume.

Episódios de interferência no ministério levaram você e o ex-ministro Nelson Teich a deixar o cargo. Como o senhor avalia o recuo da compra de vacinas no fim do ano passado após pressão do presidente?

O erro das vacinas foi cometido em agosto e setembro, quando fecharam as negociações com a Pfizer, Moderna, Johnson. Não quiseram. Acharam que a vacina era uma simples corrida entre o Instituto Butantan, com o governador de São Paulo, João Doria, e ele [Bolsonaro], com a Fiocruz. Quem chegasse primeiro, no caso, Bolsonaro, falaria que a minha vacina é melhor que a sua.

Esqueceram que para dar duas doses de vacina para uma população como a brasileira é preciso de mais de 400 milhões de imunizantes. É preciso de muita vacina e ninguém tinha de pronta entrega. É um erro muito primário.

Fecharam as portas com esses laboratórios de primeira linha e estão avançando para terreno perigoso, comprar vacina que não tem fase três. Comprar uma vacina que as agências ainda não autorizaram. O povo quer uma vacina e não tem. Então, o governo começa a mudar regra, intervir na Anvisa, e aí você fica em um cenário que você não sabe mais em quem confiar. Tira a credibilidade do sistema e da própria agência. Estão na xepa, estão procurando qualquer coisa, o que estiver disponível.

Na sua análise, qual objetivo desse comportamento?

O primeiro objetivo foi fazer a divisão entre economia e saúde. O presidente plantou esse falso dilema e isso ecoou para uma parte da sociedade. Os empresários estão legitimamente arrancando os cabelos porque a crise é muito profunda.

Depois, o governo optou por uma linha política em relação à vacina. Na corrida de quem chega primeiro: ‘Nós temos uma vacina boa da Inglaterra e o Dória têm a ruim da China’.

Todas essas decisões foram políticas, recheadas de desprezo a qualquer tipo de aconselhamento técnico, ao ponto de tirar os técnicos para não ter aconselhamento e nem o peso na consciência. É uma sequência de argumentos sem fundamento, mas que trabalhados na internet com algoritmo, é possível potencializar. As pessoas que já foram capturadas por essa estratégia de internet viram presa fácil e se tornam repetidoras. É uma coisa meio [Joseph] Goebbels, (ministro da Propaganda nazista de Adolf Hitler), meio nazista, de repetir a mentira um trilhão de vezes até se tornar uma verdade.

O senhor consegue pontuar algum acerto do país no último ano?

O positivo está mais na ponta do sistema. São os médicos, enfermeiros e fisioterapeutas da linha de frente do Brasil. Nunca vi eles quebrarem a mão, como a gente fala no nosso jargão. A resistência desses profissionais brasileiros é realmente digna de nota. Eles morreram mais. O Brasil é o país onde mais morreu gente da saúde, eles perderam muitos familiares, sofreram preconceito.

Mas do ponto de vista da tomada de decisão e gestão, naqueles eixos principais a gente viu falhas capitais em todos. Adotaram a cloroquina na prevenção e quando viram que não alterou a taxa de letalidade e que nenhum país bancou por falta de comprovação, eles recuaram. Quando começaram a ser questionados por órgãos de controle, eles voltaram atrás a ponto de o ministro dizer que nunca falou em tratamento precoce, e o presidente apagar todas as imagens dele com cloroquina. Além da barbeiragem absurda em Manaus. Tiveram todos os alertas e informações, mas a falta de gente do ramo deu esse resultado.

O senhor está na lista de cotados para concorrer à Presidência em 2022. Qual seu futuro?

Eu vou discutir muito o Brasil e vamos apontando caminhos, não só saúde, mas na educação também. Quero andar o Brasil. Eu disse no Democratas: ‘Se a gente não souber interpretar e escutar para saber que tipo de nação que a gente quer, não podemos apoiar nome de A, B ou C’. Começam a entender e acho que o partido vai buscar esse caminho de fazer chegar nas pessoas, dialogar, falar e deixar a questão de nomes mais para frente. Fazer uma peregrinação no Brasil e deixar com as forças convergentes com as ideias e não com nome, acho que pode ser um bom caminho.

Mas seu partido tem dado sinais de que pode apoiar o presidente Jair Bolsonaro?

Não vejo por esse caminho. Posso ser o candidato ou podemos apoiar [o ex-ministro] Ciro [Gomes] ou Doria. Essa fase agora é de muita especulação. O partido vai fazer uma discussão com presença forte em universidades e no comércio. Terminamos a década de 2020 com o fim do binômio PT e Bolsonaro; temos uma crise absurda, que vai ter repercussão nas próximas duas, três décadas; é preciso pensar como a gente vai se comportar como cidadão para diminuir o tamanho do dano. Quando essa discussão estiver madura, quando as pessoas verbalizarem o tipo de governo, escola e saúde que elas querem, quando isso tomar mais corpo, acredito que essa pulverização vai diminuindo no espaço político que está ali no centro, do pessoal moderado, com massa crítica para pensar. Aí penso que começa a decantar o nome.

Fonte:  

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