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‘Nunca recebemos tanta informação sem um contrato assinado’, diz vice-presidente da Fiocruz sobre transferência de tecnologia da AstraZeneca

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A chegada do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina AstraZeneca/Oxford contra a Covid-19 no sábado encerrou uma etapa burocrática central para a Fiocruz. No entanto, fundação e a farmacêutica anglo-sueca ainda não assinaram o contrato para a transferência de tecnologia, dependente, informa Marco Krieger, de mais negociação.

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Segundo o vice-presidente de Produção e Inovação em saúde da Fundação Oswaldo Cruz , isso não impediu, no entanto, que o processo de aquisição da vacina avançasse em paralelo.

“Nunca recebemos tanta informação sem um contrato assinado”, diz, levando em conta o necessário para a produção 100% nacional da vacina, sem dependência de insumo chinês.

A Fiocruz era a grande esperança brasileira para o início rápido da vacinação. O senhor ficou decepcionado com o atraso do cronograma?

Sempre nos esforçamos para entregar (a vacina) o mais rapidamente possível. Em maio, quando iniciamos as negociações, a expectativa era começar a entrega da vacina em março e muita gente não achava que ia dar tempo.

Com o tempo, começamos a ter boas notícias como o avanço do estudo clínico e a flexibilização da Anvisa, permitindo uma aceleração maior. Pensamos em antecipar nossa entrega para fevereiro, mas, infelizmente, a chegada do insumo atrasou um mês. Mas conseguimos entregar as primeiras doses antes do prazo inicial. Nós não nos preparamos para uma corrida de 200 metros, e sim para uma maratona.

A que se deve o atraso? Foi mesmo burocracia chinesa ou faltou habilidade ao governo na hora de negociar?

Foram várias questões: o ineditismo de se importar uma vacina ainda em fase final de registro, a sensibilidade global relacionada à Covid-19 — tema delicado para a própria China. (O atraso) não foi uma questão (específica) com o Brasil. Estamos na expectativa de minimizá-lo: a partir de março duplicaremos a capacidade de produção, para entregar 100 milhões de doses já no primeiro semestre. E continuamos buscando doses prontas, o fim desse processo burocrático terá efeito nas próximas remessas. Nosso projeto tem o objetivo da independência nacional o mais rapidamente possível: em abril, começaremos a produzir o insumo.

A transferência de tecnologia do IFA não deveria ter sido antecipada? Faltou pensar que os insumos poderiam estar em falta?

Pode parecer que foi feito sem levar em consideração esse aspecto, mas somos uma instituição tecnológica, e nosso objetivo principal sempre foi o de produzir (a vacina). Foi um atraso de um mês, claro que entendemos a sensibilidade do tema e a expectativa frustrada, mas, na prática, teremos um dos processos mais rápidos do mundo. Vamos incorporar tecnologia de ponta no primeiro ano. Um país como o Brasil precisa ter visão estratégica. Se fôssemos ao mercado comprar vacina não imunizaríamos 100 milhões nem em dois anos. Isso só se dará com a produção nacional.

Mas o contrato para transferência de tecnologia ainda não foi assinado. Por que a demora?

Ainda estamos trabalhando na definição do contrato e por problemas mais operacionais do que conceituais. Tivemos que enfrentar alterações de datas, embarques de insumos, reorganizar a operação logística, viabilizar doses prontas. A mesma equipe não conseguiu finalizar o processo da transferência. Mas estamos tranquilos em relação aos poucos pontos que (ainda) precisam ser discutidos.

Quais os pontos pendentes?

Esse trabalho tem que ser feito com cuidado. A AstraZeneca vai defender os interesses deles. A Fiocruz e o Brasil, os seus. Envolve advogados, gestores e grupo técnico. E tem sim que discutir minúcias para não sermos surpreendidos. Sendo bem sincero, nunca recebemos tanta informação sem um contrato assinado. Na prática, (considero que) já estamos fazendo a transferência de tecnologia pois Fiocruz e AstraZeneca se sentem protegidos pela documentação já aprovada. Grupos técnicos estão se reunindo há mais de quatro meses. As questões comerciais não têm sido obstáculo. Mas existem detalhes que precisam ser pensados para daqui a cinco anos, para o pós-pandemia.

Quando o Brasil vai produzir os insumos e se ver livre da dependência?

Começaremos em abril. É um processo demorado, pois cada lote tem um ciclo de produção de quase um mês. Precisamos produzir por três meses, e em julho devemos submeter tudo à Anvisa. Com a autorização, o Brasil poderá usar as vacinas produzidas nacionalmente nesse período, cerca de 15 milhões por mês, que ficarão armazenadas. Aí será 100% nacional. É possível ter a antecipação, mas mantemos um cronograma conservador.

Críticos apontam que o governo brasileiro apostou em um única vacina, a de Oxford. O senhor concorda que foi um erro?

O governo só pode ser cobrado por comprar vacinas já registradas pela Anvisa. Poderia ter feito acordos: caso você consiga registrar, eu posso comprar — e isso foi feito. Do ponto de vista da Fiocruz, nós não fizemos uma aposta, e sim um projeto tecnológico, que levava em consideração a plataforma, o custo de produção da dose, os estudos avançados, a distribuição. Vamos entregar 200 milhões de doses este ano de uma vacina barata, com alta eficácia, que pode ser transportada e armazenada. Em breve seremos protagonistas no enfrentamento da emergência sanitária no Brasil e no mundo.

O que deixará de ser produzido em razão da vacina contra Covid-19?

Na verdade, conseguimos mobilizar uma infraestrutura nova e vamos continuar produzindo todas nossas vacinas. Entregaremos as 120 milhões de doses de dez vacinas diferentes, incluindo febre amarela, rotavírus, entre outras. Com as vacinas contra a Covid, serão 330 milhões de doses. A Fiocruz é o maior fornecedor do Ministério da Saúde.

Fonte: Yahoo Finanças

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/02/01/hypera-pharma-conclui-compra-de-portfolio-da-takeda/

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