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Países fecham acordos para compra de vacina da varíola; Brasil dialoga com Opas

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A vacinação contra a varíola comum é cerca de 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos, o que indica que a imunização prévia pode resultar em doença mais leve, segundo estudos observacionais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda a vacinação em massa da população como medida de combate à varíola dos macacos, mas orienta a vacinação direcionada para pessoas expostas a alguém com a doença e para aqueles com alto risco de infecção.

Países se mobilizaram para a compra e distribuição de imunizantes a grupos populacionais específicos. O Brasil articula a aquisição de doses junto à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Especialistas consultados pela CNN afirmam que o país já deveria ter adquirido doses da vacina, com o objetivo de imunizar a população mais vulnerável ao vírus.

Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 132 mil doses da vacina Jynneos, fabricada pela empresa de biotecnologia Bavarian Nordic, da Dinamarca, foram retiradas do estoque estratégico nacional e distribuídas em todo o país.

Em meio à alta de casos no continente, a Comissão Europeia afirmou ter garantido cerca de 54 mil doses adicionais da vacina desenvolvida pela Bavarian Nordic.

Uma vacina de terceira geração recebeu autorização de uso da Agência Europeia de Medicamentos (EMA, em inglês) para varíola. Já a autorização de uso fornecida pela Health Canada e pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos inclui uma indicação para a prevenção também da varíola dos macacos.

Saúde dialoga aquisição de vacinas com a Opas

O Ministério da Saúde afirmou, em nota divulgada no dia 23 de julho, que articula com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) as tratativas para aquisição da vacina contra a varíola dos macacos, ‘de forma que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) possa definir a estratégia de imunização para o Brasil’.

A CNN entrou em contato com o Ministério da Saúde para obter detalhes sobre a negociação e sobre a possibilidade de compra de imunizantes da Bavarian Nordic.

Em nota, a pasta reafirmou o que já havia sido divulgado anteriormente que ‘o Ministério da Saúde também tem articulado com a Opas/OMS as tratativas para aquisição da vacina varíola dos macacos, de forma que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) possa definir a estratégia de imunização para o Brasil’.

No entanto, o ministério não respondeu se recomenda ou se avalia neste momento recomendar a vacinação no Brasil. A pasta também não esclarece detalhes sobre a tratativa com a Opas para a aquisição de doses e quando essas vacinas estariam disponíveis no PNI.

Em nota divulgada no dia 25, o ministério afirma que trabalha, em uma primeira análise, com um quantitativo de aproximadamente 50 mil doses iniciais, a depender da capacidade de produção da empresa e da capacidade de aquisição e que ‘a Opas está em tratativas com o fabricante para que, o mais breve possível, essas vacinas estejam disponíveis’.

Consultado se avalia comprar vacinas diretamente da fabricante dinamarquesa, o ministério afirmou que ‘está checando’ a informação. A CNN aguarda retorno e atualizará o texto em caso de resposta da pasta.

A epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), avalia que o Brasil deveria estar articulando a compra de imunizantes, assim como outros países têm feito neste momento.

‘A vacinação neste momento deve ser pensada para profissionais de saúde e pessoas que tem múltiplos parceiros e homens que fazem sexo com homens. A produção da vacina é escassa e quem não negociar logo vai ficar no fim da fila’, afirmou Carla.

A opinião é compartilhada pela médica infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo.

‘O Brasil, neste momento, é o primeiro da América Latina em termos de número de casos e a nossa percepção é que esse número seja a ponta do iceberg. É urgente o Brasil providenciar doses de vacina para não alastrar mais e, em especial, não acabar contaminando pessoas de outros grupos que possam ser mais vulneráveis e ter casos mais graves’, ressalta.

O infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Júlio Croda destaca que o país conta com instituições capazes de realizar envasamento das doses a partir do recebimento da matéria prima, o chamado insumo farmacêutico ativo (IFA), assim como aconteceu durante a pandemia de Covid-19.

‘É importante entender que temos o Instituto Butantan e a Fiocruz, que têm a capacidade local de envasamento e a gente poderia receber IFA, como foi no início da vacinação da Covid-19, que a gente recebia o IFA vindo de fora, o produto bruto, inacabado, envasava no Brasil e assim tinha uma vacina disponível’, afirma Croda.

Para o sanitarista Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a transferência de tecnologia também é uma opção que deveria ser considerada pelo governo brasileiro.

‘Deveríamos estar negociando a produção aqui. A tecnologia dessa vacina não é muito complexa. O que tinha de fazer de importante os dinamarqueses já fizeram, que era melhorar a segurança da vacina original contra a varíola. Agora, é transferência de tecnologia’, afirma Vecina.

Para os especialistas, faltou planejamento estratégico na aquisição das doses da fabricante dinamarquesa.

‘O Brasil deveria ter um planejamento estratégico para a aquisição dos imunizantes mas, nesse momento, já é tarde porque só existe uma empresa que comercializa esses imunizantes, uma empresa dinamarquesa, então talvez não tenha estoque para as próximas semanas ou meses. A maioria dos países ricos do hemisfério Norte já fizeram essas compras e suas aquisições’, disse Croda.

A OMS coordena ações junto ao fabricante, de forma global, para melhorar o acesso ao imunizante nos países com casos confirmados da doença.

‘É essencial que as vacinas estejam disponíveis de forma equitativa sempre que necessário. Para esse fim, a OMS está trabalhando em estreita colaboração com nossos Estados Membros e parceiros para desenvolver um mecanismo de acesso justo a vacinas e tratamentos’, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, à imprensa.

Produção da vacina

A CNN consultou a empresa Bavarian Nordic, da Dinamarca, fabricante da vacina sobre a quantidade de doses em estoque. Em nota, a empresa afirmou que a fabricação em geral acontece sob demanda e que não é mantido um grande estoque.

‘Temos um estoque menor de vacinas disponível, que agora está sendo disponibilizado para os países com os quais firmamos acordos. Além disso, temos maiores quantidades de material a granel disponíveis, o que nos permite envasar e finalizar novas vacinas com relativa rapidez e, nos próximos seis meses, acreditamos poder fabricar volumes adequados para atender à demanda atual’, afirmou.

Sobre a capacidade de produção, a Bavarian Nordic afirmou que não há um quantitativo fixo.

‘Nossa fábrica pode produzir até 30 milhões de doses de vacina por ano, mas como também estamos produzindo outras vacinas, a capacidade da vacina contra a varíola é menor. Atualmente, devido à expansão de nossas instalações, não podemos iniciar nenhuma nova produção em larga escala até agosto/setembro deste ano’.

Pelo menos os Estados Unidos e o Canadá já firmaram acordos para a compra de vacinas, segundo a empresa, além de outros países com os quais há pacto de sigilo nas negociações.

Tratamento

Os sintomas da varíola dos macacos incluem bolhas no rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais, febre, linfonodos inchados, dores de cabeça e musculares e falta de energia.

Os sinais geralmente desaparecem por conta própria, sem a necessidade de tratamento. Os cuidados incluem a atenção às lesões da pele, deixando a área secar e utilizando curativos úmidos para proteger a região se necessário. Colírios podem ser usados ??desde que sejam evitados produtos que contenham cortisona.

A imunoglobulina vacinal (VIG) pode ser recomendada para casos graves. Um antiviral desenvolvido para tratar a varíola, chamado tecovirimat também foi aprovado para o tratamento da varíola em janeiro de 2022.

Para o sanitarista Gonzalo Vecina, o país também deveria investir na compra de antivirais para o tratamento da doença.

‘Existem pelo menos três antivirais que são utilizados no mundo contra esse vírus da varíola dos macacos. Ninguém está atrás do remédio. O Ministério da Saúde deveria ter um estoque estratégico dos três medicamentos e deveria ter feito estoque estratégico da vacina. Só tem um fabricante que produz 30 milhões de doses por ano, ou seja, nada’, afirma o especialista.

Quem deve tomar a vacina contra a varíola?

A OMS recomenda a vacinação contra a varíola para grupos prioritários, incluindo profissionais de saúde em risco, equipes de laboratório que atuam com ortopoxvírus, especialistas em análises clínicas que realizam diagnóstico para a doença, pessoas que tiveram contato com casos confirmados, além daqueles com múltiplos parceiros sexuais.

As recomendações foram publicadas em um guia a partir da consultoria do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos (SAGE, na sigla em inglês). No documento, a OMS enfatiza que a vacinação em massa não é necessária nem recomendada para varíola no momento.

Para pessoas que tiveram contato com casos confirmados da doença, a OMS recomenda a vacinação, como profilaxia pós-exposição (PEP), com uma vacina de segunda ou terceira geração. A vacina deve ser aplicada preferencialmente dentro de quatro dias após a primeira exposição para prevenir o início da doença.

Anos de pesquisa levaram ao desenvolvimento de vacinas novas e mais seguras (segunda e terceira geração) para a varíola, algumas das quais podem ser úteis para a varíola dos macacos e uma das quais (MVA-BN) foi aprovada para prevenção da doença em específico.

‘Uma vacina contra a varíola, chamada MVA-BN, foi aprovada no Canadá, na União Europeia e nos Estados Unidos para uso contra a varíola. Duas outras vacinas, LC16 e ACAM2000, também estão sendo consideradas para uso contra a varíola dos macacos’, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom à imprensa na quarta-feira (27).

Segundo a OMS, o uso criterioso de vacinas pode apoiar a resposta global ao surto de varíola dos macacos. Além disso, controlar o problema requer fortes medidas de saúde pública para impedir a propagação da doença.

No documento, a OMS destaca que os programas de vacinação devem ser apoiados por vigilância completa, rastreamento de contatos e acompanhados por uma forte campanha de informação. Além disso, as decisões sobre o uso de vacinas devem ser baseadas em uma avaliação completa dos riscos e benefícios caso a caso.

Países aplicam vacinas

Nos Estados Unidos, a vacina contra a varíola é destinada a grupos populacionais específicos.

Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), as recomendações incluem pessoas que foram expostas, que são identificadas pela saúde pública por meio de investigação de casos, rastreamento de contatos e avaliações de exposição ao risco. Além de possíveis contatos, que atendam a dois critérios: pessoas que sabem que um parceiro sexual nos últimos 14 dias foi diagnosticado com varíola dos macacos e quem teve vários parceiros sexuais nos últimos 14 dias em uma região com casos confirmados.

De acordo com o CDC, as doses devem ser priorizadas para indivíduos que estão em risco de doença grave por varíola dos macacos, como pessoas vivendo com HIV ou outras condições de comprometimento do sistema imunológico.

No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (NHS, em inglês) oferece vacinação contra varíola para pessoas com maior probabilidade de exposição. De acordo com o NHS, a lista inclui profissionais de saúde, homens que são gays, bissexuais ou fazem sexo com outros homens e pessoas que estiveram em contato próximo com alguém que tenha a doença.

O Ministério da Saúde da França também estabeleceu grupos prioritários para a vacinação no país, incluindo homens que fazem sexo com homens e pessoas trans que possuem múltiplos parceiros, profissionais do sexo ou que trabalham em locais de atividade sexual, além de profissionais de saúde.

Fonte: CNN Brasil

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