A vacina produzida pelo laboratório Pfizer é, a essa altura, a única que tem registro definitivo da Agência Nacional de Saúde (Anvisa) para ser utilizada no Brasil. Os dois outros imunizantes já avaliados pela agência – Coronavac e Oxford/Astrazeneca – têm registro para uso emergencial. Mas, a despeito disso, a vacina da Pfizer virou protagonista de uma novela sem solução entre o laboratório e o governo, com novo capítulo nesta quarta-feira.
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O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que vai mostrar à população todas as cláusulas do contrato caso o governo federal venha a comprar doses da vacina da Pfizer e sinalizou para um um possível veto a uma solução que partisse do Congresso Nacional permitindo o uso do imunizante no país.
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Durante meses, o presidente colocou obstáculos ao uso da Coronavac, produzido pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria no Brasil com Instituto Butantã, sob patrocínio do governador de São Paulo, João Doria. Hoje, a Coronavac é a principal vacina em uso no país.
Cláusulas contratuais
Embora não haja em torno da vacina da Pfizer uma questão política, Bolsonaro agora implica com ela. A Pfizer oferecera há alguns meses a possibilidade de aquisição das vacinas. Em um primeiro momento, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, recusou, sob o argumento de que eram de difícil armazenamento (elas precisam ficar refrigeradas a temperaturas muito baixas, de menos 70 graus). Agora, o problema está relacionado a cláusulas contratuais com as quais Bolsonaro não concorda.
Em Rio Branco, onde foi verificar os problemas causados por enchentes no Acre, Bolsonaro disse que existem cláusulas que asseguram a não responsabilização do laboratório por possíveis efeitos colaterais causados pela vacina.
“É uma coisa de extrema responsabilidade de quem porventura no Brasil tiver que dar a palavra final, ou presidente ou parlamento derrubando o veto ou STF. Agora, todas as cláusulas serão mostradas à população para que na ponta da linha, cada um saiba o que está sendo aplicado”, disse o presidente.
Já o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que integrou a comitiva, afirmou que o Brasil está com um cronogra-ma de vacinação muito acelerado em relação a outros países. Não apresentou, porém, dados que sustentem a afirmação. Hoje, o Brasil amargou o triste índice de 250 mil mortes pela covid-19 (leia mais na página 12).
“Nós hoje já estamos muito acelerados na nossa vacinação em relação ao restante do mundo. E isso é muito importante. Demonstra que nós temos tradição em vacinar, que nosso povo aceita a vacinação como uma solução”, disse.
Até agora, porém, o país aplicou pouco mais de 6 milhões de doses, menos de 3% dos brasileiros.
SAIBA MAIS
» No dia em que o Instituto Butantan completou 120 anos, seu diretor, Dimas Covas, deu entrevista ao jornal Folha de S. Paulo afirmando que nunca houve maior grau de interferência política nas decisões sobre saúde pública do país como agora.
» Para Dimas Covas, o Brasil não tem se preparado para enfrentar pandemias como a que vivemos e falta ao país visão estratégica em relação a essas ameaças. T
» Ele também afirmou que a interrupção das campanhas de vacinação não se deve a eventuais problemas de logística, mas à falta de planejamento.
» “Nunca existiu uma interferência política tão extrema na questão da saúde pública ao ponto de se negar até a própria pandemia”, criticou.
Segundo Pazuello, laboratório “joga duro”
Enquanto o Brasil vacinou somente 3% de sua população, países como o Chile já vacinaram 14% da população até a última semana. Nos EUA, 17% dos habitantes foram vacinados até sexta-feira (19) e, no Reino Unido, 25%.
Sobre a negociação com a Pfizer, Pazuello disse ela se arrasta há seis meses e que o laboratório tem “jogado duro” com o governo. “Eles não afrouxaram uma vírgula”, disse, ao se referir aos critérios para aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O ministro disse também que existe uma negociação entre o governo e o Congresso para flexibilização que permita a compra das doses.
Congresso
“Se vier uma autorização flexibilizando todas as atividades, sim nós vamos comprar da Pfizer que já está com cronograma de entrega entregue para nós. Agora, depende de um trabalho de alto nível que está sendo discutido”, disse.
O Congresso quer estabelecer modelos que permitam a compra direta de estados de imunizantes que já tenham sido aprovados por pelo menos uma agência equivalente à Agência Nacional de Saúde (Anvisa) de uma lista prevista na medida. O Senado aprovou a medida ontem. Falta a Câmara.
Embora tenham sido eleitos com apoio do presidente Jair Bolsonaro, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), têm dado à questão da vacinação um grau de prioridade que, no discurso, parece maior do que o do governo.
Segundo ambos, a garantia de imunização o mais rápido possível da população brasileira é hoje a principal prioridade da pauta tanto da Câmara quanto do Senado.
A prioridade para a vacinação consta, inclusive, de documento por escrito assinado por ambos logo um dia depois das suas posses no comando das duas Casas do Legislativo. Além da vacinação, eles assumiram compromisso com o andamento e aprovação das reor-mas estruturantes defendidas pela equipe econômica.
Fonte: Jornal de Brasília