Por que países da África podem esperar meses para iniciar vacinação contra a covid-19


África terá que esperar ‘semanas, senão meses’ antes de receber as vacinas aprovadas pela OMS, dizem autoridades.
‘Não busque superlucros’Na África, a situação reacende memórias da década de 1990, quando o tratamento antirretroviral (ARV) para HIV/Aids foi feito nos Estados Unidos. Embora o continente tivesse uma população muito maior de pessoas infectadas com HIV, demorou pelo menos seis anos para que o tratamento que salvasse vidas pudesse estar disponível para os africanos.
Doze milhões de pessoas morreram na África de complicações relacionadas à Aids em uma década, mesmo com a mortalidade nos Estados Unidos caindo drasticamente, de acordo com análises dos Centros Africanos para Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
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Winnie Byanyima, diretora-executiva da UNAids, o braço da ONU para o combate da Aids, tem estado na vanguarda daqueles que pedem maior equidade dos fabricantes de vacinas para covid-19.”Não estamos pedindo a eles que tenham prejuízos”, diz ela à BBC. headtopics.com
Com os antirretrovirais, foi a pressão das pessoas que vivem com HIV e dos defensores do direito à vida que levou os governos a permitir a produção de tratamentos genéricos muito mais acessíveis.”O preço (do tratamento anti-retroviral por pessoa) caiu de US$ 10 mil por ano (por pessoa) para apenas US$ 100 por ano”.
Ela quer que o mesmo ocorra com a vacina da covid-19, exortando a indústria farmacêutica “a não ser movida pelo desejo de superlucros”.Byanyima acrescenta que as fabricantes ainda podem ter ganhos, mesmo se compartilharem suas fórmulas.
Crédito,AFPLegenda da foto,África do Sul participou de testes de vacinas em humanos, mas ainda não começou a vacinar pessoas’Furando fila’Tedros Ghebreyesus, da OMS, também clama por equidade: “Mesmo falando a linguagem do acesso equitativo, alguns países e empresas continuam priorizando negócios bilaterais, contornando a Covax, elevando os preços e tentando ir para a frente da fila”, disse.
A Covax é uma iniciativa da OMS e da Vaccine Alliance para distribuir as vacinas para a covid-19 de maneira equitativa em todo o mundo.”A maior parte do suprimento das principais vacinas foi pré-encomendado por países ricos, mesmo antes de os dados de segurança e eficácia serem disponibilizados”, diz Richard Mihigo, chefe de imunização e desenvolvimento de vacinas no escritório da OMS na África. headtopics.com
Questionado sobre por que a Covax não fez o mesmo, ele disse que garantir financiamento foi a primeira tarefa em que a iniciativa se envolveu. Até agora, US$ 6 bilhões foram levantados de uma meta de US$ 8 bilhões para 92 países de renda média e baixa, de acordo com Thabani Maphosa da Vaccine Alliance, Gavi.
Até agora, a iniciativa garantiu dois bilhões de doses para esse grupo de países, que inclui toda a África. Cerca de 600 milhões são para o continente.A União Africana fez acordos para que os Estados membros solicitem financiamento de US$ 7 bilhões de credores, que cobriria até 270 milhões de vacinas, de acordo com seu atual presidente, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Crédito,SOPA ImagesLegenda da foto,África terá que esperar “semanas, senão meses” antes de receber as vacinas aprovadas pela OMS, dizem autoridades’Operação Mammoth’Mas não é apenas a compra de vacinas que precisa de financiamento. Os países também vêm investindo em cadeias de frio enquanto se preparam para sua chegada. Isso é especialmente importante para a vacina Pfizer, que deve ser mantida a -70°C.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que normalmente lida com a distribuição de vacinas infantis, cuidará da logística de entrega das vacinas Covid-19 nas instalações da Covax.A agência se prepara para transportar pelo menos o dobro de sua capacidade normal — o que chama de “uma operação logística gigantesca e histórica”. headtopics.com
Mas antes que isso possa ser feito, os países precisam ter infraestrutura pronta para receber e administrar as doses. Benjamin Schreiber, que está coordenando as instalações da Covax para a Unicef, diz que está “preocupado por não termos recursos suficientes para a implantação e preparação”.
“Pelo que estamos vendo na implantação em alguns dos países de alta renda, essa operação é complicada, necessita de recursos e deve ser planejada de maneira adequada. Não houve recursos globais suficientes para os países de baixa renda”, diz ele à BBC.
Apesar das deficiências, Schreiber traça um quadro mais otimista da capacidade do continente de introduzir novas vacinas.”A África tem muito mais experiência do que muitas outras regiões — fizemos muitos lançamentos de vacinas nos últimos 10 anos e há boa experiência para organizar campanhas de vacinação direcionadas.”
Ele acrescenta que alguns países que lidaram com o vírus ebola também têm expertise e infraestrutura em cadeias de ultra-frio. Mesmo antes de a pandemia começar, a organização diz que tem apoiado a infraestrutura da rede de frio em países de baixa renda, incluindo a instalação de 70 mil geladeiras, metade das quais movidas a energia solar.
A situação atual em cada país ainda não está disponível. Maphosa, da Gavi, disse que os países estão enviando documentos para informá-la sobre sua capacidade para distribuir vacinas.
Fonte: Head Topics