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Professor da UFJF esclarece dúvidas sobre a vacina Oxford/AstraZeneca

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Nas última semanas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a comunidade científica vieram a público reforçar a segurança da vacina Oxford/AstraZeneca, após relatos indicarem uma possível relação entre o imunizante e a ocorrência de coágulos sanguíneos. As informações levantaram questionamentos e resistência por parte da população, que, em alguns casos, estaria se negando a receber o imunizante, inclusive em Juiz de Fora e região. Entretanto, especialistas e entidades científicas são categóricos em afirmar que a ocorrência deste tipo de efeito colateral é raríssima, e que a vacina contra a Covid-19 é segura e tem cerca de 82% de eficácia comprovada.

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Para esclarecer algumas dúvidas, a Tribuna conversou com o professor e pesquisador do setor de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Aripuanã Watanabe, que reiterou que a associação entre a vacina Oxford/AstraZeneca e a formação de coágulos – e, consequentemente o risco de trombose – ainda é somente uma possibilidade. ‘Ela é provável, mas não está provada. É importante, mesmo assim, continuar se vacinando. O benefício da vacina é muito superior ao risco de ter problemas coagulatórios.’

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O professor reforça que o mais importante é não deixar de tomar a vacina por conta dessa possibilidade. ‘As recomendações no exterior, tanto nos Estados Unidos como na Europa, são pela continuidade da vacinação, principalmente em idosos, que são as pessoas que parecem estar mais relutantes para tomar a vacina. Esse é o grupo em que foram vistos menos problemas. A recomendação é continuar tomando a vacina normalmente’, destaca.

Aripuanã também respondeu as dúvidas mais comuns sobre o imunizante, que, no Brasil, é produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Confira abaixo:

Tribuna – Países europeus chegaram a suspender a aplicação da vacina por conta de possíveis efeitos colaterais. Há, de fato, motivos para que a população se preocupe?

Aripuanã Watanabe – Por enquanto não. Alguns dados parecem apontar uma associação entre a formação de coágulos, mais especificamente na região do cérebro e do abdômen, com a vacina, mas essa associação ainda não está confirmada. Mesmo que se confirme, seria considerado um efeito adverso raríssimo. Para se ter ideia, o risco da formação de um coágulo ou uma eventual trombose causada pela Covid-19 é dez vezes maior em comparação com o risco da vacina, se ele for comprovado. Tudo indica que o benefício de se vacinar é muito maior. Nada, por enquanto, mostrou que essa formação é tão perigosa que não valha a pena tomar a vacina. Todos os órgãos de saúde e as publicações científicas ainda recomendam continuar com a vacinação. Alguns países suspenderam para tentar entender este quadro, mas não foi por medo do coágulo, e sim para investigar e entender o porquê da formação deles.

Aplicação de imunizante foi restringida em alguns países europeus após suspeitas de causar coágulos sanguíneos. Entretanto associação não foi comprovada (Foto: Fernando Priamo)

– Existe algum fator ou condição que pode aumentar o risco do efeito colateral?

– Ainda não está confirmado, mas parece que pessoas com baixa contagem de plaquetas têm uma chance maior de ter esse evento adverso. Lembrando que ainda não está confirmada essa informação. Como é algo muito recente, ainda não se sabe. Se confirmada essa associação da vacina com a formação de coágulos, ainda pode haver outros fatores envolvidos, e não só a contagem de plaquetas.

– Quais são as principais diferenças entre as vacinas Covonavac e Oxford/AstraZeneca, que estão sendo disponibilizadas na região?

– São plataformas de produção de vacinas diferentes. A Coronavac é feita com o vírus inativado: ele é multiplicado em laboratório e inativado, ou seja, os cientistas ‘matam’ o vírus e inoculam esse vírus morto no nosso organismo por meio da vacina. Já a AstraZeneca tem uma tecnologia chamada de vetor viral não replicante: os fabricantes pegam um adenovírus, que é um vírus que não infecta o ser humano, fazem uma engenharia genética, inserem um gene da proteína spike no genoma desse vírus e inoculam o vírus no organismo por meio da vacina. A partir daí, células específicas do sistema imune fagocitam ou ‘comem’ esses vírus e fazem um processamento das proteínas, apresentando-as ao sistema imune. Essa metodologia já é usada pela Universidade de Oxford há cerca de dez anos, e os pesquisadores têm um know-how muito grande sobre ela.

– A campanha de vacinação deve continuar da mesma forma?

– É extremamente importante que ela não só continue, mas que também aumente. É preciso que ela chegue ao máximo possível de pessoas, no menor tempo possível. Essa questão de ficar vacinando a conta-gotas é muito favorável para o vírus, inclusive para o surgimento de variantes. Quanto mais devagar a gente combater o vírus, mais chance ele tem de escapar. Temos altíssimas taxas de transmissão, e com a lentidão da vacinação, podem surgir novas variantes. É importantíssimo que a gente continue a campanha e a intensifique para que se vacine o maior número de pessoas contra o novo coronavírus.

– Qual é a medida ou ponto que deve ser atingido para que a população seja considerada protegida contra o vírus?

– Falou-se muito na questão da imunidade de rebanho. Temos alguns valores para outras doenças, mas ainda não conhecemos esse valor com certeza para a Covid-19. Tentamos calcular esse número, mas ainda não há um valor concreto. Fato é que ter 95% da população vacinada é bem desejável. Muitos países estão almejando vacinar quase 100% da população. Mas quanto mais perto disso chegarmos, ou quanto mais alta a cobertura vacinal for, melhor.

O que diz a Anvisa

A ocorrência de coágulos em indivíduos que receberam o imunizante levou, ao menos, 11 países da União Europeia a restringirem a aplicação das doses desde março, mesmo após a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) declarar que os benefícios do imunizante superam os riscos de coágulos sanguíneos no início deste mês. Na avaliação da agência, não há motivos para deixar de usar a vacina em qualquer faixa etária, pois não foram encontradas evidências de que idade, sexo ou condições clínicas sejam fatores de risco específicos para os acidentes vasculares graves, enquanto que o coronavírus tem apresentado altas taxas de mortalidade.

No Brasil, em 7 de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitou a inclusão de possíveis ocorrências tromboembólicas dentro do item ‘Advertência e Precauções’ da bula da vacina Oxford/Astrazeneca. Entretanto, no comunicado publicado, a Anvisa reforça que os casos são raros e que há a recomendação da continuidade da vacinação, já que não é possível estabelecer uma relação direta e de causalidade entre a vacina e os casos suspeitos de eventos tromboembólicos.

Na ocasião, de acordo com a Anvisa, com mais de quatro milhões de doses administradas dessa vacina, foram registrados um total de 47 casos suspeitos de eventos adversos tromboembólicos, sendo que apenas um foi associado à trombocitopenia – doença caracterizada por baixas contagens de plaquetas. Segundo a Anvisa, a alteração na bula foi feita como um resultado do monitoramento contínuo dos produtos.

Embora ressalte que o risco da ocorrência dos coágulos sanguíneos é baixíssimo, a agência orienta que as pessoas devem estar atentas a possíveis sintomas e que procurem atendimento médico imediato, caso eles surjam. Sinais de alerta que devem ser observados são: falta de ar, dor no peito, inchaço na perna, dor abdominal persistente e sintomas neurológicos, como dores fortes e persistentes de cabeça ou visão turva. A Anvisa reforça ainda que a maioria dos efeitos colaterais são leves, transitórios e permanecem por poucos dias.

Fonte: Tribuna de Minas

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