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Suspensão de estudos com hidroxicloroquina pela OMS não paralisa pesquisas em hospitais do RS

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Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha anunciado, na última segunda-feira (25), a suspensão de estudos com hidroxicloroquina em pacientes de covid-19, as pesquisas com o medicamento seguem em andamento no Rio Grande do Sul. A decisão da entidade internacional não tem impacto nos ensaios clínicos já em desenvolvimento, mantidos em hospitais e supervisionados por equipes médicas.

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No Estado, seis hospitais participam de uma pesquisa nacional com a droga, liderada pelo Moinhos de Vento ao lado de outras sete instituições (veja a lista abaixo). Batizada de Coalizão Covid Brasil, a iniciativa conta com sete protocolos de pesquisas – três deles avaliam a eficácia e a segurança da hidroxicloroquina.

– Não há uma recomendação de suspensão dos estudos, mas de que haja um maior controle sobre eles – afirma o infectologista Claudio Stadnik, presidente do comitê de pesquisa da Santa Casa de Misericórdia.

O Coalizão utiliza como metodologia o ensaio clínico randomizado, considerado o padrão ouro da ciência para avaliação de novos tratamentos. Isso significa que, pelo modelo adotado, os participantes são alocados aleatoriamente para um dos grupos de tratamento (um recebe a substância e outro, o placebo, por exemplo).

Desse modo, os pesquisadores asseguram que nenhum viés interfira nos resultados da pesquisa. Os estudos do Coalizão ainda contam com comitês de segurança independentes, nos quais pesquisadores externos analisam os dados para decidir pelo prosseguimento ou pela suspensão do protocolo.

– São estudos que têm acompanhamento, análise de dados e todo o aval científico para seguirem até o final. Muito em breve teremos resultados para que gestores públicos possam, enfim, decidir se devem incorporar, ou não, esse medicamento no tratamento de covid-19 – afirma o intensivista do Moinhos de Vento Regis Goulart Rosa, integrante do comitê do Coalizão.

O estudo coordenado pela OMS, que suspendeu a avaliação da hidroxicloroquina na semana passada, era similar ao Coalizão. Chamada de Solidarity, a pesquisa realizada em 18 países interrompeu o braço de tratamento com a substância após um levantamento divulgado pela revista científica inglesa The Lancet. A publicação, que analisou dados de 96 mil pacientes em 671 hospitais de seis continentes, relacionou o uso de hidroxicloroquina e cloroquina à maior chance de arritmia e de morte na covid-19.

A análise apresentada pela Lancet trata-se de um estudo observacional, um método diferente de um ensaio clínico randomizado. Esse levantamento consiste no acompanhamento de pacientes que passaram pelo tratamento, comparando os dados com os daqueles que não receberam a substância. Neste tipo de estudo, o tratamento não é determinado de forma aleatória, seguindo as preferências e práticas locais. Segundo Rosa, é uma análise importante para o levantamento de hipóteses, mas insuficiente para determinar a utilidade da droga.

– Estudos observacionais são muito propensos a vieses e não servem para atestar a eficácia e a segurança de um medicamento. Pode haver diversos fatores que interferem. Não se sabe, por exemplo, se a ausência de benefícios acontece porque ele não funciona ou porque foi indicado com muito maior frequência para pacientes mais graves – complementa o intensivista.

Para o ensaio clínico nacional, além do Moinhos de Vento, participaram outros cinco hospitais gaúchos – Clínicas (Porto Alegre), Bruno Born (Lajeado), Hospital Geral (Caxias do Sul), Tacchini (Bento Gonçalves) e Santa Casa (Porto Alegre).

Os pacientes que se enquadram nos perfis requeridos para a análise são questionados, ao darem entrada no hospital, se desejam ser incluídos no experimento. Se aceitarem, precisam assinar um termo de consentimento – uma via fica com os pesquisadores e, outra, com o enfermo. Apenas no Clínicas, mais de 20 pessoas participaram.

– A ideia de fazer os estudos é mostrar o benefício quando há dúvidas. Se não houvesse dúvidas, nunca usaríamos ou usaríamos sempre. Por causa dessa incerteza, é importante que sejam continuados – avalia o intensivista Thiago Lisboa, um dos responsáveis pelo estudo no Clínicas.

A Santa Casa, além do Coalizão, também fez parte de outra pesquisa envolvendo o uso de hidroxicloroquina em pacientes de coronavírus. Staknik, contudo, é pessimista sobre seu resultado:

– Evidências têm mostrado que, muito provavelmente, não funciona. E que os efeitos adversos sejam maiores do que os benefícios. Isso é uma pena.

De fato, a eficácia da hidroxicloroquina tem perdido força a nível mundial. Os governos de Bélgica, França e Itália abandonaram a substância no tratamento de pacientes de covid-19 após o anúncio da OMS. A entidade ainda retirou a cloroquina da lista de drogas que seriam testadas no tratamento de coronavírus.

No Brasil, contudo, o Ministério da Saúde alterou, por ordem do presidente Jair Bolsonaro, um protocolo, permitindo o uso inclusive por pacientes com sintomas leves da doença – uma iniciativa amplamente contestada pelas comunidades médica e científica. Anteriormente, o documento permitia o uso apenas em quadros graves que tivessem acompanhamento hospitalar.

– Na prática, os profissionais se sentem mais pressionados a prescrever a droga mesmo quando houver dúvidas sobre sua eficácia e segurança – diz Lisboa. – Por isso, é importante levantarmos os estudos o mais rápido possível para, de certa maneira, colocarmos um olhar científico sobre isso e trazer um pouco de razão nesta discussão.

Os estudos em andamento pelo Coalizão Covid Brasil

Coalizão 1 – Hidroxicloroquina associada, ou não, com azitromicina (um tipo de antibiótico), em pacientes hospitalizados com quadros leves a moderados.

Coalizão 2 – Hidroxicloroquina associada, ou não, com azitromicina, em pacientes hospitalizados com quadros graves.

Coalizão 3 – Dexametasona (um tipo de corticoide) em pacientes hospitalizados com síndrome da angústia respiratória aguda.

Coalizão 4 – Anticoagulação (medicamento que afina o sangue) em pacientes hospitalizados com quadros leves a moderados.

Coalizão 5 – Hidroxicloroquina em pacientes ambulatoriais (sem necessidade de internação hospitalar) e fatores de risco para complicações.

Coalizão 6 – Tocilizumabe (um tipo de anticorpo) em pacientes hospitalizados com fatores de risco para desenvolvimento de formas graves.

Coalizão 7 – Avaliação da qualidade e desfechos de longo prazo em pacientes sobreviventes de hospitalização por covid-19

As instituições que lideram o Coalizão Covid Brasil

Hospital Albert Einstein (São Paulo)

HCor (São Paulo)

Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)

Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre)

Hospital Alemão Osvaldo Cruz (São Paulo)

Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo (São Paulo)

Brazilian Clinical Research Institute

Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia intensiva

Os hospitais que participam do Coalizão Covid Brasil no RS

Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre)

Hospital de Clínicas (Porto Alegre)

Hospital Bruno Born (Lajeado)

Hospital Geral (Caxias do Sul)

Hospital Tacchini (Bento Gonçalves)

Santa Casa de Misericórdia (Porto Alegre)

Fonte: Gaúcha ZH

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2020/06/01/mercado-farmaceutico-tera-de-aumentar-tiquete-de-vendas-no-pos-covid-alerta-pg/

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