Taxa de fechamento de farmácias supera 10% pela 1ª vez


O índice de fechamento de farmácias chegou ao seu maior nível e pela primeira vez representa mais de 10% do total de lojas com operações iniciadas nos últimos três anos. Os dados da Close-Up International correspondem aos últimos 12 meses até agosto de 2025 e a explicação passa, sobretudo, pelos estabelecimentos de pequeno porte.
Esses indicadores compuseram a série de apresentações que pautaram o Outlook 2025, tradicional evento promovido todos os anos pela consultoria e realizado na última semana em São Paulo (SP). Um dos números mais exaltados pelos participantes foi o avanço de 12,1% no faturamento geral do varejo farmacêutico, na comparação com o mesmo intervalo anterior. Mas quando é estratificado o montante de R$ 233,4 bilhões, fica notória a dependência das grandes redes e do associativismo.
Percentual de fechamento de farmácias sobre total de PDVs
(dados de 12 meses até agosto do respectivo ano – em %)

O varejo independente e as pequenas e médias redes puxam o crescimento para baixo, com “altas” de apenas 5,5% e 7%. Esse desempenho reflete-se diretamente na capilaridade. Dos 10.766 pontos de venda que descontinuaram operações em 12 meses, 94% pertenciam a esses dois nichos, o que ajuda a explicar o saldo de fechamentos maior que o de aberturas pelo segundo ano consecutivo.
Saldo de aberturas x fechamentos de 2022 a 2025
(dados de 12 meses até agosto do respectivo ano – em mil PDVs)

Fechamento de farmácias reforça alerta sobre as pequenas e médias
Ainda majoritárias no volume de unidades, as independentes chamam a atenção pela maior quantidade no fechamento de farmácias – 88% do total. Mas o saldo entre lojas novas e encerradas nesse segmento ainda é positivo. Fontes ouvidas pelo Panorama Farmacêutico atribuem parte desse cenário ao incentivo de grandes distribuidoras nacionais ou regionais à abertura de novas unidades, além da presença em cidades com até 20 mil habitantes, onde as grandes redes ainda não ocupam espaço considerável.
“À primeira vista, iniciar operações é positivo, pois coloca o varejo independente dentro de um “oceano azul”, com oportunidades e públicos a serem fidelizados. Mas esse setor tem muitas dificuldades de gerenciar o negócio sozinhas, o que vem abrindo campo para o associativismo”, avalia Paulo Paiva, consultor da Close-Up International.
Ao mesmo tempo, com uma certa saturação nos centros de maior porte, municípios com até 50 mil pessoas são os destinos de 1/4 das inaugurações de unidades do grande varejo e metade no caso do associativismo. Sem espaço para avançar nessas regiões e também nas cidades menores, um segmento em particular vê sua operação ainda mais em xeque – as pequenas e médias redes, único nicho com saldo negativo de lojas em 12 meses.
Saldo de lojas abertas x fechadas
(dados de 12 meses até agosto de 2025)

Movimentações em entidade parecem confirmar cenário desafiador
Coincidências à parte, uma notícia envolvendo a Unifabra na mesma semana do Outlook 2025 parece confirmar a gravidade do problema envolvendo as pequenas e médias redes. A associação, que representa empresas desse porte, viu sua então diretora executiva Kelly Marchiani anunciar o fim do ciclo profissional na entidade após dois anos e seis meses.
Ela informou a saída em seu perfil no LinkedIn, enquanto a Unifabra sequer revelou o nome de quem a substituirá no cargo. Há três anos, com 16 associadas em sete estados, o grupo ambicionava chegar a 100% das unidades da Federação até 2025. A meta ficou distante e hoje o ecossistema reúne apenas 19 redes em dez estados.
Fontes ligadas ao mercado, que decidiram não se identificar, entendem que a mentalidade de curto prazo serve de entrave para um crescimento realmente sustentável desse segmento de farmácias. O modelo do associativismo, cultivado durante duas décadas, é utilizado como exemplo de estratégia que exigiu tempo e paciência, mas com resultados e projetos realmente consistentes.
Momento atual do consumo não deve mudar situação
Outro sinal de preocupação é a expectativa que esse horizonte não mudará nos próximos anos em função de um fator em especial. A inadimplência atingiu 30,5% das famílias em setembro de 2025, o maior percentual da série histórica desde 2010. Esse cenário é agravado pelo fato de que 13% das famílias não têm condições de pagar suas dívidas e quase metade (48,7%) está inadimplente há mais de 90 dias.
“Os brasileiros em situação de inadimplência devem, em média, para quatro credores. Mesmo com a melhora de indicadores macroeconômicos, é natural que essas pessoas sigam priorizando a reestruturação financeira em detrimento das compras. E quem já começou a quitar os débitos não quer partir para novas dívidas, o que afugenta a atração de mais consumidores por parte das farmácias”, reforça Luiz Rabi, economista-chefe do Serasa Experian.