Executivos da indústria estão analisando os possíveis impactos da vitória de Donald Trump no mercado farmacêutico. Embora nenhum plano de governo concreto para o setor tenha sido revelado, sua indicação para os portfólios de saúde é tratada como uma incógnita. As informações são do Fierce Pharma.
Segundo a reportagem, o segmento de saúde provavelmente “ranquearia de maneira mais baixa” na lista de prioridades desse mandato, em relação aos primeiros quatro anos do republicano na Casa Branca.
Na oportunidade, a principal medida de Trump no segmento foi a política “Most favored nations”, que determinava que os EUA não deveriam pagar mais que outras potências mundiais por determinados medicamentos. A regulamentação, no entanto, foi implementada de maneira experimental após uma ordem do então presidente para o CMS (Centers for Medicare and Medicaid Services), e prontamente descartada pela Corte Federal de Maryland. Embora aliados tenham indicado que o republicano ainda apoie a iniciativa, uma nova tentativa de implementação ainda não foi confirmada.
Propostas são contrárias aos democratas
Durante a administração de Joe Biden, a principal mudança no mercado farmacêutico foi a aprovação do Ato de Redução Inflacionária (IRA). Lembrada como herança do atual presidente e parte do plano de governo de Kamala Harris, uma expansão da inicitativa está descartada no momento.
A política foi aprovada apesar da forte oposição dos republicanos, que se recusaram a votar a favor da medida, incomodando farmacêuticas americanas. Mesmo contando com a maioria na Casa Branca e no Senado atualmente, de acordo com analistas do banco de investimento Jefferies, é improvável que o partido de Trump tente revogar o IRA ou até mesmo proponha uma nova reforma, por diferenças ideológicas dentro do grupo.
Impactos de Trump no mercado farmacêutico: indicação de líder preocupa
No dia 31 de outubro, apenas cinco dias antes da eleição, Donald Trump prometeu designar o comando da área de saúde do governo a Robert F. Kennedy Jr. (RFK Jr.), filho do ex-procurador-geral dos EUA Robert F. Kennedy e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy. O advogado chegou a se lançar como candidato independente no início das eleições, mas desistiu do pleito para apoiar o republicano. “Quero que ele trabalhe na área da saúde. Acho que ele está certo em muitas das coisas sobre as quais está falando”, afirmou o político.
Evan Seigerman, diretor da BMO Capital Markets, afirma em uma nota emitida para clientes que o resultado da eleição a princípio é “modestamente positivo”, mas alerta que a indicação de Robert Kennedy Jr. é “o grande X da questão”, tendo potencial para ser “significativamente negativa”.
RFK Jr. é conhecido como grande expoente do movimento antivacina no país, tendo sido inclusive banido do Instagram durante a pandemia da Covid-19 pelo compartilhamento de notícias falsas. Também foi criticado pela própria família após afirmar que as medidas de distanciamento no período pandêmico afetavam mais a liberdade dos americanos do que as ordens do regime nazista em relação aos judeus.
Em um evento de campanha em Nova York, Trump revelou que permitiria que o advogado ambiental “se aventurasse na saúde e nos medicamentos”. “Ele quer dar uma olhada nessas vacinas”, disse o então candidato. Momentos depois da fala, em uma postagem no X (antigo Twitter), Kennedy Jr. mandou um recado aos “funcionários do FDA que são parte do sistema de corrupção”, afirmando que os mesmos deveriam “preservar seus registros e fazerem suas malas”.
O combate à corrupção e aos conflitos, a elevação das agências a um “padrão de ouro” e o fim da “epidemia de doenças crônicas”, são os principais pedidos do presidente eleito ao futuro responsável pelo departamento de saúde, que deve ainda “apresentar resultados mensuráveis em até dois anos”.
Emma Walmsley, CEO da farmacêutica britância GSK, foi mais cuidadosa ao abordar os impactos da vitória de Trump no setor. “Vamos ver quem será indicado para as vagas de administração”, disse a executiva enquanto explicava que a companhia está “altamente investida” no país, classificando-o como “de longe o mercado mais importante para as inovações da GSK”.
Ao comentar o bordão “faça a América saudável de novo”, entoado por RFK Jr, Walmsley concordou com a ideia da abordagem, mas apontou que a queda nos índices de vacinação é uma grande área de preocupação da farmacêutica.
“O primeiro passo é a transparência, a comunicação entre adultos baseada em fatos. É claro que as vacinas são uma questão mais afiada, porque você está injetando pessoas saudáveis, frequentemente bebês, então os pais têm questões”, explica a executiva. “Você não pode apenas gritar confie em nós, você precisa apresentar as evidências e esperar que a ciência e a verdade prevaleçam”, finaliza.