Venda de medicamentos sem eficácia comprovada contra Covid tem alta alarmante

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A polícia do Rio Grande do Sul abriu investigação sobre a morte de três pacientes que se submeteram a nebulização com um remédio considerado ineficaz contra a Covid. Mesmo com os alertas, as vendas e prescrições desses remédios dispararam nos últimos meses.

Não foi uma nem duas vezes, mas tem histórias que marcam mais.

‘Uma cliente veio com a prescrição, totalmente inadmissível uma prescrição daquela. Na hora que eu fui orientá-la sobre o caso da azitromicina, ela simplesmente disse para mim: ‘Você não sabe o que você está falando, isso é protocolo da Covid, olha aqui’. E jogou a receita na minha cara. Ela me disse que o médico era um familiar dela e que eu deveria me pôr no meu lugar, que eu não sabia do que eu estava falando’, contou o farmacêutico Victor Napomuceno.

A pressão sobre quem está atrás do balcão da farmácia ajuda a explicar por que as vendas de remédios sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid deram um salto no último ano.

As de hidroxicloroquina mais que dobraram. O aumento foi ainda maior no caso da ivermectina. Segundo o Conselho Federal de Farmácia, a escalada nas vendas aconteceu nos momentos em que houve afrouxamento nas normas para a compra de alguns desses medicamentos.

‘Nos momentos em que há uma flexibilização, até por conta dessa ansiedade que é gerada pela epidemia, nós tivemos uma verdadeira instalação de uma nova epidemia. Quer dizer, paralelo à epidemia da Covid, o que nós vivenciamos hoje e que nos preocupa é uma verdadeira epidemia no uso irracional de terapias que não têm, até o momento, comprovação de benefício’, afirmou Wellington Barros, consultor do Conselho Federal de Farmácia.

A corrida por esses remédios nas farmácias brasileiras vem na esteira de outro movimento que aconteceu dentro de consultórios médicos. O número de receitas passadas para a compra de medicamentos que fazem parte do chamado kit Covid aumentou bastante já nos primeiros meses da pandemia.

O número de médicos que usam uma plataforma digital para preencher receitas dobrou durante a pandemia e a plataforma viu as prescrições aumentarem muito mais. As de hidroxicloroquina, remédio usado no tratamento de artrite e lúpus, cresceram 800%; de ivermectina, um vermífugo, dois mil por cento. As prescrições de nitazoxamida, um antiparasitário, aumentaram 42 mil por cento, na comparação de janeiro a maio de 2020 com o mesmo período de 2019.

O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas de São Paulo, relata o que ouve quase todo dia de pacientes.

‘Se tivesse que botar aqui uma estatística, eu diria que 98% a 99% dos doentes já chegam com a história do tratamento precoce. Não há, em nenhum lugar do mundo sério, obviamente, quem esteja fazendo uso dessa medicação. Portanto, eu acho que está na hora de começar a acreditar que, de fato, não há tratamento precoce para a Covid-19’, disse Jamal.

No município gaúcho de Camaquã, quatro pacientes receberam nebulização com hidroxicloroquina e três morreram logo em seguida. A polícia abriu inquérito. O caso também é investigado pelo Ministério Público e pelo Conselho Regional de Medicina.

A direção do hospital afastou a médica que aplicou a nebulização. Nós não conseguimos falar com a médica. A advogada dela disse que existe uma orientação do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul para que ela não se manifeste.

Nesta quinta (25), a Sociedade Paulista de Pneumologia divulgou um alerta para que médicos não façam nebulização com cloroquina porque, como alertou a sociedade, além de não funcionar contra a doença, ‘a prática é certamente danosa ao já combalido sistema respiratório do paciente’.

Fonte: G1

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/26/farmaceuticos-sao-contra-kit-covid-em-ponta-grossa/

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