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O mapa da febre amarela em São Paulo

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SÃO PAULO – Três em cada quatro casos confirmados de febre amarela no Estado de São Paulo ocorreram em cidades consideradas pelo Ministério da Saúde sem risco para a doença. Boletim epidemiológico mais recente da Secretaria Estadual da Saúde paulista mostra que dos 40 registros da doença confirmados entre janeiro de 2017 até agora, 31 aconteceram em áreas sem recomendação permanente de vacina.

São definidas como regiões com recomendação aquelas em que há risco de circulação do vírus. Nesses casos, devem se vacinar todos os moradores e viajantes que planejam visitar esses locais. Desde 2000, 445 dos 645 municípios paulistas, todos no interior, estão nesse grupo. As áreas mais populosas do Estado, no entanto, como as regiões metropolitanas de Campinas e de São Paulo, não estavam nessa lista, mas foram as que registraram o maior número de casos no recente avanço da doença. Na terça-feira, 16, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que todo o Estado seja considerado de risco.

Foram também nas regiões sem recomendação de vacina em que o Estado registrou, já há quatro meses, o aumento expressivo de casos de macacos mortos pela doença, dado que já indicava o avanço do vírus para áreas antes consideradas livres dele. O número de animais doentes, que entre julho de 2016 e junho de 2017 foi de 187, saltou para 508 no mesmo período de 2017/2018.

“O que tem acontecido, já desde 2003, é um deslocamento da febre amarela cada vez mais à direita no mapa, cada vez mais perto do litoral. Então acho que, de um modo geral, o Brasil deu uma cochilada (na expansão da vacinação para outras áreas)”, comenta Celso Granato, professor de Infectologia da Unifesp.

Ele diz ter se impressionado com a rapidez com o que o surto ocorreu em São Paulo. “Quando começamos a perceber que estava chegando aqui, já foi no segundo semestre. E foi tudo muito rápido, talvez nunca tenha ocorrido assim antes. Talvez pudesse ter começado a vacinação antes, dois, três meses antes do que começou, mas não sei se teria feito uma enorme diferença.”

Pedro Luiz Tauil, do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília (UnB), lembra que ainda não se sabe por que a expansão da doença vem ocorrendo da forma como está e diz que as campanhas de vacinação estão se guiando por esse processo do vírus. “A verdade é que não se sabia para que lado a epidemia ia e os governos vão acompanhando essa expansão, cujos fatos não conhecemos todos. E ninguém vai propor vacinação onde não havia recomendação de vacina porque não tem vacina para todo mundo.”

Para ele, há um problema do sistema de saúde como um todo. “Acredito que todo o País vai entrar como área de recomendação, progressivamente. Mas é preciso ter estrutura para fazer vacina. Nosso sistema de saúde sofre muito, não dá conta nem da parte assistencial, quanto mais da preventiva”, afirma.

“Poucos municípios têm equipes móveis de vacinação, fundamentais para vacinar as populações mais vulneráveis”, complementa.

Tauil diz que foi inesperada a grande epidemia em Minas no ano passado e sua expansão para o Espírito Santo, onde não havia registro da doença em mais de 30 anos. “A baixa cobertura vacinal foi o principal fator, mas já estava assim havia alguns anos. Lamentavelmente, vamos atrás da onda.”

Questionada sobre suposta falha na definição de áreas de risco, a Secretaria Estadual da Saúde informou que, desde o ano passado, passou a oferecer a vacina em 77 municípios além dos considerados de risco. “Quem define a área de recomendação da vacina é o Ministério da Saúde, mas nosso monitoramento tem sido constante e é por isso que estamos promovendo vacinação em municípios sem recomendação, mas que registraram casos de macacos mortos pela doença”, disse Regiane de Paula, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da secretaria.

Fonte: Estadão

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