Seis farmacêuticas brasileiras ocupam top 10 da indústria
Políticas de Estado e movimentações de
multinacionais ajudaram a mudar dinâmica setorial
por Gabriel Noronha em


Um levantamento realizado pelo Grupo Farma Brasil revelou mudanças significativas no desempenho das farmacêuticas nacionais desde 1998.
Uma comparação entre o número de companhias brasileiras presentes no top 10 de participação de mercado, em diferentes recortes, evidencia essa tendência, além de confirmar que o setor está mais concentrado atualmente.
Em 1998, por exemplo, o Aché era a única farmacêutica brasileira no ranking, ocupando a quinta colocação com 4,7% de market share. Na época, as empresas mais destacadas do setor detinham, em média, fatias de 4,42% do mercado. Agora, seis empresas do país figuram na lista. Grupo NC, Eurofarma, Hypera, Aché, Libbs e Biolab concentram, em média, 5,12% do mercado.
1998
(Nome, origem e participação de mercado em %)

2024
(Nome, origem e participação de mercado em %)

Fortalecimento das farmacêuticas brasileiras como política de Estado
A escolha do recorte não é aleatória, já que o ano seguinte a 1998 marca o início de uma série de iniciativas governamentais voltadas ao fortalecimento do setor. O início das operações da Anvisa, a promulgação da Lei da Propriedade Industrial e implementação dos medicamentos genéricos estão entre os fatores que impulsionaram e consolidaram a indústria farmacêutica nacional.
Essas mudanças exigiram uma revitalização completa dos parques industriais das empresas brasileiras, necessária para adaptar a produção às exigências de bioequivalência requeridas para os genéricos e enfrentar a concorrência das multinacionais, que controlavam cerca de 60% do mercado no início dos anos 2000.
Posteriormente, uma política de Estado com o objetivo de formar empresas de alcance global também colaborou com o setor. Durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003–2010), foi instituído em abril de 2004 o Profarma (Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica), com recursos do BNDES para apoiar a modernização industrial, P&D e consolidação de empresas nacionais BNDES. No mesmo ano, foi criado o programa Farmácia Popular, com o propósito de ampliar o acesso a medicamentos essenciais por meio de subsídios e convênios com farmácias privadas.
Movimentações recentes de mercado também colaboraram
Outra tendência que ajudou na consolidação das empresas brasileiras no país é a preferência das multinacionais pelos segmentos de P&D e inovação. Cada vez mais as grandes farmacêuticas globais negociam ou terceirizam seu portfólio de “produtos maduros”, aqueles de uso mais cotidiano, abrindo espaço para os laboratórios nacionais.
Essas negociações foram importantes também para movimentar o mercado interno. Em 2021, por exemplo, o setor registrou um intenso ritmo de negócios entre farmacêuticas.
A própria Eurofarma deu o pontapé inicial ao adquirir 12 MIPs da Hypera Pharma, que por sua vez efetivou a compra de 12 marcas da Sanofi, entre as quais AAS e Cepacol. A União Química incorporou nove hormônios femininos da Bayer e, de quebra, a fábrica da companhia alemã na capital paulista. A EMS também foi ao mercado e comprou a família Caladryl, da Cellera Farma. Outra protagonista do ano foi a FQM, que se transformou na representante exclusiva da marca Floratil no Brasil com a expectativa de elevar a receita em 30% já nos primeiros 12 meses de operações.
“Os laboratórios estrangeiros estão mirando projetos de desenvolvimento de medicamentos com grande valor agregado, que têm volume menor mas um faturamento elevado”, avalia Henrique Tada, diretor executivo da Alanac. “É a racionalização de negócios para melhor usar o capital humano, pois, muitas estão se focando em áreas de especialidades”, entende Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma.