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Bahia já tem 24 medicamentos em falta ou com estoque próximo a zero

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‘É uma tragédia, pois o estoque de medicamentos que temos não dá para a população toda que precisa’. Esse é o lamento do superintendente de Assistência Farmacêutica, Ciência e Tecnologia em Saúde (Saftec), Luiz Henrique d’Ultra, ao comentar a falta de remédios que atinge a Bahia. Nesta terça-feira (24), subiu de 22 para 24 o número de medicamentos com estoque zerado ou inferior a 30 dias, devido ao atraso no abastecimento por parte do Ministério da Saúde.

Além dos que já estavam na lista de ausentes, foram incluídos a Nevirapina e a Fenoximetilpenicilina Potássica. Essa última é mais conhecida como pen-ve-oral, remédio utilizado no tratamento da anemia falciforme. ‘Ela é usada obrigatoriamente em crianças de até cinco anos portadoras da doença. Todos os pais estão reclamando que está em falta e, se for pagando, cada frasco sai em média por R$ 35 e dura apenas cinco dias’, lamenta Noemia Neves, presidente da Associação de Pessoas com Doença Falciforme de Ilhéus (Apedfi).

Ela teve acesso a um e-mail escrito por Ana Margareth Gomes Alves, assessora técnica do Ministério da Saúde, que assume a falta do medicamento e alega que o mesmo está em processo de aquisição. ‘Para que não haja descontinuidade do cuidado até o reestabelecimento do fluxo de distribuição, (…) a penicilina G injetável (benzilpenicilina benzatina intramuscular) deve ser considerada’, escreveu.

Noemia explica que, nesse trecho do e-mail, a assessora recomenda que seja utilizado injeção de benzetacil nas crianças de menos de cinco anos com forma de substituir o medicamento faltoso. ‘O adulto já usa o benzetacil, mas pense aí a criança ter de ir de 15 em 15 dias no hospital tomar essa injeção que é dolorosa. Fora o fato de que a mãe tem a receita para pegar o pen-ve-oral, que não dá direito ao benzetacil. E mesmo se desse, não adiantaria, pois ele não é disponibilizado na farmácia’.

‘Enquanto o medicamento não é reposto, quem pode comprar, compra. Quem não pode, fica sem’, afirma.

E tem gente que ficou mesmo sem. Moradora de Ilhéus, Leticia Silva Santos, 34 anos, saiu do emprego para cuidar da filha Alice, que está há 15 dias sem tomar o remédio de uso contínuo e diário. ‘Fico com a sensação de ser incapaz, que nada posso fazer vendo minha filha passar por dores. Só quem tem anemia falciforme sabe o que é isso. Ela não poderia parar o tratamento de jeito nenhum e estamos refém do governo’, desabafa. Quem quiser ajudar a mãe no tratamento da filha, ela pede que entre em contato pelo número (73) 98201-4493.

Tratamento de outras doenças também está afetado

Não é só os pacientes com anemia falciforme que estão afetados. Os 24 medicamentos em falta são utilizados no tratamento de milhares de pacientes com diversas doenças, como câncer, HIV/Aids, diabetes, alzheimer, artrite reumatóide, espondilite, crohn, epilepsia, escleroses, esfingolipidoses, esquizofrenia, fibrose cística, parkinson, trombose venosa, dentre outras.

Leia mais: Senado aprova quebra de patente de vacinas e medicamentos em emergência de saúde

‘A menos que eles tenham dinheiro e comprem ou o governo federal regularize imediatamente o envio, os pacientes continuarão impossibilitados de cuidar da sua saúde’, aponta Luiz Henrique d’Ultra. Ele garante que todos os medicamentos em falta são de responsabilidade de compra da união. Mas Noemia Neves pede que haja sensibilidade dos governos estadual e municipal em adquirir por conta própria alguns fármacos.

‘Na quinta-feira, vou ter uma reunião com o secretário de saúde e vou fazer essa proposta, pois os pacientes são de responsabilidade do município. A medicação é de responsabilidade do governo federal, mas isso não quer dizer que o estado ou município não possa comprar para suprir o estoque’, argumenta.

A professora de inglês Lara Loureiro Graça, 25 anos, está tendo que comprar a Insulina Análoga de Ação Rápida, que também está em falta. Ela tem diabetes tipo 1 e usa o fármaco regularmente. ‘A gente tem que tirar dinheiro de onde não tem e está muito difícil, pois até nas farmácias já está acabando a insulina. Alguns lugares têm mais facilidade. Em Ilhéus, onde moro, é mais difícil para conseguir os remédios’, conta. Para lá, desde abril de 2021 que o medicamento não é enviado pelo Ministério da Saúde.

Salvador, por ser mais populosa, tem mais facilidade em receber os remédios. Mesmo assim, Taila Santos, membro da Associação de Diabéticos da Bahia (Adiba), alega que a última remessa na cidade chegou há um mês e acabou em dois dias. ‘Felizmente, eu tenho privilégio de poder comprar. A mais barata é R$ 33 e dura em média uma semana e meia. Mas conheço mães que estão desesperadas, sem dinheiro para compar para os filhos. Vamos até fazer vaquinha para ajudar’, diz.

Sem abastecimento, até 70 mil pacientes baianos serão prejudicados

Não há uma estimativa da quantidade de pessoas na Bahia que são atualmente afetadas pela falta dos medicamentos. No entanto, se a situação não se regularizar, o superintendente da Saftec afirma que até 70 mil pacientes baianos podem ser prejudicados. E esse cenário mais caótico já começa a ser sentido. Até o momento, embora não estejam em falta, 14 medicamentos encontram-se com fornecimento irregular, com estoque inferior a 60 dias. Confira a lista completa no final do texto.

Para piorar, segundo o superintendente, a maioria dos medicamentos faltosos não possui substituto, nem solução de abastecimento imediata, o que implicaria, de imediato, na interrupção do tratamento dos pacientes.

‘Existem determinadas doenças, como câncer, por exemplo, que é melhor atrasar do que interromper o tratamento. Uma pessoa que não toma o medicamento regulamente pode sofrer danos irreparáveis, que não tem retorno. O prejuízo é incalculável’, relata.

Para evitar que isso aconteça, o Ministério da Saúde (MS) é cobrado a regularizar o fornecimento. “A frequente irregularidade no abastecimento dos estoques de diversos medicamentos vem sendo notificada de modo reiterado pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) ao Ministério da Saúde, ao Minitério Público Federal (MPF) e ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). O último comunicado foi em 16 de agosto”, afirma.

A Secretaria de Saúde de Salvador (SMS) disse que os medicamentos citados na reportagem não são entregues pela prefeitura e, portanto, sua falta não afeta a operação municipal. Já o Ministério da Saúde, MPF, Conass e o Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosemsba) foram procurados, mas não responderam até o fechamento do texto.

Fonte: Correio 24 Horas Online

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/projeto-de-lei-quer-obrigar-farmacias-e-drogarias-a-divulgarem-medicamentos-gratuitos-disponibilizados-pelo-sus/

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