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Campanha de efeito muito limitado

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E m face das epidemias cada vez mais comuns de influenza e outras doenças preveníveis com imunização, pais, educadores, profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas muitas vezes ficam na dúvida sobre a melhor abordagem para convencer a população a se vacinar.

Uma revisão de artigos científicos descobriu que a persuasão pode não ser a opção mais favorável. Em vez disso, os autores do artigo, publicado na revista Psychological Science in the Public Interest, defendem que intervenções comportamentais são mais efetivas que a tentativa de fazer alguém mudar de ideia.

“Um mito comum é que é fácil persuadir as pessoas a se vacinar”, diz Noel T. Brewer, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte e primeiro autor do artigo. “Mas quando foi a última vez que ouvir sobre um fato uma única vez o fez se exercitar regularmente, perder peso ou parar de fumar? É o mesmo em relação à vacinação”, diz. O trabalho de revisão sugere que há pouca evidência da efetividade de campanhas que geralmente se focam em mudar as percepções e atitudes das pessoas sobre imunização.

Para entender os fatores que estão por trás do comportamento associado à vacinação, Brewer e os coautores do artigo examinaram as descobertas mais recentes em uma variedade de campos, incluindo ciência psicológica, saúde pública, medicina, enfermagem, sociologia e economia comportamental. “Como Brewer e os colegas notam, a ciência psicológica oferece ideias sobre o porquê de as pessoas aderirem a comportamentos de saúde, incluindo a vacinação. Ao publicar esse artigo, os autores estão prestando um serviço à sociedade, pois integram uma literatura desconectada sobre teorias psicológicas e vacinação, que podem servir para intervenções práticas”, observa Victor J. Dzau, presidente da Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos.

Adesão
Um dos desafios das campanhas de imunização é que a adesão varia dependendo da vacina. As voltadas às crianças costumam ter um forte apoio do público, com a maioria dos meninos e meninas do mundo recebendo as doses recomendadas. Por outro lado, muitos adultos deixam de se vacinar contra doenças como a gripe sazonal. “A vacinação é um dos grandes ganhos da saúde pública do século passado. Ainda assim, a cobertura está bem abaixo do ótimo para algumas substâncias, e profissionais de saúde enfrentam pais e pacientes hesitantes sobre elas”, diz Gretchen B. Chapman, pesquisadora da Universidade de Carnegie Mellon e coautora do trabalho. “Compreender todos os benefícios da vacinação implica uma abordagem comportamental”, observa.

Segundo os pesquisadores, os melhores dados disponíveis indicam que o percentual de pessoas que se recusam ativamente a tomar todas as vacinas é muito pequeno e que nem a negação ou o atraso estão em alta. Isso contradiz a narrativa contemporânea de que está aumentando o número de pessoas que rejeitam a imunização, argumentam os autores. Eles dizem que, na verdade, a maior parte das pessoas recebe a maioria das vacinas recomendadas pelos médicos. Muitas outras têm atitudes favoráveis em relação a elas, mas nem sempre seguem o regime corretamente.

Para contornar esse problema, a pesquisa sugere que as melhores intervenções tiram vantagem das intenções favoráveis da população, empregando estratégias comportamentais simples, como enviar mensagens de lembrança para os pacientes. “Nossa principal mensagem para os formuladores de políticas públicas é que, surpreendentemente, as evidências mais fortes sugerem que incentivar aqueles favoráveis à vacina é mais efetivo que tentar mudar a cabeça dos que a rejeitam”, diz Chapman.

Em alguns casos, as pessoas encontram informações falsas ou incorretas sobre vacinas. Pesquisas mostram que a melhor forma de corrigir isso é reiterar os fatos verdadeiros claramente e de forma a se encaixar com as crenças intuitivas das pessoas. As conclusões são apoiadas por múltiplas fontes de evidências, mas os pesquisadores notam que muitos dos estudos disponíveis sobre o comportamento em relação à vacinação têm limitações qualitativas e quantitativas. Pesquisas que investigam as atitudes a respeito da imunização são raras e poucas examinam mecanismos e componentes específicos de uma intervenção eficaz, notam os autores.

Apesar dessas limitações, estudos transcontinentais estão convergindo para descobertas em comum. Em geral, essas pesquisas mostram que a aceitação da vacina tende a ser alta, apesar de haver hesitação sobre ela, e que os fatores que motivam a população a aderir à imunização são semelhantes entre os países. “Vacinação é um assunto de saúde pública, com a ciência psicológica fornecendo uma lente para compreender os fatores que motivam a imunização. As intervenções que têm o maior impacto são aquelas baseadas nas teorias psicológicas e nas evidências comportamentais”, conclui Noel T. Brewer.

Para saber mais – Revolta popular

Paloma Oliveto

A mais polêmica campanha vacinal brasileira aconteceu há 114 anos, no Rio de Janeiro. Sob o comando do sanitarista Oswaldo Cruz, o governo começou uma imunização obrigatória contra varíola, doença infecciosa gravíssima, eliminada do mundo apenas na década de 1960. A intenção era a melhor, mas a estratégia foi um fracasso.

O Brasil da época era pobre e analfabeto. Se, mesmo entre os bem-nascidos, a novidade da vacina gerava desconfiança, o que dizer de um povo para quem a informação era artigo de luxo.

Em 1904, a massa trabalhadora já estava farta do governo que, com a reforma urbana, colocou abaixo as moradias simples, como cortiços e casas populares, para dar lugar a parques, avenidas e construções verticais. Com no nervo à flor da pele, não houve quem segurasse o povo quando agentes de saúde começaram a bater às portas, munidos de seringas e agulhas. De 10 a 16 de novembro, o Rio de Janeiro entrou em guerra.

Na chamada Revolta da Vacina, houve depredação, conflito com forças de segurança, ataques aos profissionais de saúde. O saldo foi de 30 mortos e 100 feridos. Foi preciso decretar estado de sítio e suspender temporariamente a campanha. Quando a paz voltou à cidade, a vacinação obrigatória foi retomada.

Fonte: Correio Braziliense

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