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CFM precisa decidir o que pensa sobre a maconha medicinal

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Nota de repúdio à regulação do cultivo de cannabis do Conselho Federal de Medicina se auto contradiz sobre maconha medicinal. Para Luís Fernando Tófoli¹ ‘CFM precisa se decidir qual é o lado que pretende defender, se o da posição conservadora do Ministro, que deseja manter uma acéfala guerra às drogas, ou se o da evidência científica que o mesmo Conselho concordou em divulgar’.

Um retrocesso atrás do outro. Não bastasse a aprovação da nova lei de drogas que facilita a internação involuntária de usuários de drogas, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatras (ABP) publicaram, nesta quarta-feira (22), nota de apoio ao ministro da cidadania, Osmar Terra, posicionando contrários à regulação do plantio de cannabis com fins medicinais.

O que para Luís Fernando Tófoli¹, membro do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas de São Paulo, declarado em redes sociais “parece ser particularmente intrigante uma entidade médica ser contra uma medida que poderá proporcionar, a custos mais baixos, um medicamento com potenciais terapêuticos consolidados, além de outros potenciais que poderão ser descobertos com pesquisa científica”.

Para Tófoli, que também é professor de psiquiatria e coordenador do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Leipsi) da Unicamp, “o Ministro da Cidadania, Osmar Terra, em sua cruzada contra as drogas e as evidências científicas, quis puxar a orelha do diretor da Anvisa, que manifestou a intenção de regular o plantio de maconha para fins medicinais no Brasil”.

O assunto veio à tona a partir de matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, no último dia 19, que afirmava que “o diretor da Anvisa Renato Porto manifestou ao setor (startups de maconha farmacêutica) seu desejo de deslanchar a regulação para o plantio do cannabis com ´fins medicinais´ no Brasil”.

Segundo L.F. Tófoli a pretensão de Porto é muito bem-vinda. “Os custos de importação de cânabis medicinal – que já é autorizada para diversos casos no Brasil – são imorais diante do imenso potencial que o país tem para o plantio para fins científicos e terapêuticos”.

No mesmo dia, o ministro Osmar Terra posicionou-se, via Twitter, sobre a notícia: “não acredito que o Diretor da Anvisa, @portorenato , seja irresponsável a ponto de querer liberar o uso da maconha medicinal. Contra a lei, contra as evidências científicas e contra o Congresso e o Governo brasileiro!!”. Terra completou afirmando que “a maconha tem 500 moléculas diferentes na sua composição que causam danos ao cérebro, causam retardo mental a médio e longo prazo, desencadeiam psicoses incuráveis, principalmente nos mais jovens, além de severos danos ao pulmão e aparelho circulatório”.

Para fechar, momentaneamente o círculo, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) também resolveram se posicionarem contra o plantio nacional.

Com uma justificativa sem sentido, exposta em uma nota de apoio ao ministro, inclui a compreensão de que “o uso da cannabis (maconha) ainda não possui evidências científicas consistentes que demonstrem sua eficácia e segurança aos pacientes. Desse modo, a regulação do plantio e uso dessa droga coloca em risco esse grupo, além de causar forte impacto na sociedade em sua luta contra o narcotráfico e suas consequências”.

 

Entretanto, este mesmo CFM editou uma cartilha sobre maconha há poucas semanas que contradiz as próprias justificativas do conselho, como bem observado L.F. Tófoli. A pesquisa do livro e elaboração do texto foram feitas pelos médicos Alberto José de Araújo, João Paulo Lotufo e Carolina Costa.

CFM E SUAS CONTRADIÇÕES

Com um título digno de pânico moral dos anos 1980, o livreto ‘A tragédia da maconha: causas, consequências e prevenção’, analisa as evidências científicas sobre o uso terapêutico da planta e de seus componentes, os canabinoides.

 

“E qual são as conclusões? Existem evidências do uso terapêutico da maconha e seus canabinoides para além do canabidiol (CBD), que parece ser a única molécula que o CFM julga ser medicinal, ainda que somente em casos compassivos.

No entanto, o livreto deixa bem claro de que há evidências CONCLUSIVAS para o uso em dor crônica (usando a planta inteira), em espasticidade (tetraidrocanabinol, ou THC) e em náuseas e vômitos causados por quimioterapia (também THC)”,  expõem Tófoli em seu Twitter junto a imagem da cartilha (fig. abaixo).

 

“Além disso, há evidências MODERADAS para distúrbios do sono, fibromialgia e esclerose múltipla para o uso do nabiximol, que é um extrato fitoterápico feito com porções iguais de THC e CBD.

Muito bem, diferente da narrativa proibicionista médica de que o CBD, as evidências científicas apresentadas sugerem a eficácia terapêutica da maconha inteira (portanto contendo THC), do THC oral e de uma formulação fitoterápica que contém THC”. Segundo o especialista o próprio livreto diz textualmente, à pagina 112 (fig. abaixo), “o próprio THC demonstrou benefícios médicos em formulações específicas”.

 

“Sendo assim, me parece ser particularmente intrigante uma entidade médica ser contra uma medida que poderá proporcionar, a custos mais baixos, um medicamento com potenciais terapêuticos consolidados, além de outros potenciais que poderão ser descobertos com a pesquisa científica.

Mais do que isso, o CFM precisa se decidir qual é o lado que pretende defender, se o da posição conservadora do Ministro, que deseja manter uma acéfala guerra às drogas, ou se o da evidência científica que o mesmo Conselho concordou em divulgar”.

#PraCegoVer: Ilustração de capa, une a nota do CFM contra maconha e uma página da Cartilha sobre a substância em que o próprio Conselho de Medicina mostra os benefícios da cannabis. Ao centro vemos a frase em verde “O CFM precisa decidir o que pensa sobre a maconha medicinal.”

Fonte: Somke Buddies

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