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Cientistas tentam entender mutações celulares que podem levar ao câncer

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O câncer é uma doença de mutações. As células tumorais têm muitas mutações genéticas que não são encontradas em células saudáveis. Os cientistas estimam que são necessárias de cinco a dez mutações-chave para que uma célula saudável se torne cancerosa.

Algumas dessas mutações podem ser causadas por agressões do meio ambiente, como raios ultravioleta e fumaça de cigarro. Outras surgem de moléculas prejudiciais produzidas pelas próprias células. Nos últimos anos, os pesquisadores começaram a examinar mais de perto essas mutações, tentando entender como elas surgem nas células saudáveis, e o que faz com que essas células mais tarde se desenvolvam como um câncer.

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A pesquisa produziu algumas surpresas importantes. Por exemplo, os cientistas verificaram que uma grande parte das células de pessoas saudáveis possui muito mais mutações do que o esperado, incluindo algumas consideradas as principais causas do câncer. Essas mutações fazem uma célula crescer mais rápido do que outras, levantando a questão de por que o desenvolvimento do câncer não é muito mais comum.

“Esta é uma peça fundamental da biologia que não conhecíamos”, diz Inigo Martincorena, geneticista do Instituto Wellcome Sanger em Cambridge, na Inglaterra.

Essas mutações ocultas passaram despercebidas por tanto tempo porque as ferramentas para examinar o DNA eram muito básicas. Se os cientistas quisessem sequenciar todo o genoma das células tumorais, teriam que reunir milhões de células e analisar todo o DNA. Para ser detectável, uma mutação precisaria ser muito comum.

No entanto, à medida que o sequenciamento de DNA se tornou mais sofisticado, Martincorena e outros pesquisadores desenvolveram métodos para detectar mutações muito raras e começaram a se perguntar se essas mutações poderiam ser encontradas em células saudáveis, que não apareciam nos exames.

Martincorena e seus colegas começaram sua busca na pele, onde as células são agredidas diariamente pelos raios ultravioleta do sol, o que desencadeia mutações. “Nós pensamos que era a parte mais fácil”, explica Martincorena.

Em um estudo em 2015, ele e seus colegas coletaram pedaços de pele que sobraram de cirurgias cosméticas para levantar pálpebras caídas. Os cientistas examinaram 234 biópsias de quatro pacientes, cada amostra de pele do tamanho de uma cabeça de alfinete. Eles gentilmente separaram as camadas superiores, conhecidas como células epiteliais, do tecido subjacente.

A equipe de Martincorena então tirou o DNA das células epiteliais saudáveis e sequenciou cuidadosamente 74 genes que são conhecidos por desempenhar um papel importante no desenvolvimento do câncer. Os pesquisadores descobriram que mutações comuns em genes de câncer também foram incrivelmente comuns nessas células saudáveis da pele. Cerca de uma em cada quatro células epiteliais carregava uma mutação em um gene ligado ao câncer, o que acelerava o crescimento da célula.

No entanto, os cientistas sabiam que era possível que a pele fosse peculiar. Talvez dentro do corpo, longe do ataque dos raios ultravioleta, houvesse células saudáveis que não carregavam essas mutações-chave.

Para descobrir, os pesquisadores decidiram estudar as células do esôfago. A equipe coletou amostras de tecido de nove mortos doadores de órgãos saudáveis. Depois, cortaram o tecido em dezenas de minúsculos quadrados e examinaram os mesmos 74 genes relacionados ao câncer.

Martincorena e seus colegas descobriram que as novas mutações surgiam mais lentamente no esôfago do que na pele. No entanto, quando essas mutações apareciam, faziam com que as células do esôfago se multiplicassem mais rapidamente do que as normais. Com o tempo, essas células malignas se espalharam pelo esôfago, formando colônias de células mutantes, conhecidas como clones. Embora esses clones não sejam câncer, eles exibem uma marca registrada da doença: o crescimento rápido.

“Esses clones mutantes colonizam mais da metade do esôfago até a meia-idade”, afirma Martincorena. “Esse dado foi revelador para mim.” Martincorena e seus colegas relataram suas descobertas quinta-feira na revista Science.

Ao examinar as mutações, os pesquisadores foram capazes de descartar causas externas, como fumaça de cigarro ou álcool. Em vez disso, as mutações parecem ter surgido por causa do envelhecimento comum. À medida que as células se dividiam repetidamente, seu DNA às vezes ficava danificado. Em outras palavras, o aumento dessas mutações pode ser apenas uma parte intrínseca do envelhecimento.

“Parece que não importa se a pessoa se cuida comendo bem, exercitando-se e limitando certos vícios, provavelmente não há muito que se possa fazer contra a necessidade do corpo de substituir suas células”, diz Scott Kennedy, biólogo do câncer da Universidade de Washington, que não participou do estudo.

O estudo também levantou questões sobre os esforços para detectar o câncer em seus estágios iniciais, quando as células cancerosas ainda são raras, explica Kennedy: “Só porque alguém tem mutações associadas ao câncer não significa que elas realmente tenham malignidade”.

Dada a abundância de mutações de câncer em pessoas saudáveis, por que o câncer não é mais comum? Martincorena especulou que um corpo saudável pode ser como um ecossistema: talvez clones com mutações diferentes surjam nele, disputem espaço e recursos disponíveis e mantenham um ao outro sob controle.

Se assim for, um dia combater o câncer pode ser uma questão de ajudar clones inofensivos a superarem os que podem causar tumores mortais.

“Não existe uma terapia sendo pensada nesses termos agora”, diz Martincorena. “Mas acho que isso abre novos caminhos. Acredito que o conhecimento é sempre uma arma.”

Fonte: UOL

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