Divergências societárias causam 70% dos problemas de gestão
Conflitos envolvem desde falhas de governança até comunicação, passando por falta de confiança


Uma pesquisa realizada pelo Sebrae revelou que as divergências societárias são as maiores responsáveis pelo fechamento de empresas jovens. Mas o problema também afeta o desempenho e a lucratividade de corporações já maduras.
O Brasil conta com mais de 23 milhões de companhias ativas, segundo dados do Mapa de Empresas de abril de 2025, relatório gerado no âmbito da Secretaria Nacional de Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP).
Estima-se que até 70% das sociedades fracassem devido a desentendimentos sobre questões fundamentais que envolvem desde falhas de governança e de comunicação, passando por falta de confiança, expectativas discordantes, ausência de contratos e estatutos sociais bem redigidos.
Essas questões podem levar à estagnação da empresa, prejuízos financeiros e, em muitos casos, ao seu encerramento ou mesmo a uma situação de insolvência.
Acordo formal pode atenuar divergências societárias
As divergências societárias poderiam ser evitadas com a adoção de uma prática quase sempre negligenciada. “O acordo de sócios funciona como um verdadeiro pacto estratégico, um mapa detalhado que guia o relacionamento entre seus integrantes, estabelecendo regras claras e prevenindo desentendimentos futuros”, comenta o advogado Murilo Carrascosa.
Enquanto o Contrato Social estabelece a estrutura formal e pública da empresa, o Acordo de Sócios analisa as nuances da relação societária, operando de forma complementar. Esse documento apresenta as seguintes premissas
- Prevenção de conflitos: alinha expectativas desde o início, definindo papéis, responsabilidades e procedimentos, minimizando ruídos e mal-entendidos que são a semente de futuras discórdias
- Estabilidade e segurança jurídica: cria um ambiente de negócios mais previsível e seguro, onde os sócios conhecem as regras do jogo e as consequências de seus atos, reduzindo a instabilidade e o risco de litígios
- Governança corporativa eficaz: institui mecanismos claros para a administração, o controle e a tomada de decisões, garantindo que a gestão seja transparente, eficiente e alinhada aos interesses da sociedade
- Proteção patrimonial e dos interesses dos sócios: Define regras para a entrada e saída de sócios, avaliação da empresa, distribuição de lucros e proteção de minoritários, resguardando o patrimônio investido e equilibrando os interesses individuais
- Facilitação da gestão e tomada de decisões: agiliza processos decisórios ao prever quóruns específicos para diferentes matérias e estabelecer procedimentos claros, evitando a paralisia gerencial
- Atração de investidores: um Acordo de Sócios bem estruturado sinaliza maturidade, organização e seriedade para o mercado e potenciais investidores, que veem no documento uma garantia adicional de segurança e boa governança
Arbitragem é opção para divergências societárias
A arbitragem pode ser outro expediente necessário para sanar divergências societárias e já deve constar do instrumento contratual. “Entre as vantagens desse modelo está a possibilidade da escolha dos julgadores, a confidencialidade, a celeridade e finalidade da decisão, ou seja, não ser passível de recurso ao Poder Judiciário”, salienta o advogado Leonardo Melo, especialista em contencioso judicial estratégico.
“As soluções consensuais são sempre preferíveis. Ninguém melhor do que as partes para definirem o caminho mais assertivo para se colocar fim a uma disputa”, explica Melo. Segundo ele, às vezes, é preciso dar início a uma demanda societária, judicial ou arbitral, para que as partes consigam enxergar com mais precisão a extensão de seus direitos e deveres. “Quando as questões estão mais maduras, o acordo se mostra bem mais factível”, finaliza.