Redes de farmácias da América do Sul desembarcaram em São Paulo (SP) para acompanhar a programação do Abrafarma Future Trends, que atraiu mais de 6 mil empresários, executivos e dirigentes para o Distrito Anhembi nos dias 13 e 14 de agosto (ver abaixo galeria de fotos do congresso). A delegação de 13 representantes do varejo farmacêutico internacional buscou apreender lições do setor que vem reinventando suas operações e caminha para R$ 100 bilhões de faturamento.
O grupo participou do congresso por meio de uma iniciativa da Close-Up International, que estimula o intercâmbio entre farmácias do continente por meio da participação em eventos e visitas técnicas aos pontos de venda. Na edição deste ano, estiveram presentes executivos do Paraguai e do Peru. Também está prevista a ida de representantes da região para o Encontro Farmarcas, que acontecerá entre os dias 28 e 31 de agosto na capital paulista.
Países como Argentina, Colômbia, Chile e México também vieram ao Brasil nos anos anteriores para assimilar lições do varejo farmacêutico nacional. “Muito além do desempenho financeiro das redes, o que vem chamando a atenção desses mercados é a transformação do modelo de negócios do grande varejo e o próprio perfil da Abrafarma. A entidade não se limitou ao papel institucional e assumiu um viés comercial determinante para dinamizar o setor”, argumenta Paulo Paiva, vice-presidente Latam da Close-Up International.
Farmácias da América do Sul enfatizam experiência no varejo brasileiro
As farmácias da América do Sul enxergam no varejo brasileiro um parâmetro a ser seguido, especialmente no que se refere à cultura da experiência no ponto de venda. E a rede Farmacias Peruana vem incorporando esses exemplos. Líder de mercado no Peru, com mais de 2,4 mil unidades, a companhia adotou o formato de beauty shop nas lojas da Mifarma, uma de suas duas bandeiras – a outra é a Inkafarma, com modelo mais calcado na venda de medicamentos.
“Na Mifarma, temos procurado reforçar o portfólio de higiene e beleza justamente para estimular um novo comportamento de consumo. Também ampliamos o mix de produtos nutricionais, considerando a crescente preocupação dos clientes com a imunidade”, comenta o diretor comercial Renzo Portocarrero. O executivo destacou a área de expositores do Future Trends, reunindo mais de 90 fornecedores. “É um grande showroom de marcas, que, juntamente com a programação de palestras, ajuda a nortear tendências de todo o setor”, acrescenta.
No Peru, as redes de farmácias detêm em torno de 14% dos pontos de venda, mas concentram 65% do faturamento. A fatia restante da receita está nas mãos das independentes, cuja penetração está em queda. Porém, a digitalização ainda é incipiente, já que somente 3% a 4% das vendas são oriundas dos canais online.
Mercado paraguaio quer mais intercâmbio e menos restrição regulatória
A realidade é similar no Paraguai, embora o fosso ainda seja um pouco menor. As redes totalizam 50% do volume de negócios e agora direcionam mais esforços para as vendas digitais. A consolidação setorial teve como um dos marcos a aquisição da Farmacenter pelo Grupo Cartes, uma das maiores holdings multimarcas do país. A operação ocorreu há três anos e representou a estreia do conglomerado no varejo farmacêutico. Com mais de 40 anos de mercado, a rede administra 200 unidades.
A Farmacenter sobressai no mercado local pela concepção do layout de lojas com base nas regiões onde atua. Em bairros de maior poder aquisitivo, a varejista implementou pontos de venda premium, com um mix ampliado de higiene e beleza. O diretor geral Luciano Marroni, entretanto, entende que é necessário que as farmácias da América do Sul expandam os horizontes e o intercâmbio de tendências.
“Inclusive lanço uma sugestão. Poderíamos pensar na ideia de estruturar uma espécie de Abrafarma Latam. Seria uma associação capaz de incentivar o benchmarking e criar parâmetros de gestão comercial que ajudem a reinventar o varejo latino-americano”, recomenda.
O setor também luta para mudar a realidade regulatória no Paraguai, onde a legislação sobre a operação das farmácias não sofre alterações desde os anos 1960. Victor Muñoz, diretor da Punto Farma, decidiu encarar esse desafio à frente da Cafap, entidade que agrega as cadeias locais.
“O Brasil é um exemplo de como as mudanças no marco legal podem contribuir para uma farmácia mais diversificada na oferta e capaz de fidelizar, de fato, o consumidor”, observa. Com 630 lojas, a Punto Farma vem trabalhando com o formato de lojas mais amplas, de até 600 m², e defende a liberação de artigos na conveniência nas unidades.