O público 50+ nas farmácias pede passagem em meio a um cenário de rápido envelhecimento populacional. A expectativa é que o número de pessoas dessa faixa etária dobre em três décadas e represente quase 30% do total de habitantes. Muito além de um desafio para as políticas públicas, essa realidade representa uma oportunidade significativa para o setor varejista.
Para entender melhor esse extrato da população, uma das iniciativas da Febrafar, empresa da qual sou presidente, é o Estudo do Mercado Sênior. Realizado pelo Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa (IFEPEC) em parceria com o Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT) da Unicamp, o levantamento traz informações valiosas sobre os hábitos de compra dos consumidores com 50 anos ou mais, ajudando as farmácias a se prepararem para esse futuro.
Como primeiro ponto de destaque, o preço dos medicamentos é o critério mais relevante para a escolha de uma farmácia, segundo 91% dos entrevistados. O dado reflete um panorama que já conhecemos – a sensibilidade desse consumidor com relação aos custos, especialmente porque uma considerável parte desse grupo tem na aposentadoria a principal fonte de renda – 36%. Essa constatação exige que as farmácias ofereçam opções que se alinhem a essa realidade econômica.
A pesquisa também revelou que 67,7% dos entrevistados pagam por seus próprios medicamentos, enquanto 28,1% recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou ao Farmácia Popular para garantir o acesso aos seus medicamentos. Além do preço, a localização e a disponibilidade de estoque são fatores importantes. Cerca de 60% dos entrevistados consideram a proximidade da farmácia um critério essencial na hora da compra. Além de preço e atendimento, é estratégico pensar em soluções logísticas e de conveniência para um cliente que pode conviver com limitações na mobilidade.
Foi observado ainda que 39,2% dos entrevistados mencionaram a qualidade do atendimento como fator relevante para a escolha de uma farmácia. E nesse aspecto, há um dado preocupante. Quase metade dos clientes 50+ (48,1%) relatou dificuldades em lidar com seus medicamentos. Isso revela a necessidade de aprimoramento das equipes, visando à orientação sobre o uso correto e o acompanhamento do tratamento.
Público 50+ nas farmácias impõe aceleração digital
O público 50+ nas farmácias investe na compra presencial, modelo preferido de 86,6% desses consumidores. No entanto, existe uma migração gradual para o ambiente digital. Aproximadamente 17,5% recorrem ao WhatsApp para realizar pedidos e 8,7% já utilizam aplicativos das farmácias. A transformação digital, portanto, deve ser parte obrigatória da agenda das empresas do setor.
Posso afirmar que, além de atender a esse público, o setor também deve se preocupar em compreender melhor os dados gerados por esses atendimentos. O uso responsável das informações sobre os hábitos de compra e até mesmo as prioridades de consumo são fundamentais para otimizar o atendimento e tornar os serviços mais personalizados e eficazes.
No momento em que o Brasil atravessa uma transformação na pirâmide demográfica, as farmácias têm um papel estratégico a desempenhar. Preparar-se para atender o público 50+ significa não apenas adaptar os espaços físicos e a oferta de produtos, mas também investir em conhecimento, capacitação e em ferramentas digitais que facilitam o acesso e aprimoram a experiência de compra.
Os empreendedores que conseguirem compreender as necessidades desse consumidor e se adaptarem rapidamente terão não apenas uma vantagem competitiva, mas também um papel fundamental na promoção da saúde e do bem-estar dessa população.
* Edison Tamascia é um empresário com 50 anos de experiência no varejo farmacêutico. É presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) e um dos principais promotores do associativismo no país