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Mães reclamam que Inca cancelou matrículas de pacientes sem avisar e não conseguem mais marcar consultas e exames

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Ao levar o filho Joel da Cruz Silva, de 21 anos, para consulta com o neurologista no Instituto Nacional do Câncer (Inca), na Praça da Cruz Vermelha, no Centro, no último dia 16 de junho, a mãe do rapaz Elaine da Cruz Santos, de 49, foi surpreendida pelo profissional com a informação de que não poderia atender o jovem porque sua matrícula estaria bloqueada. O caso dela não é único. Diversas mães estão se queixando da impossibilidade de marcar novos exames e consultas porque, segundo elas, a unidade resolveu cancelar, sem avisar, as matrículas dos pacientes que tiveram câncer e precisam fazer o acompanhamento oncológico, muitas vezes para tratar as sequelas da doença.

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O Inca confirmou e disse estar fazendo o que eles chamam de “alta institucional”, que consiste em dar alta a todo paciente que tenha terminado o tratamento há cinco anos ou mais sem apresentar sinais ou sintoma da doença. A medida seria para assegurar acompanhamento adequado, além de otimização da oferta de serviços prestados. Ainda segundo o instituto, os que precisarem prosseguir o acompanhamento na unidade em decorrência de volta do tumor, segunda neoplasia ou por outro motivo justificado, poderão ter a matrícula reativada, após avaliação médica. Informou ainda que a ação de alta será sinalizada seis meses antes de acontecer. As mães alegam terem sido pegas de surpresa.

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-No momento o Joel está bloqueado. Eles não falam para mim se foi cancelado ou não (a matrícula). Mas de uma forma ou outra não consigo agendar consulta nem tenho papel nenhum para os exames. É uma situação que deixa a gente muito nervosa. Disseram que as mães foram avisadas há seis meses, mas é mentira. Eu não estava sabendo e tem muitas outras mães que ainda não estão sabendo e quando chegam lá (na unidade) é uma surpresa. Um tapa na cara- reclama a moradora de Campo grande, na Zona Oeste.

Ao deparar com a recusa do atendimento, a mãe achou que era porque o rapaz, que começou o tratamento na infância, trocaria o atendimento na pediatria pelo setor adulto. Mas não foi isso que conteceu. Joel teve um tumor no cérebro aos 9 anos, perdeu uma visão e carrega uma válvula na cabeça.

Ele chegou a fazer uma cirurgia de emergência no Hospital Municipal Souza Aguiar, mas precisa do acompanhamento oncológico no Inca, por conta das diversas sequelas da doença que ainda o acompanham. Além disso é na unidade que a mãe dele retira medicamentos como o Desmopressina, que custa cerca de R$ 180 e mal dá para uma semana, além de ser difícil de encontrar nas farmácias.

A dona de casa Cleide dos Santos Campos, de 37 anos, moradora na Favela do Rola, em Santa Cruz, também na Zona Oeste, contou ter descoberto que a matrícula de seu filho Alvim Campos de Lima, de 18 anos, estava cancelada ao ligar nesta quinta-feira para a unidade para tentar marcar a consulta. O funcionário que a atendeu falou que o que ele poderia fazer era mandar o caso para análise da oncologia pediátrica para avaliar se mantinha ou não o paciente na instituição.

O prazo dado para essa reavalização é de até 60 dias. O mesmo funcionário informou à mãe que havia pelo menos outras 110 matrículas sendo avaliadas pelo setor. Cleide teme ser encaminhada a uma clínica da família para dar continuidade com o acompanhamento do filho, como teria sugerido o funcionário.

– Não avisaram nada que iam fazer isso (cancelar a matrícula). Meu filho ia fazer acompanhamento. Tenho até o laudo aqui. Liguei para lá hoje e o moço falou que todas as matríiculas do pessoal do controle (que fazem acompanhamento, após recuperação da doença) estão sendo canceladas e que a gente vai ter que se dirigir à clínica da família, onde nunca tem médico. Está está uma vergonha. Ele precisa fazer tomografia e há muito tempo não faz o exame de fundo de olho – reclama a mãe, que tem medo de o filho piorar sem o acompanhamento médico.

O rapaz teve câncer no olho direito, que precisou ser operado e ficou com baixa visão no olho esquerdo. O problema surgiu aos onze meses de idade e desde então faz tratamento e acompanhamento no Inca, pois ficou com sequelas permanentes. Além dos riscos à saúde a ausência de consultas e exames para o filho acarreta em problemas como a dificuldade de renovar o cartão de gratuidade para viajar nos ônibus e pode colocar em risco o recebimento do benefício do INSS, no valor de um salário mínimo.

Anna Karolina Aguiar Nascimento, de 24 anos, moradora em Campo Grande, também fazia acompanhamento oncológico no Inca, desde a infância, mas por conta do cancelamento de matrículo está sem poder marcar novos exames e consultas:

-Fiquei com um doença crônica no pulmão e faço exames de tomografia, entre outros, no Inca. Tenho de fazer esse acompanhamento pois tive câncer no pulmão, que se foi mas me deixou com uma doença crônica. No final de maio fui na emergência, pois estava sentindo dores, e fui informada que os pacientes do controle tiveram a matrícula cancelada por tempo indeterminado e que, por esse motivo, eu não poderia ser atendida. Me pegou de surpresa. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Comecei o tratamento com dez anos. Não faço ideia do que fazer agora. Só sei que preciso continuar o acompanhamento – afirmou a jovem.

Gabriela Signorelli, que é voluntária numa casa de apoio a crianças com câncer, acredita que haja pelo menos 120 pacientes na mesma situação, somente no setor infantil.

– As pessoas foram surpreendidas. Tem mães que não sabem o que fazer. A situação é caótica- disse.

Veja a íntegra do que disse o Inca:

‘O Instituto Nacional de Câncer (INCA) esclarece que a ‘Alta Institucional’ consiste em dar alta a todos os pacientes que tenham terminado o tratamento oncológico no Instituto (cirurgia, quimioterapia ou radioterapia) há cinco anos ou mais, sem apresentar sinais ou sintomas da doença.

A ação será sinalizada seis meses antes de ocorrer, para que toda a equipe possa explicar a família sobre o procedimento, e nos seis meses após a alta, os pacientes ainda podem realizar uma consulta médica ou odontológica, além de exames previamente agendados e a obtenção de medicamentos referentes à última receita.

Vale destacar que os pacientes que necessitarem prosseguir o acompanhamento no INCA, em decorrência de volta do tumor, segunda neoplasia ou por outro motivo justificado, poderão ter a matrícula reativada, após o aval da equipe médica.

O Instituto orienta ainda que os pacientes devem manter de maneira ativa o acompanhamento de condições gerais de saúde – não relacionadas à neoplasia – na Rede de Atenção Primária à Saúde.

Só no primeiro mês, o INCA já reativou mais de 960 matrículas, após análise da equipe médica em relação a cada caso específico dos pacientes.

O INCA ressalta que o procedimento visa assegurar o acompanhamento adequado aos pacientes, bem como a otimização da oferta de serviços prestados.’

Fonte: Yahoo! Finanças

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