Pessoas que dependem de medicamentos sob distribuição do Estado, via farmácia estadual ou por ordem judicial, estão alegando a falta destes produtos em Pelotas. As reclamações de quem depende do atendimento pela rede pública referem-se à ausência de alimentos especiais, anticonvulsivos e insulina, primordial no controle de diabetes. A falta de estoque de insulina asparte, Fenobarbital e Ácido Valpróico já atinge diversos municípios gaúchos.
Fonte única de nutrientes e vitaminas necessárias para pessoas que se alimentam através de sonda, o leite Fortini inexiste na farmácia do Estado em Pelotas desde maio. Quem sente na pele a ausência do medicamento são os pais de crianças que precisam de cuidados especiais. Caso de Carine Dutra, que possui uma filha com microcefalia, paralisia cerebral, síndrome de West e epilepsia. Diante dos problemas neurológicos, a pequena Graziella, de seis anos, não tem condições de se alimentar adequadamente e necessita da substância continuamente.
Nos últimos anos, diante da ausência deste em diversas oportunidades, Carine já teve que promover rifa para arcar com o alto custo mensal do medicamento. Por mês são necessárias 17 latas, o que significa um custo de R$ 900,00 para aquisição na rede privada. ‘Eu consegui pegar em maio deste ano, mas há relatos de mães que não conseguiram no mesmo mês. Agora em julho fui novamente buscar o medicamento e não tem, eles só me falam que está em falta e que não tem data para chegar’, conta. Devido à falta de respostas, entrou em contato com a Ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS) e recebeu como resposta que não haveria data para abastecimento dos insumos, que estariam em ‘processo de contratação’.
Segundo a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), há previsão de chegada do Fortini nos próximos dias a Pelotas. Também sob responsabilidade do Estado, um dos medicamentos que não há previsão é o Losec Mups, utilizado no tratamento de úlceras gástricas e duodenais, bem como esofagite de refluxo e regurgitação. ‘Não temos previsão de chegada pois está em falta em nível central também’, afirma a titular da coordenadoria, Caroline Hoffmann.
Anticonvulsivos entram na lista de ausência
Dependente de remédios como Ácido Valpróico, Fenobarbital, Topiramato e Vigabatrina (todos anticonvulsivos e antiepiléptico), além de Azitromicina, Lívia Vitória, de cinco anos, possui paralisia cerebral, síndrome de West e microcefalia secundária. Todos os medicamentos passaram a ser disponibilizados após ordem judicial, mas nos últimos meses a falta de alguns deles tem deixado os pais em pânico. ‘O leite por exemplo, gasto 21 latas por mês. O custo de cada uma é em torno de R$ 285,00. Se algum remédio não vem, ou tem atraso, ela precisa seguir usando, então nós temos que arcar’, desabafa a mãe, Patrícia Souza.
Com a falta de medicamentos que varia de um a três meses, Patrícia afirma que quando vai à farmácia não há uma explicação concisa. ‘Eles nos dizem que não tem previsão. Eu entro pelo site para monitorar e só vejo ‘sem estoque’ para tudo que ela precisa.’
Quanto aos remédios citados, a 3ª CRS afirma que a Vigabatrina, Topiramato e a Azitromicina não estão em falta. Entretanto, no estoque dos outros medicamentos são notadas ausências e sem previsão para a chegada de novas remessas. A Coordenadoria ainda afirma que mesmo que estes sejam retirados por ordem judicial, o Fenobarbital e Ácido Valpróico estão inclusos na lista daqueles fornecidos pelo município, podendo haver a tentativa de retirada. De acordo com o coordenador de Assistência Farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Fabian Primo, os medicamentos estão disponíveis nas farmácias municipal e distritais.
Sem insulina em todo o RS
Com registro de falta desde o início de junho, diversas cidades já ficaram sem insulina asparte, de ação rápida. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a ausência é notada desde maio, entretanto a responsabilidade de compra e distribuição é centralizada no governo federal. ‘As últimas entregas desse remédio pelo Ministério da Saúde para o Estado possuíam validade até junho de 2021. Para o terceiro trimestre, o ministério deveria ter encaminhado a quantitativo em junho. No entanto, até o momento não houve entrega do medicamento’, diz a nota.
Segundo a pasta, foram disponibilizados nos primeiros trimestres deste ano 55.295 canetas de insulina, para o atendimento de demandas de janeiro a junho, entretanto com o prazo perto de expirar. Com isso, a entrega aos usuários deixou de ser feita por conta da validade dos produtos, gerando o desabastecimento.
A reportagem do Diário Popular entrou em contato com o Ministério da Saúde, que reiterou a informação repassada pela SES sobre o encaminhamento de mais de 50 mil canetas ao Rio Grande do Sul para atender a demanda de abril, maio e junho, conforme o quantitativo solicitado pelo Estado. Entretanto, não houve posicionamento sobre a data de vencimento. A pasta afirma que adquiriu 1.244.518 canetas de insulina de ação rápida e que as entregas deste lote serão feitas até o fim de julho.
Fonte: Diário Popular