Esse lote faz parte do primeiro milhão de doses da Pfizer, uma vacina que precisa ser conservada em temperaturas baixíssimas e que, por isso, deverá ficar restrita as 27 capitais. Quando guardada por longos períodos, a vacina da Pfizer precisa estar a – 80ºC. Mas, as entregas aos estados estão sendo feitas em caixas com bobinas de gelo seco, que mantém a temperatura entre -25ºC e – 15ºC, capazes de conservar a vacina por até duas emanas.
As quase 500 mil doses que estão chegando aos estados são para a primeira dose. O restante permanecerá armazenado na central de logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos, e servirá para a segunda dose.
O governo destinou a vacina ao grupo que comorbidades: a gestantes, a mães que acabaram de dar à luz e a pessoas com deficiência permanente. Mas estados e municípios poderão promover mudanças seguindo as estratégias locais.
A bula da vacina da Pfizer orienta um intervalo maior ou igual a 21 dias (de preferência três semanas) entre a primeira e a segunda dose. Mas, no Brasil, por orientação do Ministério da Saúde, a vacina será aplicada com um intervalo de três meses entre a primeira e a segunda dose.
Em um informe divulgado nesta segunda-feira (3), o governo argumentou que o intervalo maior serve para que mais brasileiros recebam ao menos uma dose mais rapidamente. Isso é possível porque a vacina da Pfizer já oferece uma imunidade significativa após a primeira aplicação.
No informe, o ministério disse que leva em consideração o cenário da Covid-19 no país com elevada mortalidade, e a necessidade de se ampliar a oferta da vacina na população brasileira. Diz ainda que os dados epidemiológicos e de efetividade da vacina serão monitorados, sendo que a presente recomendação poderá ser revista caso necessário. E que em cenários de maior disponibilidade da vacina, o intervalo recomendado em bula poderá ser utilizado.
Esse informe considerou estudos clínicos feitos em Israel, Estados Unidos e Reino Unido sobre a aplicação das doses em um intervalo maior do que aquele que consta na bula.
Desde janeiro, os britânicos adotaram um intervalo de três meses para a vacina da Pfizer. Como no Brasil, o objetivo foi imunizar o maior número possível de pessoas em menos tempo. De acordo com um desses estudos clínicos feitos entre os britânicos, a vacina reduziu em 85% os casos sintomáticos menos de um mês após a aplicação da primeira dose.
A Organização Mundial da Saúde também considerou que, em circunstâncias excepcionais, os países poderiam adiar por um curto período a segunda dose, e recomendou intervalo de seis semanas.
Num comunicado divulgado nesta segunda, a Pfizer disse que regimes de dosagem ficam a critério das autoridades de saúde. Reiterou que a bula hoje registrada pela Anvisa preconiza um intervalo entre doses, preferencialmente, de 21 dias, e que, dados do estudo de fase 3 demonstraram que, embora a proteção parcial da vacina pareça começar 12 dias após a primeira aplicação, duas doses da vacina são necessárias para fornecer a proteção máxima contra a doença, uma eficácia da vacina de 95%.
Também em nota, a Anvisa ressaltou que o intervalo entre as doses estabelecido em bula é resultado do modelo de vacinação adotado nos estudos clínicos de suporte à vacina. Ou seja, que o intervalo recomendado em bula é aquele que foi utilizado nos estudos como padrão.
O médico e infectologista Renato Kfouri defende que a estratégia de um intervalo maior entre as doses pode garantir uma imunização a mais pessoas num momento de escassez de vacinas.
‘O intervalo que o Reino Unido utiliza de três meses entre a primeira e a segunda dose e que foi adotado pelo Ministério da Saúde no Brasil é um intervalo seguro, porque permite que os indivíduos vacinados com esse intervalo mantenham sua proteção até que confira a segunda dose seja recebida. E com isso nós podemos, num primeiro momento, com um número menor de doses, imunizar um número maior de pessoas’, afirma Renato Kfouri.
Fonte: G1