Fique por dentro dos principais FATOS e TENDÊNCIAS que movimentam o setor

Niterói vai oferecer tratamento preventivo contra a Aids

Acompanhe as principais notícias do dia no nosso canal do Whatsapp

NITERÓI – Uma nova arma contra o vírus HIV pode ser usada a partir de hoje, Dia Mundial de Combate à Aids. Vinte e uma cidades brasileiras selecionadas pelo Ministério da Saúde vão incorporar o medicamento de prevenção do HIV ao Sistema Único de Saúde (SUS), a chamada Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Em Niterói, o tratamento preventivo será oferecido no Hospital Municipal Carlos Tortelly, no Bairro de Fátima. A implementação da PrEP vai ocorrer de forma gradual, focando as populações que estão mais expostas à infecção pelo vírus. Para lembrar a data, a partir da noite de hoje o Museu de Arte Contemporânea (MAC), na Boa Viagem, será iluminado de vermelho.

A nova estratégia de prevenção consiste no uso preventivo do medicamento Truvada, composto pelas substâncias tenofovir e entricitabina, combinados num único comprimido. A medicação antirretroviral só pode ser usada por pessoas que não sejam portadoras do vírus HIV. É um comprimido de uso diário, que só age de quatro a sete dias após o início do tratamento e dura apenas enquanto está sendo administrado, em ciclos de 30 dias, monitorados durante três meses. Hoje, cerca de 0,4% da população da cidade (quatro mil pessoas) tem o diagnóstico positivo para HIV.

Grupos mais vulneráveis à contaminação

Coordenador do PrEP na cidade, o médico Cláudio Palombo destaca que, ao contrário da Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que já é administrada nas oito unidades de Serviços de Atendimento Especializados (SAE) em HIV/Aids em Niterói, a PrEP não é uma medicação de urgência e sua indicação vai se concentrar num grupo específico de pessoas: são elas homens que fazem sexo com outros homens, transexuais, transgêneros, travestis, profissionais do sexo e casais sorodiferentes — em que uma pessoa está infectada e a outra não. Ele ressalta que o tratamento preventivo com PrEP não elimina outros métodos de prevenção como camisinha e, no caso de usuários de drogas, métodos de redução de danos, já que o medicamento não previne outras doenças, como sífilis e hepatite.

— É importante destacar que a PrEP não veio para substituir nada. É mais uma arma para não contrair o vírus, evitando novas contaminações, mas outros métodos preventivos não devem ser deixados de lado — explica o coordenador do PrEP.

Palombo acredita que, depois de 30 anos, pela primeira vez há uma condição real de frear a epidemia de Aids.

— É um tratamento que, já se sabe, é eficaz. Foi validado em conferência internacional, já é utilizado em alguns países e é uma norma técnica na América. Vamos começar a colocá-lo em prática este mês. O objetivo é iniciar o acolhimento gradual dessas pessoas que se enquadrem no grupo que apresenta um risco maior de contrair o vírus. Por meio dessa entrevista de viabilidade feita no acolhimento inicial, vamos verificar se a pessoa é elegível ao tratamento — explica o médico.

Referência no tratamento pós-exposição, o Hospital Universitário Antonio Pedro, assim como o Hospital municipal Carlos Tortelly, tem uma unidade SAE HIV/Aids e dispõe de uma equipe multidisciplinar voltada para o atendimento de vítimas de violência sexual, gestantes, crianças, adolescentes e jovens.

Psicóloga da unidade, atuando há mais de 20 anos com paciente com Aids, Tânia Ventura frisa que, se por um lado a contaminação vertical — da mãe para o bebê — foi reduzida com o acesso aos tratamentos disponibilizados, aumentou o número de jovens, cada vez mais novos, infectados pelo HIV.

— Embora o acesso a novos tratamentos esteja maior, está faltando prevenção, principalmente entre os mais jovens. Apesar de saberem que a Aids existe, acham que nunca vai acontecer com eles. Desde que iniciamos o teste rápido aqui na unidade, em 2014, a adesão ao tratamento aumentou bastante. Antes eu fazia o acolhimento e encaminhava para o exame. Quando passei a, eu mesma, fazer o exame, criei um vínculo maior com os pacientes. Existe uma meta global de chegar à cura da Aids em 2030, mas, para alcançarmos essa meta, teríamos que descobrir, até 2020, 90% das pessoas com HIV e, desse total, 90% teriam que aderir ao tratamento. Não é uma tarefa fácil, mas estamos lutando por isso — argumenta.

Apoio psicológico gratuito a pacientes

Aos ressaltar a importância do apoio psicológico no tratamento da Aids, a pediatra do SAE do Antonio Pedro Ivete Martins Gomes destaca que um dos principais desafios é fazer um diagnóstico breve.

— Principalmente entre jovens e gestantes, os diagnósticos ainda são tardios. Outro desafio é a adesão ao tratamento, já que as condições sociais e psicológicas fazem com que muitos abandonem o tratamento. Falta na rede, hoje, um apoio maior na saúde mental. Apenas o Antonio Pedro e outra SAE dispõem de psicólogo — lamenta.

A prefeitura diz que há psicólogos em todas as unidades da rede.

Além do Antonio Pedro e do Carlos Tortelly — que é unidade referência para internação de pacientes com Aids para atendimento ambulatorial de adultos —, os pacientes contam com as policlínicas Sérgio Arouca, no Vital Brazil; do Barreto; Carlos Antônio da Silva, em São Lourenço; e do Largo da Batalha. Gestantes soropositivas têm atendimento na Policlínica de Especialidades da Saúde da Mulher Malu Sampaio. O Hospital Estadual Azevedo Lima também oferece atendimento para adultos e gestantes.

Grupo Pela Vidda pode ter que fechar as portas

Referência em Niterói e em todo o país no apoio a pessoas soropositivas, o Grupo Pela Vidda (GPV) passa por maus momentos desde o fim do convênio com a Fundação Municipal de Saúde (FMS), em 2015. A coordenação do GVP diz que o órgão municipal rompeu abruptamente o acordo de cooperação técnica que tinham, terminando assim com o repasse de cerca de R$ 300 mil mensais. Com isso, 57 profissionais de saúde — entre médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e técnicos de enfermagem — que atuavam nas unidades municipais ficaram sem salários e entraram na Justiça trabalhista pelos seus direitos. A FMS afirma que realizou todos os repasses das verbas rescisórias ao GPV e que não pendências.

Fundado há 28 anos pelo escritor Herbert Daniel, o GVP tem como objetivo a ruptura do isolamento e a desconstrução do estigma relacionado à doença; a reintegração no cotidiano social das pessoas vivendo com HIV e Aids; e a defesa dos direitos e a garantia da dignidade desses grupos. De acordo com o presidente da entidade, Inácio Queiroz, caso não haja um acordo com a FMS, a entidade em Niterói corre o risco de fechar as portas e ter que vender a seu único bem, a sede em São Domingos — recebida através de doação —, para pagar dívidas trabalhistas.

— Nós sugerimos uma transição responsável, para que o município assumisse o atendimento. Em 2015, a FMS propôs um corte de 40% no orçamento, mas pediu que mantivéssemos o mesmo atendimento. Respondemos que não seria possível. Criamos, então, um grupo de trabalho entre o Pela Vidda e a fundação, mas, em vez de ter uma atuação responsável, a FMS assumiu (o serviço) abruptamente, desmontando uma série de atividades — relata Queiroz.

Presidente da Frente Parlamentar de Combate ao HIV-Aids, Tuberculose e Hepatites Virais, o vereador Leonardo Giordano (PCdoB) revela que, em parceria com o deputado Waldeck Carneiro (PT), está mobilizando uma articulação entre o GVP e a FMS para sensibilizar o governo:

— Já fizemos duas tentativas e aguardamos um retorno.

Em nota, a prefeitura informa que o convênio com a ONG Grupo Pela Vidda não foi suspenso, mas o prazo do contrato terminou: “A assistência aos portadores de HIV/Aids no município não era prestada apenas por funcionários contratados por meio da ONG. A rede municipal de Saúde tem profissionais do quadro para atendimento de pacientes soropositivos que continuaram prestando o serviço quando o contrato terminou. O atendimento não foi prejudicado”.

Fonte: O Globo

Notícias Relacionadas

plugins premium WordPress