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O hospital de São Paulo que se destaca pelo combate à variante amazônica do coronavírus

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Com 35 anos de profissão, a médica intensivista Núbia Maria Corrêa dos Santos chegou ao Hospital Municipal Dr. José Soares Hungria, em Pirituba, na Zona Norte da cidade de São Paulo, no olho do furação. Era março de 2020 e os casos de Covid-19 começavam a se multiplicar lá e em todo o país. Nas primeiras semanas, sentiu medo. Quase nada se sabia do vírus, a evolução dos pacientes era ruim e havia o receio da contaminação. Com o passar do tempo, protocolos de tratamentos e cuidados foram criados, as mortes diminuíram e o número de internados caiu. Em janeiro, Santos se viu diante de um novo desafio: cuidar de pacientes suspeitos de estarem contaminados pela variante amazônica do coronavírus.

O que se sabe sobre essa variante da Sars-CoV-2, batizada de P1, ainda é pouco. Não está descartada a hipótese de que seja mais transmissível e, também, mais letal que as outras mutações do vírus descobertas recentemente. É com essa sombra que Santos vai trabalhar. O hospital de Pirituba foi escolhido pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo para atender casos suspeitos de infecção pela nova variante. Dos quatro pacientes internados em janeiro, apenas um não precisou ficar na UTI. “Bombeiro não pode ter medo de fogo. Profissional de saúde não pode ter medo de doença”, disse a médica.

“Quem trabalha na UTI dos pacientes com suspeita de ter a variante amazônica do coronavírus é proibido de circular em outras alas do hospital para evitar contágios. Até as refeições são feitas numa sala da UTI”

A primeira paciente vinda de Manaus neste ano chegou ao hospital na segunda semana de janeiro. A mulher, de 59 anos, permaneceu internada por 13 dias e morreu por complicações pulmonares e renais. Outros quatro pacientes, das cidades de Manaus e Parintins, no Amazonas, e Santarém, no Pará, foram encaminhados à unidade. Apenas uma mulher, de 61 anos, já teve a confirmação de infecção pela P1. A análise para checagem do vírus demora, no mínimo, duas semanas para ser concluída. Dos quatro, dois receberam alta no começo de fevereiro. Os outros dois seguem internados.

Um deles é uma idosa de 71 anos, hipertensa, que chegou a ser atendida em Manaus. Como tem parentes na capital paulista, decidiu pegar um voo comercial e viajar com familiares em busca de tratamento médico. Os casos de Manaus têm, segundo o diretor técnico do hospital, Renato Tardelli, evoluído mal e mais rapidamente, embora a causa do agravamento não seja determinada. Uma das dúvidas é se os pacientes tiveram quadros mais graves do que o normal por causa da nova variante do vírus ou em consequência da demora para iniciar o tratamento. “O paciente, quando vem de fora, não chega no começo dos sintomas. Os sete primeiros dias da doença, a fase inicial do tratamento, a fase de ouro, já foi embora”, disse Tardelli.

Mesmo tendo como base de comparação um grupo pequeno de pacientes com suspeita de ter a variante amazônica, Tardelli já observou algumas diferenças também na resposta a medicamentos usados em pacientes infectados pelo coronavírus tradicional. Os que vieram recentemente da Região Norte respondem mal ao corticoide e à heparina — usada para evitar trombose —, exigem mais ventilação e não reagem tão bem à técnica de pronação — em que o paciente é colocado de bruços.

Para o hospital, a dificuldade é maior porque os familiares dos internados não dão detalhes sobre o doente e o início dos sintomas. O temor é que venham a ter alguma restrição terapêutica ao longo do tratamento por serem de fora — um medo infundado. “É difícil fazê-los entender que são brasileiros e têm o direito de ser atendidos em qualquer lugar do país”, disse Tardelli.

Os profissionais que atendem na ala do coronavírus de Manaus não saem da área de UTI durante todo o turno — que varia de cinco a 12 horas para médicos e é de seis horas para enfermeiros e técnicos de enfermagem. A medida foi adotada para evitar o contágio de outros setores do hospital.

A médica intensivista Santos leva comida de casa e almoça numa sala dentro da própria UTI, onde foi instalada uma poltrona para descanso e uma mesinha com café. “Quando saio, é para ir de vez. Quando chego em casa, já deixo a roupa na lavanderia e tomo banho. Ainda não conhecemos essa nova cepa do vírus, temos de ter mais cuidado e estudar os casos”, disse ela.

No início da pandemia, a situação foi bem mais difícil no hospital municipal de Pirituba. Desta vez, os cerca de 100 médicos e enfermeiros que atuam diretamente no combate à Covid-19 foram consultados sobre a concentração de infectados pela P1. No ano passado, entre março e abril, médicos brasileiros trocavam informações com profissionais da China, Itália e Alemanha, mas os pacientes chegavam na maioria em estado grave. Mesmo equipes muito bem treinadas para a UTI convencional eram surpreendidas pelas diferentes manifestações da Covid-19 nos doentes, como demandas respiratórias, cardiovasculares, neurológicas, infecciosas e renais.

Muitos funcionários tinham medo de entrar na UTI. A solução encontrada foi reforçar o atendimento psicológico, com plantões dia e noite, presenciais e on-line, em parceria com estagiários da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A técnica de enfermagem Márcia Szala, de 58 anos, foi uma das que precisou de atendimento para conseguir trabalhar. “Eu tinha medo de atender, fiquei apavorada. Tinha medo de ser contaminada e de contaminar meus filhos”, disse Szala. “Com 15 dias de atendimento eu já estava de novo trabalhando, muito mais segura. E quando a gente vê os pacientes começarem a melhorar, dá ainda mais gás”, completou ela, que acabou contraindo Covid em agosto, passou 12 dias internada na UTI, mas não precisou ser entubada.

Desde o início da pandemia, 860 infectados pelo coronavírus foram internados no hospital de Pirituba — 25% morreram. Dos cerca de 1.200 funcionários, 285 foram positivados para Covid-19, com três mortes. Com a chegada da nova cepa do vírus, os funcionários voltaram a ficar receosos. Menos mal que todos já tomaram a primeira dose da vacina.

Fonte: Época Online

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2020/04/06/coronavirus-10-das-pessoas-no-grupo-de-risco-tem-problemas-neurologicos/

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