Fique por dentro dos principais FATOS e TENDÊNCIAS que movimentam o setor

Para evitar colapso, fabricantes do setor de saúde tiveram de negociar para cliente não comprar

Acompanhe as principais notícias do dia no nosso canal do Whatsapp

Vivemos a crise de saúde pública mais grave dos últimos cem anos. E muito antes da corrida por vacinas, a pandemia do novo coronavírus provocou uma corrida por insumos farmacêuticos e equipamentos médicos. Faltou oxigênio, medicamentos para intubação dos pacientes mais graves, aparato de proteção individual… Faltaram também produtos usados em outras emergências – e não apenas nos casos de covid-19.

“O setor ficou rendido’, define Bruno Porto, sócio da PWC Brasil. Uma das causas é o baixo número de fornecedores, especialmente de insumos farmacêuticos. E eles estão concentrados na Ásia – China e Índia, como os principais mercados.

Cerca de quarenta anos atrás, lembra o consultor, o Brasil produzia os fármacos usados no país. Mas, os produtores asiáticos conquistaram o mercado com baixos custos de produção, maior eficiência produtiva e avanços no campo da logística. Assim, cerca de 90% a 95% dos insumos usado aqui são importados. ‘A pandemia exarcebou o problema desse modelo. E não se tinha plano B’, aponta Bruno. Agora, acredita, o setor vai pensar em criar mais resiliência e uma alternativa para essa cadeia.

Antonio Nassar, presidente da Baxter, produtora insumos e equipamentos médicos, conta que, com a queda no número de cirurgias eletivas, foi possível compensar a alta da demanda por sedativos, por exemplo, para o uso emergencial na pandemia. Com o aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o sedativo inalatório foi fundamental para evitar a escassez de um produto essencial em UTIs. ‘Trabalhamos para suprir o mercado em uma situação diferente e dividir de forma racional as demandas’, lembra Antonio. A empresa projeta um crescimento de 20% nas cirurgias eletivas, em comparação a 2020.

Parte do trabalho da equipe comercial foi negociar com os clientes para que evitassem comprar para o aumento de estoque enquanto poderiam desabastecer outros. ‘Tivemos uma proximidade maior com os clientes para preparar o fluxo de produtos’, conta o executivo. Na outra ponta, negociação também ocorreu com fornecedores do outro lado do mundo para garantir os insumos, disputados por outras empresas de saúde do globo inteiro.

A Baxter também aumentou o quadro em 20% para suprir ampliação de turnos – que passaram a ser 24×7 nas plantas – e eventuais afastamentos por suspeitas e casos de covid na empresa. ‘Nunca trabalhamos com quatro turnos, sete dias por semana’, diz Antonio.

Com a alta da demanda dos insumos farmacêuticos, o impacto no custo não se limitou só ao produto, mas atingiu toda cadeia logística. ‘Tivemos 300% de aumento de custo logístico’, conta Carla Muniz, diretora-técnica do grupo farmacêutico Cimed. O grupo contou com parceria com outras indústrias para embarque compartilhado e, assim, amenizar a alta.

Para o Cimed, o custo impacta diretamente o diferencial competitivo da fabricante, focada em genéricos a preços mais competitivos. ‘Acho que foi o ano mais desafiador da nossa cadeia. Está sendo uma luta diária para não termos ruptura’, afirma Carla. Uma das estratégias para amortecer alta na ponta foi reduzir alguns descontos que praticava antes, ou a margem de lucros.

Assim como na Baxter, o grupo Cimed também partiu para a contratação para atender o aumento da demanda e absenteísmos causados pela pandemia – ainda tinha esse desafio interno que muitas empresas enfrentaram. ‘Chegamos a ter 200 afastados’, relembra. ‘A nossa responsabilidade de fornecimento é muito grande, tivemos que contratar’. Mas Carla lembra que um novo profissional ainda precisa de uns três meses para estar totalmente treinado para a operação.

Para as farmacêuticas, a dificuldade de encontrar fornecedores aumenta, pois não basta apenas a busca por novos – eles precisam ter os fabricantes registrados na Anvisa. No caso de equipamentos de proteção, como luvas e máscaras, a indústria nacional conseguiu absorver a demanda, com muitos pequenos e médios negócios migrando suas linhas produtivas para o setor de saúde.

A crise serviu também de aprendizado. Segundo Antonio, da Baxter, a indústria aprendeu a lidar com dados e já atua mais azeitada em meio à crise, com analytics para ajudar as áreas a antever demandas e se preparar. ‘Estamos o tempo todo transformando esses dados em informação para não deixar a cadeia romper’, diz.

Fonte: Época Negócios

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/saude-populacional-em-debate/

Notícias Relacionadas

plugins premium WordPress