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Pesquisadores discutem uso indiscriminado de antibióticos

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O pote de vidro que Ben Holland segura na mão contém 90 miligramas do antibiótico tilosina em pó.

“É mais ou menos a quantidade que um animal recebe em um dia”, explica. O local é em uma pequena fábrica que produz alimentos para 48 mil bovinos criados nos currais de Tulia, Texas.

Holland é diretor de pesquisa da Cactus Feeders, uma gigantesca produtora de rações para gado. Aqui, os animais, doentes ou saudáveis, recebem diariamente antibióticos em sua ração. Esta prática está sendo cada vez mais debatida no que diz respeito às fazendas industriais.

As bactérias resistentes aos antibióticos se transformam em perus, costeletas de porco e carne moída nos Estados Unidos; nos frangos vendidos nas mercearias da Grã-Bretanha; nas aves das granjas de criação na China. E os resíduos dos antibióticos são encontrados nos lençóis freáticos, na água potável e nos córregos.

Cerca de 70% a 80% das vendas de antibióticos americanos destinam-se ao gado. Além do surgimento de cepas de doenças resistentes, alguns microbiólogos temem que a proliferação de antibióticos esteja produzindo efeitos caóticos nos micróbios que habitam o intestino humano.

“A resistência aos antibióticos é um fato incontornável da vida”, afirmou Paul Defoor, um dos diretores-executivos da Cactus. “Queremos garantir que, mesmo utilizando esses produtos, não estamos contribuindo para isso”.

Entretanto, outros veem nesta prática um risco muito superior aos benefícios.

“Tanto na medicina animal quanto na humana, acabamos nos tornando viciados em antibióticos”, explicou Martin J. Blaser, cujo laboratório em um hospital de Manhattan pesquisa o desaparecimento de micróbios dos intestinos humanos. “Nós os usamos como se tal ato não implicasse em um custo biológico. Mas os custos existem”.

O emprego regular da tilosina nas fazendas, segundo ele, “é uma medida extremamente ruim por causa da resistência cruzada, que envolve importantes medicamentos adotados na medicina humana”. A tilosina faz parte de uma classe de antibióticos usados pelos seres humanos, como o Z-Pak.

Os Estados Unidos resistiram às restrições mais agressivas aos antibióticos bovinos que, no entanto, foram adotadas por países como a Holanda. Contudo, a demanda de carne livre de antibióticos está deixando a regulamentação em um segundo plano. As vendas anuais de antibióticos para animais criados para abate caíram 10% em 2016.

Alguns veterinários apoiam o uso de antibióticos na ração. Keith E. Belk, professor da Universidade do Estado do Colorado, que trabalha para a indústria da carne, afirmou que os riscos de efeitos colaterais são mais incertos do que muitos estudos sugerem. E, por outro lado, “a indústria realiza diversas pesquisas com a finalidade de encontrar substitutos”, acrescentou.

Por enquanto, a visão dessas fazendas, onde o gado é alimentado em regime de engorda, é que os riscos não são suficientemente evidentes para suspender o emprego de medicamentos como a tilosina.

Mas para Mike Callicrate, que cria gado no Kansas e no Colorado, os antibióticos são “medicamentos que se destinam a aumentar o desempenho”, e ele os coloca ao lado de outros aditivos industriais como hormônios esteroides.

Apesar disso, Callicrate não recusa todos os antibióticos, mas os usa para tratar do gado doente.

“Precisamos desta ferramenta, mas abusamos dela para afastar os efeitos negativos da produção industrial”, afirmou.

A carne isenta de antibióticos tem um custo maior para os consumidores, mas grupos como a União dos Consumidores acham que o custo “vale o dinheiro gasto a mais”.

Callicrate tem uma pequena empresa que abrange todos os estágios do negócio, do nascimento ao abate e ao balcão da venda de carne.

No caso de Callicrate, manter o gado longe das fazendas industriais mudou sua perspectiva. “Decidi tomar um caminho diferente, reduzir um pouco a operação”, disse. “Se eu devo me responsabilizar pelo bife que está no prato, vou ter de mudar a maneira de produzi-lo”.

Fonte: Estadão

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