Seringa incompatível pode ter comprometido vacinação de 232 mil pessoas em Minas

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Lucas Negrisoli

Devido ao uso de agulhas e seringas inapropriadas para aplicar as doses da vacina contra Covid-19 Coronavac, do Instituto Butantan, Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, pode ter deixado de imunizar ao menos 5 mil pessoas com duas doses.

Isso porque os equipamentos não conseguiriam extrair totalmente as dez doses contidas em cada uma das ampolas da vacina, restando o equivalente a uma dentro do frasco.

Se as seringas, encaminhadas pelo governo do Estado aos municípios tiverem o mesmo comportamento em outras cidades, pode-se estimar que 232,8 mil mineiros possam ter deixado de receber o imunizante.

A conclusão consta em ofício encaminhado pela prefeitura do município ao governo, que revelou a inaptidão das seringas. No texto, o Executivo municipal pedia para que as doses fossem reencaminhadas.

Em nota, a prefeitura local explica que ‘Em relação às 10.769 doses de perda técnica da vacina da Coronavac, a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora informa que isso se deve às características técnicas da seringa utilizada. Tais seringas não possuem as agulhas do tipo ‘volume morto’, que evitam que haja acúmulo do líquido dentro das mesmas, o que proporciona a referida perda técnica. Desse modo, o volume aspirado de dentro dos frascos não corresponde ao número de doses previsto’.

Considerando que Minas recebeu, até a última remessa, 4.095.115 doses do inoculante do Instituto Butantan – somando-se todas as 21 remessas, mas excluindo as distribuídas a Belo Horizonte – e incluindo os 5% de ‘perda técnica’ de doses preconizada pelo Ministério da Saúde, chega-se às 194,5 mil pessoas que, possivelmente, poderiam ter sido imunizadas com 388,9 mil doses.

Na projeção, a capital foi excluída porque informou à reportagem que orientou os centros de saúde a usarem outro tipo de seringa.

Questionada, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que as seringas adquiridas e distribuídas aos municípios contam com ‘registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), seguindo, portanto, as padronizações estabelecidas’.

Segundo o Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação do Ministério da Saúde, dentre os insumos destinados à sala de vacina estão:

Seringas de plástico descartáveis (de 0,5 mL, 1,0 mL, 3,0 mL e 5,0 mL);

Agulhas descartáveis:

para uso intradérmico: 13 x 3,8 dec/mm;

para uso subcutâneo: 13 x 3,8 dec/mm e 13 x 4,5 dec/mm;

para uso intramuscular: 20 x 5,5 dec/mm; 25 x 6,0 dec/mm; 25 x 7,0 dec/mm; 25 x 8,0 dec/mm e 30 x 7,0 dec/mm;

para diluição: 25 x 8,0 dec/mm e 30 x 8,0 dec/mm

‘Foram solicitados ao fabricante os laudos de liberação dos lotes das seringas enviadas ao município de Juiz de Fora e a documentação já foi enviada. Até o momento, a secretaria não recebeu de outros municípios notificação oficial relacionada ao tema em questão. A SES-MG destaca, ainda, que segue monitorando a situação relatada em Juiz de Fora, para que seja possível avaliar as medidas necessárias a serem adotadas’, informou a pasta.

Mais cedo, a secretaria havia informado que ‘várias medidas para verificação e monitoramento’ sobre as seringas seriam sendo tomadas.

Após o anúncio da Secretaria Municipal de Saúde de Juiz de Fora, nessa terça-feira (1), a SES-MG vem tomando várias medidas para verificação e monitoramento sobre as seringas e doses da vacina Coronavac/Butantan:

Foi solicitado ao fabricante os laudos de liberação dos lotes das seringas enviadas ao município de Juiz de Fora;

A Coordenação Estadual de Imunização e a Unidade Regional de Saúde de Juiz de Fora agendaram, junto à Secretaria Municipal de Saúde de Juiz de Fora, uma supervisão em sala de vacina para ocorrer ainda nesta quarta-feira (2/6).

A SES, no entanto, não informou se há alguma estimativa de perda de vacina em todo o Estado, e não respondeu se haverá reparação das doses inviabilizadas destinadas aos municípios. Por telefone, a assessoria da pasta informou que diligências serão feitas para averiguar números precisos.

Procurada, a prefeitura de Belo Horizonte informou que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) orientou todas as unidades de saúde a utilizarem seringas com ‘menor volume morto’, diferente daquelas distribuídas pelo governo do Estado.

‘Até o momento as perdas (técnicas de vacina) então em torno de 5%, que é o quantitativo estabelecido pelo Plano Nacional de Imunização. A Secretaria ressalta que está monitorando a situação’, conclui o texto.

Apesar disso, o Executivo alegou que ‘mantém os estoques de insumos necessários para campanhas de vacinação abastecidos por meio de compras e repasses do Estado’.

Fonte: O Tempo Online

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