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Surto nos EUA desafia indústria do tabaco

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Alex Azar, secretário de Saúde do governo Trump, estuda meios de coibir consumo: ?Toda uma geração de crianças corre o risco de se tornar viciada em nicotina?

O cigarro eletrônico deveria ser o futuro do tabaco, uma inovação propagandeada como um ?risco reduzido? que poderia trazer crescimento para uma indústria cujo produto principal, além de mortal para os consumidores, também vive uma longa fase de declínio.

Seis mortes, o misterioso surto de uma doença pulmonar e a intervenção de Donald Trump mudaram essa suposição de uma hora para a outra – e colocaram em dúvida uma possível fusão de US$ 200 bilhões no setor de tabaco, que era fundamentada, em parte, na crescente popularidade dos cigarros eletrônicos nos Estados Unidos.

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Em questão de semanas, médicos em 33 Estados americanos relacionaram pelo menos 450 casos de problemas pulmonares ao uso dos cigarros eletrônicos. Depois que alguns desses pacientes morreram, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA (CDCP, na sigla em inglês) divulgou um alerta seco e direto: até que se saiba mais sobre as causas, o público deve considerar evitar completamente o produto.

A ameaça para a indústria de tabaco ficou ainda maior depois da quarta-feira, quando o presidente Donald Trump anunciou que seu governo cogitava uma proibição total aos cartuchos com sabores especiais dos cigarros eletrônicos. Alex Azar, seu secretário de Saúde, culpou os refis saborizados pelo boom no uso de cigarros eletrônicos por jovens em idade escolar nos EUA.

Toda uma geração de crianças corre o risco de se tornar viciada em nicotina, disse Azar. Citou novos dados indicando que mais de 25% dos estudantes do ensino médio nos EUA haviam usado vaporizadores de cigarros eletrônicos nos 30 dias anteriores, acima dos 20% observados um ano antes, quando as autoridades alertaram pela primeira vez sobre uma epidemia entre os menores de idade.

O que virá a seguir vai determinar o destino de um segmento de US$ 4,5 bilhões, que, segundo estimativa do banco Wells Fargo, passou de uma participação de 2% no mercado de nicotina dos EUA para uma fatia de 7% nos quatro anos encerrados em julho.

Apesar das décadas de investimento das fabricantes tradicionais de tabaco nos cigarros eletrônicos, praticamente todo esse crescimento veio de uma startup, a Juul.

As previsões de que os cigarros eletrônicos podem continuar tendo taxas compostas de crescimento anual de 15% a 20% convenceram a Altria, fabricante dos cigarros Marlboro nos EUA, a gastar US$ 13 bilhões em 2018 para comprar uma participação de 35% na startup de San Francisco. A Altria prometeu usar seu poder de marketing para impulsionar a marca, que dominou mais de 70% do mercado de vaporizadores nos EUA.

Isso, por sua vez, também chamou a atenção da Philip Morris International, que controla a marca Marlboro fora dos EUA. Em agosto, veio à tona a informação de que o grupo, cuja sede fica em Lausanne, negociava com a Altria uma fusão, sem ágio em relação às cotações atuais, que ttransformaria toda a indústria de tabaco mundial.

A fusão continua em negociação, segundo fontes a par das conversas, mas a politização do debate em torno dos cigarros eletrônicos não ajuda, disse uma elas. O caminho para uma fusão, que já não vinha gerando muito entusiasmo entre os investidores, fica mais íngreme.

O valor da Juul precisa ser reduzido em razão da crescente pressão, tanto legal quanto reguladora?, disse Chris Growe, analista do banco de investimento Stifel, que considerou o alerta de Trump como ?a ameaça definitiva aos vaporizadores.

Um maior rigor na regulamentação também seria uma dor de cabeça para outras empresas com interesse no cigarro eletrônico, como a British American Tobacco (BAT) e a Imperial Brands, ambas com ações negociadas na Bolsa de Valores de Londres. Da mesma forma que a Altria e a Philip Morris International, elas também têm investido pesadamente em alternativas aos cigarros tradicionais, atentas à aceleração no ritmo em que os usuários vêm aderindo aos vaporizadores. A BAT tem planos para cortar 2,3 mil empregos e pretende direcionar o que economizar para novos produtos.

Antes mesmo da intervenção da Casa Branca, as autoridades reguladoras americanas já planejavam coibir os cigarros eletrônicos.

Antecipando-se à ofensiva reguladora, a Juul havia tirado das lojas físicas versões saborizadas, como as de manga e pepino. A empresa, conhecida por seus vaporizadores badalados, cuja forma lembra pen drives, no entanto, continuou vendendo outros sabores pela internet.

Trump disse que seu governo vai dobrar e triplicar as restrições planejadas e ampliar o veto a todos os sabores que não sejam o de tabaco, incluindo as populares versões de menta e mentol.

A Juul comunicou que apoia as ações agressivas contra os produtos saborizados, mas muitos na indústria reagiram com alarme.

Gregory Conley, presidente da Associação Americana de Vaporizadores, disse que o cigarro eletrônico ajudou milhões de americanos a largar os cigarros tradicionais e avisou que uma ofensiva fiscalizadora tão abrangente pode criar um ?mercado paralelo multibilionário. A proibição nunca funcionou?, disse.

Nem todos estão convencidos de que os planos da Casa Branca vão se materializar. ?Pode acabar sendo apenas um discurso duro, disse Conley. A Agência de Remédios e Alimentos (FDA), até agora falou muito, mas agiu pouco, acrescentou Growe.

Joelle Lester, do Centro de Leis de Saúde Pública, da universidade Mitchell Hamline School of Law, disse que a intervenção presidencial tem potencial para ser um ponto de virada importante, mas que declarações públicas de preocupação não são o mesmo que ações significativas em saúde pública.

O lobby da indústria foi bem-sucedido nos EUA em suas tentativas para evitar as restrições aplicadas em outros países. Em maio, analistas do UBS chamaram os EUA de o mercado de vaporizadores menos regulamentado do mundo. As recentes manchetes sobre doenças fatais, porém, mudaram a atitude em Washington.

As questões científicas quanto ao surto continuam pouco claras. A condição é detectada nos exames como sendo pneumonia, mas os pacientes não têm infecção: algo que os usuários estão inalando pode estar levando o sistema imunológico dos pulmões a reagir.

Como muitos dos que ficaram doentes vinham usando cartuchos com THC – a substância extraída da maconha -, uma teoria é que seus pulmões estão ficando inflamados em razão do óleo de vitamina E usado para diluir o THC.

Robert Tarran, professor do Instituto Pulmonar Marsico, da University of North Carolina, disse que pode haver uma correlação, em vez de uma relação causal, especialmente porque a medicina carece de registro de todos que podem ter sido afetados.

?A resposta é que não sabemos o que está causando isso neste momento, disse.

O professor Tarran integra um grupo de trabalho de cientistas que tenta descobrir a causa da doença e estuda os cigarros eletrônicos há cinco anos. Eles precisam estudar grandes amostras de usuários, com e sem os problemas pulmonares, para compreender se a doença pode ser causada apenas por algum produto químico em particular presente em alguns cartuchos ou se ela apenas se dá em determinadas pessoas, como é o caso da doença pulmonar obstrutiva crônica, que apenas afeta cerca de um terço dos fumantes.

Um dos desafios, disse Tarran, é que a FDA não obriga os fabricantes a informar os ingredientes do produto. A indústria vende milhares de sabores, cada um deles com fórmulas ligeiramente diferentes.

Temos que fazer engenharia reversa para tentar descobrir o que é e quais seus efeitos tóxicos potenciais, disse, acrescentando que é mais difícil em particular estudar o THC porque é ilegal.

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2019/08/26/o-que-depressao-tem-a-ver-com-doenca-cardiaca/

As autoridades estão divididas sobre até que ponto acreditar na hipótese de que a doença esteja ligada apenas a refis ilegais de THC. Nos EUA, a FDA alertou os usuários que é prudente evitar produtos com THC ou qualquer outro vendido ?nas ruas?. No Reino Unido, a agência governamental Saúde Pública da Inglaterra (PHE) comunicou que a maioria dos casos está relacionada a líquidos ilícitos para vaporizadores, algo que é mais ?regulado em termos de qualidade e segurança? no Reino Unido do que nos EUA.

Ativistas contra o tabaco estão atentos ao aumento repentino da preocupação pública com os cigarros eletrônicos. Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, deu US$ 160 milhões para apoiar os planos de cidades e Estados para banir os vaporizadores saborizados, depois da aprovação de leis nesse sentido em Michigan e San Francisco. Lester disse que estava ?cautelosamente otimista? quanto à aprovação de leis federais.

Independentemente de os planos do governo Trump se transformarem em uma proibição efetiva, a maior atenção política e científica sobre os vaporizadores pode, por si só, já ser suficiente para afetar as vendas.

As autoridades reguladoras agora estão sob pressão para agir, enquanto o professor Tarran e seus colegas cientistas correm para concluir sua investigação. Queremos chegar ao fundo desta situação muito incomum, disse Tru

Fonte: Valor Online

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