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Cannabis: 3 perguntas – cadeia produtiva, cânhamo e perspectivas

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Conversamos com Marcelo De Vita Grecco, co-fundador e CMO (Chief Marketing Executive) da Green Hub sobre o desenvolvimento da cadeia produtiva da cannabis no Brasil, a inserção do cânhamo no mercado brasileiro e os caminhos que a cannabis deve percorrer no futuro. A Green Hub é uma consultoria e aceleradora brasileira com foco específico na indústria da Cannabis.

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A cannabis é uma planta única que possui espécies como o cânhamo (hemp) e a maconha. O cânhamo tem alto teor de canabidiol (CBD) e baixo de tetrahidrocanabinol (THC). Ele não gera qualquer efeito psicoativo e tem mais de 25 mil aplicações industriais. Já a maconha, ao contrário, possui baixo teor de CBD e alto de THC. Ela tem efeitos psicoativos e pode tratar inúmeras doenças, mas foi usada para demonizar a cannabis.

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O mercado legal da cannabis apresenta cinco dimensões. A primeira engloba o cânhamo como uma Commodity. A segunda é a industrial, uma das mais prolíficas e que gera produtos não voltados ao consumo direto humano. A terceira é a de Saúde & Bem-estar, direcionada a produtos para o consumo direto humano, englobando, além do setor de alimentos e bebidas, a linha de produtos over-the-counter (OTC; venda sem necessidade de prescrição médica). A quarta é a do setor farmacêutico. A quinta e última engloba o uso adulto.

A Green Hub realizará no próximo dia 23 de outubro em São Paulo a terceira edição do Cannabis Thinking, principal evento de negócios do mercado legal de cannabis na América Latina. O evento reunirá mais de 60 experts do Brasil e do exterior para discutir os novos negócios em torno do uso medicinal e industrial da cannabis, bem como o cenário no Brasil e nos países da região. A conferência será sediada no CIVI-CO, polo de impacto cívico socioambiental, e terá a correalização do Centro de Excelência Canabinoide (CEC) e do Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas da Cannabis (IPSEC).

Como está a inserção do cânhamo no mercado brasileiro de cannabis? Quais são as oportunidades econômicas que ele representa?

Lamentavelmente, o cânhamo ainda é tratado pelas autoridades sanitárias brasileiras como uma planta com o mesmo psicoativo da cannabis, o tetrahidrocanabinol (THC). No entanto, o cânhamo, ou hemp, tem menos de 0,3% de THC, o que faz com que ele seja incapaz de provocar qualquer efeito psicotrópico ao ser humano. Por essa interpretação errônea, a sua produção e importação estão proibidas no Brasil pela portaria 344 da Anvisa, que joga no mesmo balaio variedades com e sem princípio ativo. Esse pequeno detalhe burocrático emperra o desenvolvimento pleno de uma cadeia produtiva sustentável do cânhamo no país.

A simples liberação para importação de derivados de cânhamo já traria efeitos benéficos para o mercado, na medida em que possibilitaria o desenvolvimento de aplicações da planta made in Brazil, com mão de obra brasileira, desenvolvimento de patentes nacionais, etc. Contribuiria, ainda, para o que classificamos de ecossistema do cânhamo brasileiro.

O cânhamo industrial tem mais de 25 mil possibilidades de aplicação. Ele pode ser usado na construção civil, com o concreto à base de cânhamo, e suas fibras garantem mais resistência e durabilidade para produtos da indústria têxtil. A planta também apresenta aplicação na produção de papel e celulose. Das suas sementes extrai-se o CBD para uso medicinal, além de aplicações nas indústrias alimentícias e de cosméticos. Além de toda essa versatilidade, a planta ainda tem uma pegada sustentável, pois pode ser utilizada como bioplástico e biocombustível, em substituição à matérias-primas fósseis. O aproveitamento do cânhamo é integral, sem contar a propriedade de fito-remediação de solos degradados.

Como você tem visto o desenvolvimento da cadeia produtiva de cannabis no Brasil?

Apesar da lenta tramitação no Congresso Nacional do Projeto de Lei 399 e das restrições da Resolução 344 da Anvisa, vejo o mercado brasileiro de cannabis bastante ativo. Bastaria apenas uma mudança na 344 para facilitar, por exemplo, a vida de startups que já desenvolvem pesquisas e negócios à base de cannabis. Dezenas delas contribuem com suas iniciativas para fortalecer as bases do mercado no Brasil. São empreendedores brasileiros que apostam nesse segmento, que tem um potencial de mercado de cerca de US$ 500 bilhões. No mundo, mais de 265 milhões de pessoas já tiveram algum tipo de acesso à cannabis. Só isso demonstra toda a dimensão e o porquê de todo o interesse neste mercado.

Na sua opinião, quais são os caminhos que a cannabis deve percorrer?

O Brasil precisa aprender com os erros dos seus vizinhos. Repito: é fundamental criar um ecossistema da cannabis, uma cadeia produtiva e um mercado interno que sustentem a produção do campo. Formatar as empresas, investir em pesquisa, desenvolvimento e tecnologia. Aprimorar as técnicas de produção de sementes e de sepas. Aperfeiçoar profissionais de várias áreas para atuar neste novo segmento de mercado é fundamental nessa estratégia.

Também é preciso romper as barreiras do preconceito. Ensinar a sociedade a não mais enxergar a planta como uma droga, explicando as diferenças e características de cada uma de suas vertentes, demonstrando os seus benefícios medicinais, a versatilidade para a indústria e o potencial que pode gerar em termos econômicos para o país.

Tudo isso para evitar que o País se torne mais um produtor e exportador de outra commodity agrícola, e importador de produtos elaborados no exterior, gerando receitas para outros países a partir de cannabis produzida em terras brasileiras.

O cultivo sem o respaldo da respectiva cadeia produtiva será um erro estratégico. No Uruguai, por exemplo, existe um gap entre a produção e a comercialização. No Equador, a mesma coisa: o cultivo foi legalizado, mas não tem para quem vender internamente.

O PL 399 está parado no Congresso, e com este atual governo de perfil conservador, dificilmente irá sair do papel no curto prazo. Contudo, isso vai acontecer mais dia menos dia. Para isso, temos de estar preparados, e não colocar a carroça na frente dos bois. A produção de cannabis no Brasil também não pode se tornar uma monocultura como a soja, por exemplo. Ela pode e deve gerar riqueza e oportunidades para as famílias do campo.

Fonte: Monitor Mercantil Online

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